MÉDICO QUE COLOCOU GARRAFA PET EM BEBÊ DIZ QUE IMPROVISAÇÃO É CORRIQUEIRA NAS UNIDADES DE SAÚDE
Alailson Ferreira, que improvisou máscara com garrafa
PET, defende o procedimento e fala da falta de equipamentos nas unidades
públicas
De acordo com o médico que
atendeu os prematuros, procedimento foi improvisado, mas ajudou a salvar uma
vida (Divulgação)
O clínico geral Alailson
Ferreira, 48, responsável por improvisar uma máscara de venturi feita com
garrafa PET para atender duas crianças recém-nascidas na Unidade Hospitalar de
Jutaí, no último dia 27, disse na última quarta-feira (3) ao Portal A Crítica
que o fato é “corriqueiro” e chega a ser
“algo natural trabalhar improvisando nas unidades de saúde no interior do
Estado”.
O médico disse que a
unidade de saúde do município (a 750 quilômetros de Manaus) tem uma incubadora
para recepção de prematuros, mas há anos
aguarda a ida de um técnico para instalação do equipamento. “Desde a gestão da
outra diretora que solicitamos um técnico para instalação da incubadora e nunca
fomos atendidos” disse.
Ferreira destacou que os
gêmeos nasceram com problemas respiratórios e as máscaras feitas com PET foram
o melhor procedimento para que pudesse estabilizar o quadro. “As máscaras que
tínhamos eram grandes e estava dando muita evasão, ou seja, havia muito
oxigênio e pouco aproveitamento. Por isso adaptei uma máscara ao tamanho do
rosto das crianças, que melhorou muito o quadro de saúde delas”.
Ele lamentou que um dos
bebês tenha vindo a óbito horas após o nascimento, mas enfatizou que a máscara
de venturi improvisada com garrafa PET não contribuiu para a morte da criança.
“O Gabriel apresentou boa reação quando nasceu. A Gabriele não chorou e teve
duas paradas cardíacas ainda pela madrugada. Quando cheguei ao plantão de manhã
improvisei a máscara e eles reagiram bem, mas ela teve outra parada cardíaca e
não resistiu”, contou.
Quanto à alta médica dada
à mãe e a criança que sobreviveu, Ferreira explicou que ele passou três dias
respirando por meio da máscara de venturi improvisada e no quarto já
apresentava melhoras. “Ele era tirado da incubadora para mamar e sugava forte.
Ficava rosado, aparência de uma criança bem oxigenada, e não tinha sinais de
problemas respiratórios, por isso demos alta. Mas advertimos a mãe para ficar de prontidão e qualquer
coisa voltasse ao hospital imediatamente”.
Remoção
Em relação à falta de
pedido de remoção destacado pela Secretaria de Estado de Saúde (Susam), o
médico disse que o apoio aeromédico foi solicitado, mas a prioridade era
estabilizar o quadro daqueles bebês. “Em nenhum momento se chamou a atenção aos
riscos da remoção. A transferência deles tanto por balsa ou por aeronave seria
prejudicial de imediato e poderíamos ter perdido os dois no transporte até a
capital”, frisou.
Ferreira reforçou que o
serviço de telemedicina não funciona para esse tipo de serviço. “A telemedicina
não funciona para urgência, quando conseguimos que ela funcione por falta de
internet é para questões de laudos e diagnósticos” concluiu.
Bebê segue estável
O recém-nascido
transferido da Unidade Hospitalar de Jutaí permanece internado na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) da Maternidade Ana Braga, na Zona Leste de Manaus. De
acordo com os médicos, o quadro clínico do bebê está mais estável, mas ainda é
considerado grave e inspira cuidados.
Conforme o boletim médico
emitido pela unidade de saúde, onde o bebê encontra-se internado, desde a
última segunda-feira, há previsão de que, ainda na quarta-feira, o bebê seja
extubado (retirada a intubação traqueal), passando a fazer uso de CPAP nasal
(aparelho que envia fluxo contínuo para as vias respiratórias).
De acordo com as
informações dos médicos, que atendem a criança, ele está recebendo alimentação
parenteral (por sonda), com o leite da própria mãe.
Sobre o caso da máscara
feita com PET, o diretor da Unidade Hospitalar de Jutaí, Miriney de Oliveira,
informou que as pessoas não entendem a realidade na saúde do interior. “Quem
não trabalha na saúde desconhece as dificuldades, fazemos aqui de tudo para
salvar vidas mesmo sabendo que nada é tão comum e fácil” afirmou.
Fonte:
Silane Souza – acrítica.uol.com.br
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