O ESTADO DA SAÚDE





- publicado por Lúcio Flávio Pinto

Finalmente iniciado o ano com o fim do carnaval, o belenensese  se dedica agora a duas caças: ao repelente e à raquete de eletrocutar mosquito. O alvo é o enorme contingente de aedes aegypt que se restabeleceu com toda força na cidade e é o transmissor das principais viroses que assolam e assustam os moradores de Belém, com seu 1,5 milhão de habitantes, população expandida para dois milhões na área metropolitana.
A mais recente virose não é a mais agressiva. Perde para a dengue, por exemplo, já personagem do dia a dia há alguns anos. Mas tem impacto maior por ter sido associada à microcefalia em bebês. A ciência ainda não provou a relação de causa e efeito entre a zika (via aedes) e a doença, mas a simples hipótese (coincidindo com o incremento da lesão no corpo em gestação) já foi o bastante para o pânico.
Daí a enorme procura por repelentes. Testei um deles apenas uma vez na vida, indo para uma das muitas áreas com malária que percorri como jornalista no interior da Amazônia. Senti-me tão incomodado na pele que nunca mais usei. Um amigo, que se lambuzava periodicamente, pagou caro por esse hábito.
Na época praticamente não havia opções. Hoje há vários tipos de repelentes, dos mais baratos aos mais caros e (por efeito) dos melhores (por serem mais naturais) aos piores, como aqueles de que se dispunha anos atrás.
Como a maioria da população é pobre, não deve estar caçando produtos mais sofisticados. Além de onerar o orçamento doméstico antes mesmo de saber que realmente a zika provoca o dano no ser intrauterino, vai estar se sujeitando a efeitos colaterais negativos.
A outra caça é às raquetes elétricas de matar mosquito, preciosa invenção dos chineses. Elas imediatamente dobraram de preço: de 10 para 20 reais. Apesar desse assalto à economia popular, a demanda não foi inibida. O passo atual na exploração é a venda de gato por lebre.
Os atravessadores estão entregando raquetes já usadas ou recicladas (ainda não deu para definir). A energia é suficiente apenas para o teste à frente do freguês e mais algum uso. Depois deixa de funcionar.
Já é o momento para uma intervenção oficial capaz de investir sobre estoques especulativos, manobras fraudulentas e outros atos lesivos ao cidadão.
O governo podia até mesmo importar essas raquetes e adotar um esquema de revenda, condicionada a preço máximo de transferência ao consumidor. Isso, enquanto as pesquisas não definem quem é quem nessa mais recente virose no mercado, o que os mais otimistas esperam acontecer dentro de dois meses, com uma ressalva: na caça à zika, o Brasil está atrás até de países africanos.
 

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