DEPOIMENTO: AOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL, MEU SINCERO OBRIGADO
- por Thomas Mendel (*)
Em uma viagem ao Acre, Thomas Mendel, coordenador do
grupo de voluntários do Greenpeace no Rio de Janeiro, conheceu o povo Ashaninka
e sua luta pela preservação da floresta. Leia o relato.
“Tive a oportunidade de
passar uma semana ao lado dos índios Ashaninka que vivem na aldeia Apiwtxa, às
margens do rio Amônia, no Acre, a três horas de barco do povoado mais próximo.
Até agora, o lugar onde me senti mais bem acolhido.
Eles são belos.
Fisionomia, trajes e pinturas perfeitas. Todos muito bondosos e de braços
abertos para receber a equipe que ficaria com eles ao longo de cinco dias.
Hotel, como dizem, de um milhão de estrelas. Mesmo sem lua, a noite é clara.
Manchas brancas e rabiscos luminosos como eu nunca tinha visto.
Sempre ficava atento a
cada conversa que tínhamos. Em meio a sorrisos, era possível perceber o peso de
quem vive diariamente a luta contra o desmatamento e a extração de madeira
ilegal.
No final do século
passado, eles conquistaram a demarcação de seu território, uma vitória. Era
comum ao anoitecer o barulho da motossera calar a voz da natureza, e, pelo que
relataram, a cada noite o som chegava mais perto da aldeia. Para eles, uma
árvore tombada é como se uma pessoa fosse assassinada. Por mais que seja
doloroso, ainda preferem destruir a madeira do que deixar ela ser levada
embora.
Sempre foram um “atraso”
para os madeireiros. Por isso, em momentos mais tensos, tinham medo até de
beber a água do rio onde vivem, com receio dele ter sido envenenado.Hoje, são
uma exceção. Tem o território razoavelmente protegido e por serem articulados
conseguem fazer alianças como forma de segurança e preservação.
Mesmo assim, no ano
passado quatro Ashaninka foram assassinados e ainda são ameaçados
constantemente. Quando um deles é morto, os mais antigos tem o trabalho de
acalmar os mais novos que ainda tem sede de vingança. Dizem que essa reação
transformaria a situação num ciclo sem fim e provocaria o extermínio do povo.
Ashaninkas do lado peruano
ainda fogem para o Brasil. Lá as leis são mais brandas e abrem muitas brechas.
É comum índios serem escravizados para trabalharem na derrubada do que é a
fonte de vida para eles.
Apesar de tanta pressão,
festejam como ninguém a celebração da vida e ensinam aos que estão próximos a
melhor maneira de se conectar com o meio onde vivem.
Acredito que a maioria dos
que estão lendo esse texto são de uma cidade onde os rios estão poluídos, o
solo está coberto por concreto e pouco espaço ainda resta para o verde. Também
vivo nesse lugar.
E se ainda temos parte da
floresta em pé e com a biodiversidade preservada, os povos das florestas tem um
papel fundamental nisso. Após ter tido essa experiência me sinto ainda mais no
dever de lutar pelo nosso futuro.
Me sinto na obrigação de
agradece-los, diariamente batalham e dão a vida por uma causa que é de todos.
Fica aqui o meu eterno
agradecimento e respeito por aqueles que foram mortos e aos que ainda estão na
luta.”
- (*) Thomas
Mendel é coordenador do grupo de voluntários do Greenpeace no Rio de Janeiro
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