EM MANAUS-AM, GRUPO DE MORADORES DE RUA TRANSFORMOU ESPAÇO PÚBLICO EM UMA ‘CASA A CÉU ABERTO’
No local, em frente ao Parque São Raimundo, denominado
por eles de 'A Praça é Nossa', há cama, colchões, televisão, sofá, mesa,
geladeira, uma espécie de fogão a lenha e até um banheiro improvisado, além de
muito lixo espalhado pela margem do igarapé
Paralelo ao novo cartão
postal da cidade - o Parque Rio Negro - separados apenas pela ponte Senador
Fábio Lucena, que liga o bairro de São Raimundo ao bairro de Aparecida, um
grupo de pelo menos 19 moradores de rua vive em um “acampamento coletivo” em
uma área pública desde janeiro.
No local, denominado por
eles de “A Praça é Nossa”, há cama, colchões, televisão, sofá, mesa, geladeira,
uma espécie de fogão a lenha e até um banheiro improvisado, além de muito lixo
espalhado pela margem do igarapé.
O grupo, formado por
homens e mulheres, passa os dias e as noites embaixo de uma grande mangueira e,
quando chove, busca proteção debaixo da ponte. Eles alegam que não têm para
onde ir. Afirmam também que “são trabalhadores e foram parar no local após a
desapropriação dos moradores por conta do Programa Social e Ambiental dos
Igarapés de Manaus (Prosamim)”. Alguns são de Manaus, outros vieram do interior
do Estado.
Geraldo da Silva Araújo,
44, um dos membros do grupo, disse que é morador de rua desde que se separou da
ex-mulher. Mesmo dormindo na rua, ele conta que acorda 3h para trabalhar na
feira da Panair. “Eu trabalho vendendo peixe. Ninguém aqui tem emprego com
carteira assinada, mas todo mundo faz algum bico para conseguir seu dinheiro”.
Alguns têm casa, mas por
conta de não se darem bem com familiares acabam morando nas ruas. É o caso de
Charles Júnior, 61, mais conhecido como “Verdureiro”. Ele tem uma filha que
mora no bairro Cidade de Deus, Zona Norte, mas
prefere viver na praça, onde todos gostam dele. Para ganhar dinheiro,
trabalha fazendo papagaio, os quais vende por R$ 1,50, cada. “Meu sonho é
juntar o dinheiro para comprar uma ‘rabetinha’ e trabalhar vendendo peixe no
entorno da cidade”.
Valter de Souza Silva, 50,
revela que mora na rua porque não tem para onde ir e nem dinheiro para pagar
aluguel. No “A Praça é Nossa”, conta, ele encontrou uma sociedade de moradores
de rua que ajudam uns aos outros. “Aqui não aceitamos vagabundos e nós não
mexemos com ninguém. Graças a Deus comida não falta”, revelou.
Ele destaca que o grande
problema é que não tem ninguém que os ajude a ter um lugar para morar. “Se
tiver ajuda para sair daqui, ir para um canto melhor, nós aceitamos”, relatou.
Enquanto isso não acontece, o grupo continua transformando a praça em uma
“sociedade alternativa”.
A reportagem do jornal A
CRÍTICA entrou em contato com a Secretaria Municipal da Mulher, Assistência
Social e Direitos Humanos (Semmasdh), e também com o Programa Social e
Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), mas não obteve resposta.
Fonte/Foto: Silane
Souza - A Critica/Antonio Lima
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