ARTISTAS DE PARINTINS SÃO DESTAQUES NO JORNAL CARIOCA O GLOBO
Artistas vindos de Parintins retocam dragão de uma das
alegorias da Beija-Flor de Nilópolis
RIO – Neste carnaval, o
céu será o limite. Ou quase isso. No primeiro desfile com o Sambódromo sem a
torre de TV — usada por cinegrafistas e fotógrafos e que limitava em 9,75
metros a altura de alegorias que passavam perto do setor 11 da Sapucaí —, as
escolas de samba resolveram arriscar e fazer carros mais altos. Será um desfile
de gigantes, um ano depois de a Águia Redentora da Portela, já antológica, ter
impressionado com seus 21 metros. E, desta vez, a corrida para deixar o público
boquiaberto terá mais apostas. Das surpresas que vazaram, uma escultura de Dom
Quixote na Mocidade, com 18 metros, sai na frente como candidata a maior
grandalhona da passarela. Mas outras escolas também estão dispostas a fazer do
tamanho de seus carros um documento.
Não é que não haverá
obstáculos pelo caminho. No lugar da torre antiga, demolida em julho do ano
passado, será construída uma estrutura desmontável, com 12 metros de altura.
Segundo o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge
Castanheira, ela ficará praticamente no mesmo lugar da anterior. E sua parte superior
avançará cerca de quatro metros sobre a área de desfile. Ou seja, o que for
mais alto terá que passar pelo canto oposto à torre ou deverá ter algum
mecanismo para abaixar.
ESCULTURA É GUARDADA
AGACHADA
Esse é o desafio que terá
a Mocidade, com seu Dom Quixote gigante no abre-alas. O “colosso” da verde e
branca está quase pronto. Por enquanto, fica lá agachado, digamos, para caber
no barracão da Cidade do Samba, cercado de cuidado para não ser visto antes da
hora. Mas, quando se levantar na avenida, será um dos trunfos da escola para
conquistar o público e tentar voltar a brilhar entre as campeãs — o que não
acontece desde 2003.
— Será um carnaval
grandioso. O objetivo é voltar a brigar pelas primeiras posições — afirma o
vice-presidente da escola, Rodrigo Pacheco.
O dirigente garante que a
escultura grandalhona não será a única da verde e branca. Quase todos os
carros, diz ele, terão de 11 a 12 metros de altura. Num deles estará um Sancho
Pança, com 12 metros. Além disso, as sete alegorias terão movimentos. No caso
do Quixote, vai mexer a face, as mãos e as pernas. A escola está investindo em
engenharia e toma providências para não tropeçar no gigantismo e atravessar na
harmonia e na evolução.
Uma vantagem, diz Pacheco,
é que os independentes contam com a expertise do mesmo carnavalesco que
idealizou a Águia Redentora portelense: Alexandre Louzada, que assina o desfile
ao lado de Édson Pereira. A escola também trabalha com três equipes do Festival
de Parintins, no Amazonas. São cerca de 40 profissionais especializados.
grandes alegorias com movimentos. E foi contratada ainda uma empresa de
engenharia mecânica. Isso porque, além dos riscos na avenida, da Cidade do
Samba até a Sapucaí o trajeto continua repleto de barreiras, como árvores e
rede elétrica.
— Todos os carros vão sair
do barracão com 5,5 metros de altura. Só ganharão o tamanho original na
concentração. Estamos mapeando o que poderia dar errado para evitar problemas —
diz o vice-presidente da Mocidade.
Cautela parecida é tomada
pela Beija-Flor, atual campeã do carnaval. Nenhum carro passará dos 12 metros.
Por outro lado, todas as sete alegorias da azul e branca vão alcançar a medida
da torre móvel, quase resvalando na estrutura. Fran-Sérgio, um dos
carnavalescos da escola de Nilópolis, diz que o desejo era até que elas fossem
mais altas. Mas, como no início da preparação do desfile não havia certeza
sobre a construção da nova torre, optou-se por não ir além. Ano passado, conta
ele, apenas um carro passava dos 9,75 metros de altura. Um mecanismo fazia com
que a parte mais alta da alegoria, uma embarcação com velas gigantes, abaixasse
para cruzar o trecho da antiga torre. Este ano, poder subir a dimensão dos
carros, garante o carnavalesco, já foi um alívio.
