ARTIGO: BR-163 E A SURDEZ DO GOVERNO
Com uma produção de soja
de quase 100 milhões de toneladas e a necessidade de escoar boa parte desse
volume pelo trecho Sinop (MT) - Santarém (PA) da BR-163, em direção aos portos
do Norte e Nordeste, produtores, exportadores e caminhoneiros se preparam para
as costumeiras dificuldades, entre março e agosto deste ano.
Há quatro décadas, uma das
rodovias mais perigosas do país está abandonada. Não se vislumbra solução à
altura dos recordes anuais de produção agrícola.
A má notícia da vez é que
o governo sinaliza que não pretende asfaltar os 120 quilômetros cruciais do
trecho Norte, com crateras e pontes de madeira escoradas por pedaços de pau,
por onde transitam caminhões com mais de 50 toneladas de carga. Os solavancos
danificam os veículos e, pior, levam a acidentes fatais.
Há mais de um ano, a
Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) tem exposto ao
Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) a necessidade de
ações emergenciais para garantir o escoamento na época das chuvas e a conclusão
da BR-163.
No começo de janeiro, o
presidente da Abiove obteve o compromisso da secretária-executiva do Ministério
dos Transportes, Natália Marcassa de Souza, e do diretor de infraestrutura rodoviária
do Dnit, Luiz Antonio Garcia, de que aconteceriam as ações emergenciais no
período das chuvas e as obras de construção e manutenção antes da licitação.
Para isso, o governo
dotaria o Dnit de verba para quitar parte das dívidas com as construtoras envolvidas
nesses projetos. Entretanto, qual não foi nossa surpresa, no dia 19 de janeiro,
ao nos depararmos com as minutas de editais e de contratos da ANTT (Agência
Nacional de Transportes Terrestres) para a licitação do trecho norte da BR-163,
nas quais estão previstas as obras demandadas pela Abiove em caráter de
urgência.
A expectativa da Abiove
era a de que a licitação ocorresse com a rodovia pronta, situação que daria aos
vencedores a responsabilidade de manutenção da estrada mediante cobrança de
pedágio.
Ao se eximir do
compromisso de concluir o trecho norte da BR-163, o governo contribui para
agravar a situação crítica do escoamento da safra deste ano, que será maior do
que a de 2015. Presume-se que a licitação possa tardar e, com isso, continuem
todos os transtornos.
Além de falhar em sua
responsabilidade de oferecer infraestrutura adequada para o tráfego das
riquezas do Centro-Oeste, o governo frustra as expectativas de empresas
associadas à Abiove, que investiram
pesadamente em terminais
portuários do Arco Norte (que engloba Norte e Nordeste do país), assumindo que
a rodovia seria totalmente asfaltada e que pontes adequadas ao tráfego seriam
construídas.
Os portos do Arco Norte
com acesso pela BR-163 são os de Miritituba e Santarém, na hidrovia do Tapajós.
Eles compreendem os terminais localizados nas regiões Norte e Nordeste e serão
responsáveis pelo escoamento de parte da produção do Centro-Oeste e da região
conhecida como Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), que hoje é
exportada pelos terminais do Sul e do Sudeste, e da nova produção que virá nos
próximos anos.
Ao desprezar a opção por
ações emergenciais e obras de construção e manutenção da BR-163 antes da
licitação, o governo esquece a principal via de escoamento de grãos do
Centro-Oeste e prejudica o próprio Brasil.
Fonte/Ilustração: CARLO LOVATELLI, presidente da Associação Brasileira das Indústrias
de Óleos Vegetais – Abiove, para folha.uol.com.br/Troche


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