‘JÁ DEIXEI BEM CLARO: SÓ LUTO SE FOR PELO TÍTULO’, DIZ JOSÉ ALDO EM ENTREVISTA



Quase um mês após perder o cinturão, José Aldo não desiste da  revanche e reafirma o orgulho de suas raízes amazônicas.
A letra de um samba composto pelo paulista Paulo Vanzolini nos anos 60 e que ficou conhecida nas vozes de cantores como Noite Ilustrada e Beth Carvalho, tem no refrão uma frase que de tão famosa, acabou virando uma espécie de “mantra” motivacional: “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.
A música se encaixa perfeitamente no momento vivido pelo lutador amazonense José Aldo Júnior, de 29 anos. Desde sua queda diante do irlandês Conor McGregor, no dia 13 de dezembro do ano passado – em uma luta que durou 13 segundos – Aldo viu seu reinado no Ultimate Fighting Championship desmoronar. A derrota lhe custou o cinturão dos penas do UFC, o topo do ranking peso por peso do Ultimate (ele caiu para a 7ª posição) e acabou com uma invencibilidade de dez anos do casca grossa nascido e criado no bairro do Alvorada, na zona Oeste de Manaus.
Aldo virou alvo de duras críticas, seus pedidos de revanche foram ignorados pela direção da organização e ele ainda vive um momento de indefinição na carreira.
Ele, porém, começou a “sacudir a poeira” nas últimas semanas. Aldo voltou aos treinamentos, foi classificado pela conceituada revista “Forbes” como um dos 30 esportistas mais influentes do planeta e resolveu subir o tom das críticas aos chefões do Ultimate. A principal indignação do amazonense é o fato de seu algoz, Conor McGregor, ser o próximo desafiante ao cinturão dos leves  (categoria acima da de Aldo).
Mesmo se o irlandês for derrotado pelo carioca Rafael dos Anjos, no dia 5 de março, ele permanecerá com o cinturão dos penas. Se vencer, o “falastrão” se tornaria dono de dois cinturões, algo inédito na história do Ultimate. O prestígio de McGregor irrita, mas não tira o grande objetivo de Aldo para 2016: recuperar o título no UFC e “dar a volta por cima”.
Em conversa por telefone com o jornal A CRÍTICA na última quinta-feira (14), o lutador revelou que desembarca em Manaus na próxima semana para recarregar as energias na terra natal. Ele ainda deve fazer um evento beneficente aqui no fim de fevereiro. Sobre seu futuro no MMA, José Aldo abriu o coração, desabafou e mostrou o orgulho que tem em carregar o nome do Amazonas.

Você ainda está no período de suspensão médica, mas voltou aos treinos. Já está visando sua próxima luta?
Eu estou treinando bem leve ainda. Até porque recebi uma suspensão médica até fevereiro. Só estou rolando no jiu-jítsu, fazendo musculação, para manter a forma. É só “caô” mesmo (risos). Não sei ainda qual será meu novo passo no UFC, quando será a minha próxima luta. Estou no aguardo dos caras. Só depois que definir isto vou poder intensificar os treinos.

A direção do UFC já negou uma revanche imediata com McGregor. Nesta semana você fez novas críticas a Dana White. Não teme nenhum tipo de retaliação por parte deles?
Cara, eu vivo o amanhã. Não fico pensando no que vai acontecer. Por enquanto vou esperar o que os caras da direção do UFC vão decidir. Só que eu já deixei uma coisa bem clara e vou reafirmar isso aqui para você: Eu só luto se for pelo título. Logo após minha derrota para o McGregor, o Dana White me procurou no vestiário e disse que eu enfrentaria o Frankie Edgar na próxima luta, valendo novamente o cinturão dos penas, já que o McGregor subiria para a categoria dos leves e deixaria o cinturão vago.
Agora, pelo que eu vejo, tudo mudou né? Olha, eu passei quatro anos pedindo para subir de categoria sem perder meu cinturão dos penas e o UFC jamais permitiu isso.  Sempre teve uma justificativa. Eu estou pronto para lutar no momento em que eles solicitarem, mas não abro mão da minha posição. Só luto pelo título. Se todo mundo que perdeu o cinturão teve direito a uma revanche imediata, por que tem que ser diferente comigo?
O McGregor parece estar com muito prestígio junto aos donos do UFC... Tá parecendo que ele manda mais do que eles. A direção deu “muita asa” para o McGregor. Tudo bem, ele foi o campeão, teve os méritos dele para me derrotar, mas estão fazendo concessões para ele que nenhum lutador do UFC teve! Entendo que o Ultimate é uma organização privada, respeito as decisões deles, mas eu também tenho direito de fazer as minha exigências. Se não for isso, com certeza muita coisa prometida não será cumprida. O McGregor é um cara que deve dar um bom retorno financeiro, mas o UFC também sabe o quanto o mercado brasileiro é importante para a organização. E que estas pessoas querem me ver lutando. Tenho conversado muito com o Dedé (Pederneiras, treinador de Aldo) sobre isso. E nossa postura é aguardar o que os caras vão falar.