— Não exageramos. Vamos
continuar com o padrão da Beija-Flor, de alegorias imponentes. Mas o espetáculo
cresceu. Se fosse confirmado que não haveria a torre, tinha aumentado mais um
pouquinho. O certo, para mim, é que nem haja torre alguma — defende
Fran-Sérgio.
Assim como a Mocidade, são
artistas de Parintins que estão ajudando a dar forma e cor às alegorias da
escola de Nilópolis. São dez ao todo, encarregados de grande parte da pintura,
da ferragem e dos movimentos dos carros. Chefe dessa equipe vinda do Amazonas,
Kennedy Prata conta que, no festival do Norte, as alegorias podem ultrapassar
os 20 metros de altura. Para este ano, por exemplo, ele prepara uma que terá 25
metros para o Boi Garantido. Mas ele pondera que há diferenças entre os dois
espetáculos.
— Na Sapucaí, os carros
fazem parte de um desfile, têm que se locomover pela passarela. Em Parintins,
não há tanto deslocamento. O bumbódromo tem formato circular, e a apresentação
é mais teatral — diz ele, um dos responsáveis, por exemplo, por um dragão de
oito metros de altura na frente de uma das alegorias, que representará o
período do Império no enredo sobre o Marquês de Sapucaí, nobre que dá nome à
avenida em que foi construído o Sambódromo.
Já na Vila Isabel, que
homenageará Miguel Arraes, o carro do Galo da Madrugada, que encerrará o
desfile da azul e branca, atingirá 14 metros de altura. Será a mais alta das
alegorias da escola do bairro de Noel Rosa e Martinho. Mas as demais não
ficarão muito atrás: vão variar entre 10,5 e 11 metros.
PORTELA TERÁ GULLIVER DE
15 METROS
Dona de imagens que
marcaram os dois últimos carnavais, a Portela é outra escola que vai às
alturas. Com Alexandre Louzada, além da Águia Redentora do ano passado, em 2014
a escola de Oswaldo Cruz e Madureira já tinha arrebatado a avenida com um
gigante de 18 metros, que se abaixava ao longo do desfile. Agora, com Paulo
Barros, a azul e branca terá outro, que se levantará na passarela, chegando a
15 metros: Gulliver, um dos personagens do enredo sobre as grandes viagens da
história da humanidade. Mas o carnavalesco abre uma discussão e avisa: a altura
não será gratuita.
— Meu conceito nunca foi
de altura, que as pessoas adoram considerar como inovação. Acho desnecessário,
até bobo. Não me baseio nisso. O carro que me consagrou, o do DNA (na Unidos da
Tijuca, em 2004), foi o menor que fiz, com sete metros de largura por sete de
altura. Por que correr um risco de não conseguir descer a peça na avenida? No
caso do Gulliver, os 15 metros foram propostos por uma questão de estética. Eu
precisava que as pessoas se tornassem pequenas diante dele. Não conseguiria
isso se eu não fizesse um monstro — diz Paulo Barros.
O pensamento é parecido
com o de Fábio Ricardo, carnavalesco da Grande Rio. Na escola de Duque de Caxias,
a média de altura dos carros também aumentou. Só o abre-alas, que representará
a Fonte do Itororó no desfile que cantará a cidade de Santos, terá 12,5 metros
de altura. Para chegar a esse porte — e somente depois de passar pelo Viaduto
Trinta e Um de Março, ao lado do Sambódromo —, serão usados dois mecanismos
para subir partes da alegoria: um hidráulico e outro com cabos de aço. Mas ele
diz não ver sentido numa corrida para as alturas na Sapucaí.
— Na Grande Rio não vai
ter boneco gigante. Às vezes um carro grande não passa informação alguma e pode
ter péssimo acabamento — opina.
Fonte/Foto: Jornal
O Globo/RJ – Jornal da Ilha – Parintins/AM – Leo Martins
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