COMUNIDADES RIBEIRINHAS DO ENTORNO DE BELÉM RECEBEM TURISTAS EM CASA
O calor é de matar. Os
termômetros marcam 40ºC, mas é a roupa grudada na pele suada que dá o melhor
indício da temperatura. O sol amazônico castiga o asfalto de Belém, capital
paraense cujo aniversário de 400 anos foi comemorado no último dia 12, e
transforma a cidade em uma verdadeira estufa.
A falta de ventos,
bloqueados pelos altos prédios que foram erguidos nos últimos anos, só deixa
uma opção ao belenense e ao turista: pegar um barco, singrar os rios e
descansar à sombra da mata de uma das 47 ilhas que formam a região
metropolitana.
À medida que a embarcação
se afasta da cidade pelas águas enlameadas do rio Guamá, os edifícios dão lugar
a palmeiras de açaí e castanheiras que podem chegar a 80 metros de altura.
Ruas se transformam em
igarapés e em furos –pequenos rios com casas à margem. As motocicletas se
tornam rabetas (lanchas), enquanto ônibus viram os popopôs: barcos de madeira
que transportam a população entre Belém e os arredores e que recebem esse nome
por causa barulho repetitivo do motor.
Um dos principais destinos
é a ilha do Combu. Nos fins de semana e feriados, moradores da cidade
atravessam o 1,5 quilômetro que separam a capital e o lugar em busca dos diferentes
restaurantes e bares para comer, beber e, é claro, dançar tecnobrega.
Lembre-se: estamos na
terra de Joelma, Ximbinha (que adotou o "X" desde o fim da banda
Calypso) e Gaby Amarantos. Mesmo na mata, o som dos pássaros rivaliza com a
batida eletrônica.
Para o turista, uma das
opções é o restaurante Saldosa Maloca (assim mesmo, com "L"), com
comidas típicas como tambaqui na brasa (R$ 75, para duas pessoas) e o prato Dom
Alcides (R$ 63, a porção individual), que leva arroz com jambu, um vegetal
usado na gastronomia local que pode deixar a boca dormente.
Entre o almoço e a
sobremesa, de preferência um picolé de açaí, é possível entrar no rio e se
refrescar.
Seguindo pelas águas do
furo, a mata passa a ficar mais densa e a abafar as caixas de som dos
restaurantes. É onde está a propriedade de dona Nena, que planta cacau à beira
do rio e produz um chocolate concentrado usado em receitas de restaurantes como
os do chef Alex Atala, em São Paulo.
O visitante é recepcionado
com uma mesa farta de café regional, feito por ela com produtos plantados ali.
As visitas precisam ser agendadas pelo telefone (91) 99616-0648 e custam de R$
40 a R$ 70.
Outros moradores também abrem
as portas de suas casas, onde é possível conhecer de perto a vida dos
ribeirinhos. Em Boa Vista do Acará, ainda no rio Guamá, é seu Ladir, 74, quem
recebe os turistas.
Há mais de dez anos ele se
senta em um banquinho no quintal e mostra castanhas-do-pará recém-caídas no
solo a grupos curiosos. Com um facão, corta a casca até aparecer a carne branca
da semente. As galinhas ficam em polvorosa para tentar roubar algum pedaço.
Após passar por igapós,
áreas alagadas propícias para o nascimento de palmeiras de açaí, é hora do show
de Ladir. Ele pega uma das folhas dessa árvore e a amarra aos pés. Usando-a
como apoio, escala rumo ao topo do tronco, que pode chegar a mais de 20 metros
de altura. "Só caí quatro vezes", garante.
O pôr do sol é sinal de
que é hora de voltar a Belém. No barco, à medida que prédios surgem no
horizonte, não é difícil ver rabetas com caixas de som prateadas rumo às festas
de aparelhagem, os famosos shows de tecnobrega. A noite está só começando no
Pará.
Fonte/Foto:
Bruno Molinero – www1.folha.uol.com.br/Bruno Molinero
O jornalista viajou a convite do Festival
Internacional do Chocolate e Cacau
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