Você já conseguiu absorver a derrota para o McGregor? Muita gente continua te apoiando, mas as críticas que você recebeu também foram duras. Teve até quem levantasse a hipótese de `luta manipulada`. Como você recebeu todas essas reações do público?
A derrota foi dura, fiquei realmente muito triste, pois queria seguir com o cinturão, mas tenho que seguir em frente. Logo após a luta vi milhões de pessoas me apoiando. Foi algo instantâneo e eu sinceramente não tinha a noção de quanto carinho as pessoas tinham por mim. Isso me deu muita força naquele momento. Quanto às criticas, sei que isso sempre vai acontecer com quem perde. Tem gente que acha que a história de um atleta se apaga com uma derrota. É normal. Acho até que aqueles que mais me criticaram, na verdade, queriam um dia chegar onde eu cheguei. Eles são uma minoria. Os verdadeiros fãs que me acompanham sempre estão ao meu lado. E posso te garantir que por onde eu passei desde a derrota, as pessoas me pararam para cumprimentar, me dar um apoio, um carinho. Ninguém gosta de perder, mas essa admiração e o respeito que recebo me deixam feliz demais. Esse é o meu gás para seguir lutando e recuperar o cinturão.

Agora em janeiro, você foi incluído em uma lista da revista Forbes como um dos 30 atletas abaixo de 30 anos mais influentes do planeta. Como recebeu essa notícia?
Fiquei muito feliz em fazer parte desta lista. Tantos nomes importantes e o meu, de repente, aparece lá. Foi algo inesperado mesmo. Não tinha noção de que eu era tão influente assim para as pessoas no mundo. Aparecer em uma lista que tem Sergio Aguero (atacante argentino) e Stephen Curry (jogador de basquete americano) mostra que estou no caminho certo e que não devo abaixar a cabeça para nada. Não esperava, mas adorei esta oportunidade. Profissionalmente, isto também pode me abrir novas portas.

Você planeja vir a Manaus neste período em que aguarda sua próxima luta?
Cara, quero chegar aí em Manaus no máximo até a semana que vem. Estou só resolvendo algumas coisas, mas vou passar algumas semanas na minha cidade para recarregar. Hoje eu moro no Rio de Janeiro, construí boa parte da minha carreira aqui, mas jamais esqueci  de onde eu vim. Nunca neguei minhas raízes de amazonense amo a minha terra. Levanto a bandeira do Estado mundo afora. Antes, algumas pessoas talvez tivessem vergonha de dizer que eram amazonenses, por conta de todo o preconceito que rolava em outros Estados. Mas hoje em dia, sei que estas mesmas pessoas têm orgulho de dizer que são ‘da terra do José Aldo’. Sempre tive orgulho em representar o Amazonas em cada lugar por onde passei. E sou grato demais ao carinho que recebo das pessoas no Estado, seja quando estou por aí ou pelas mensagens que recebo pela internet. Como forma de agradecimento, estou organizando um jogo de futebol beneficente aí. No mesmo estilo daquele “Amigos do Aldo x Amigos do Delmo” que fizemos no ano passado na Arena da Amazônia.  Espero rever os amigos, minha família, relaxar e curtir bastante nessas próximas semanas.

Você pode adiantar mais alguma coisa sobre essa partida beneficente de futebol?
Quero fazer no dia 27 de fevereiro se tudo der certo. Ano passado foi uma festa bem bonita na Arena, ajudamos muita gente. Desta vez eu espero que seja ainda melhor. Gosto de ter esse contato com o povo amazonense. Já convidei alguns amigos. Ontem, joguei uma bola com o Bebeto (tetracampeão do mundo) e ele confirmou que vai participar conosco novamente. Chamei também o Denílson (pentacampeão do mundo), o Fernando Pires (cantor) e o Felipe Simas (ator). Vai uma galera boa fazer essa festa aí para os amazonenses.  Acho que até o fim da próxima semana teremos tudo definido e aí vamos divulgar.

Você atuou em algumas peladas beneficentes no fim de ano. Vi em uma de suas redes sociais, um relato de um encontro com o Roberto Carlos, ex-lateral esquerdo da Seleção. Parece que foi uma experiência emocionante para você...
Aquele momento meu com o Roberto Carlos foi algo de fã mesmo. Foi uma realização de um sonho de criança. Pude jogar com ele em Uberlândia (MG). Parecia que eu não estava vivendo aquilo. Eu cresci vendo o Roberto Carlos jogar na Seleção, no Real Madrid. E de repente estava ali com ele, tocando bola, conversando. Foi algo muito pessoal mesmo, viver algo que eu só via pela TV. Eu recebi um lançamento dele durante o jogo que me emocionou de verdade. Na hora eu não sabia se eu chorava ou se jogava (risos). Depois do jogo a gente conversou um pouco. Ele me deu muita moral, disse pra eu não baixar a cabeça, que eu era um campeão. Outras pessoas como o Falcão, o Robinho e o Denílson também tiveram esse carinho. Sou muito agradecido por isso.

O filme que conta sua vida tem previsão de estrear nos cinemas?
O filme está rodado, quase pronto. Mas os caras deram uma segurada no lançamento por conta da minha derrota para o McGregor. A intenção é até lançar o filme perto de minha próxima luta. Será até mais interessante. Estamos alinhando algumas ações promocionais e logo em breve teremos novidades.

PERFIL: José Aldo Júnior
idade: 29 anos
profissão: lutador de MMA
cartel: 25 vitórias e duas derrotas
experiência:  ex-campeão dos penas do Ultimate Fighting Championship (UFC) e do World Extreme Cagefighting (WEC). Foi eleito o melhor lutador do planeta em 2011, ano em que faturou o World MMA Awards, considerado o ‘oscar’ do MMA.

Fonte/Foto: Adan Garantizado – A Critica/Denir Simplício

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