AVANÇAM PROJETOS PARA ESCOAR GRÃOS PELO NORTE
Obras envolvem integração
intermodal, e custo do frete pode cair em 30%
Com forte
impulso dos interesses da China, começa a sair do papel no Brasil uma série de
projetos de transportes que deverão encurtar a rota entre a produção agrícola
no interior do país e a Ásia, pelos portos da Região Norte. Nos últimos meses,
iniciativas em hidrovias, rodovias e ferrovias registraram algum avanço para a
abertura da chamada saída Norte, ou Arco Norte, que poderá, segundo a
Confederação Nacional da Agricultura (CNA), reduzir em mais de 30% o custo do frete
da produção do Mato Grosso enviada ao exterior, o que poderia dar um adicional
de renda de 10% para o produtor de soja e de 20% para o de milho. Da porteira
da fazenda até o porto, o custo do transporte da produção brasileira é mais de
quatro vezes superior ao dos Estados Unidos, o que torna os nossos grãos mais
caros na chegada à China, apesar do menor custo de produção, diz a CNA.
A lógica
econômica da abertura do Arco Norte está no fato de os portos da região serem
mais próximos de EUA, Europa e Ásia. A distância em navio entre o Porto de
Itaqui (MA), por exemplo, e o Japão, via canal do Panamá, é 23% menor do que o
percurso entre o Porto de Santos (SP), de onde saem 85% da produção agrícola do
país, e Tóquio. Isso significa menos custo de combustível e menos tempo de
viagem.
CHINESES E
EUROPEUS INTERESSADOS
Os projetos
atraem, obviamente, investidores chineses, que já estão estudando a ferrovia
que liga o Mato Grosso ao Pacífico, por exemplo, e querem assegurar uma oferta
de bens agropecuários a preços acessíveis de maneira permanente. Mas a onda de
projetos também atrai outros estrangeiros, como os europeus. Mais tímidas nesse
movimento estão as empreiteiras brasileiras envolvidas na Operação Lava-Jato,
mas há um conjunto de grupos menores negociando com estrangeiros.
No dia 31
haverá um leilão de áreas de portos no Pará pela Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (Antaq). No último leilão, uma área no estado não teve
interessados. Mas, desta vez, o governo promoveu adequações e prevê uma
concorrência acirrada. Entre os terminais que serão leiloados, estão áreas para
transporte de granéis sólidos vegetais vindos do interior do país.
— Só o terminal
de Outeiro (PA) tem potencial para movimentar quase tudo o que já passa por
Paranaguá (PR) hoje — disse o consultor de logística da CNA, Luiz Antonio
Fayet.
Essa saída
pelo Norte, porém, depende de um arranjo logístico multimodal que o governo e os
empresários brasileiros tentam destravar há anos. Os projetos, basicamente,
procuram conectar por rodovias, trilhos ou hidrovias a produção do Centro-Oeste
aos portos do Norte.
O
lançamento, em fevereiro, do edital para derrocamento (retirada de rochas do
fundo do leito) do Pedral do Lourenço no Rio Tocantins, para que ele seja
navegável durante todo o ano, era esperado há mais de uma década pelo porto do
Pará, explicou o ministro dos Portos, Hélder Barbalho. A hidrovia, quando
perene, tende a ser mais barata e menos poluente do que outros modais.
— Enquanto a
(ferrovia) Norte-Sul não chega a Barcarena (PA), essa pode ser a alternativa de
ligação entre o ponto atual da ferrovia e Marabá, onde estão os portos — disse
Barbalho.
RODOVIA,
HIDROVIA E FERROVIA
Segundo
Valter Casimiro Silveira, diretor-geral do Departamento Nacional de
Infraestrutura Terrestre (Dnit), a abertura da hidrovia do Tocantins, que é
licitada pelo órgão, representará uma redução significativa dos fretes do
agronegócio daqui a cinco anos, quando a obra deve ficar pronta. O custo é
estimado em R$ 560 milhões. A licitação já apontou um vencedor para elaboração
de projetos, a DTA Engenharia, e a fase atual é de análise dos documentos da
empresa.
— Você
diminui o custo do frete e aumenta a competitividade dos nossos fornecedores no
mercado internacional — disse Casimiro.
Além da obra
que deve perenizar a hidrovia, que hoje só funciona poucos meses do ano, o
governo levou a audiências públicas, em fevereiro, a concessão do trecho da
BR-163 entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), de onde os grãos podem partir em
hidrovia até o exterior. O valor estimado da concessão é de R$ 6,6 bilhões.
Também foi anunciado para 2016 o leilão da ferrovia entre Lucas do Rio Verde
(MT) e Miritituba, com previsão de investimentos de R$ 9,9 bilhões, a chamada
Ferrogrão, que deve correr paralelamente à rodovia.
Os
produtores brasileiros veem com animação a saída Norte, mas apontam cuidados a
serem tomados na construção e concessão. Edeon Vaz Ferreira, consultor de
logística da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso
(Aprosoja) criticou na audiência pública do leilão da BR-163 o teto das tarifas
de pedágio, que fariam o trecho de Sinop a Miritituba custar até R$ 880 por
caminhão. A associação criticou também
a redução do
ritmo das obras de pavimentação da BR-163, enquanto o leilão não ocorre.
Os
movimentos pelos modais de transporte no interior do país também vêm
estimulando a instalação e a contratação de terminais nos portos nos estados do
Amazonas (Itacoatiara), da Bahia (Salvador e Ilhéus), do Maranhão (Itaqui) e do
Pará (Santarém e Vila do Conde). A CNA prevê que o fluxo por esses portos quase
triplique até 2025.
Segundo
Barbalho, essas iniciativas na abertura do Arco Norte representam um avanço
logístico no país no sentido da intermodalidade, o uso conjunto e concorrência
dos diversos tipos de modais, aumentando a atratividade dos terminais
portuários da região Norte. Ferreira, da Aprosoja, destaca, porém, que leva
pelo menos cinco anos para os terminais saírem do papel:
— O projeto
(de porto) que for licitado agora só começará a operar em 2021.
MAIS DA
METADE DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
A redução do
valor do frete na abertura da saída Norte do país está ligada também ao local
onde tem se concentrado — e deve avançar — a maior parte da produção
agropecuária do país. Segundo estudo de Fayet, é acima do paralelo geográfico
16° Sul de onde sai mais da metade da produção nacional, mas o consumo interno
naquela região é de um quinto do verificado na área brasileira mais ao sul.
Além disso, um estudo técnico que circulou no governo no ano passado apontou
que essa área do Centro-Oeste tem uma produção agrícola menos vulnerável a
variações climáticas mais severas.
A
articulação dos empreendimentos para abertura do Arco Norte foi acompanhado
diretamente pela presidente Dilma Rousseff, que vê nessas ações um potencial
legado logístico. Com os soluços do Programa de Investimentos em Logística
(PIL), que ainda não conseguiu leiloar uma ferrovia, por exemplo, o governo
vem, cada vez mais, concentrando esforços nos principais eixos de transportes,
dos quais o Arco Norte é o de investimentos mais vultuosos.
Fonte/Foto: Danilo Fariello, em
oglobo.com/economia – Nana Vieira
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