A MÁQUINA DA MORTE




- por Lúcio Flávio Pinto (*)   21 de setembro de 2015    
De cada 100 mil brasileiros, 25 morrerão ao longo de um ano em acidentes de trânsito. Serão 50 mil mortos e 500 mil feridos quando o ano terminar. É uma guerra civil não declarada. Mesmo com todas as medidas adotadas para combatê-la, ainda prevalece esta possibilidade: quer acertar as contas com um inimigo, monte num veículo automotor e o mate. Nenhuma arma é menos atraente. Com o uso de outras, a punição dada ao matador será muito mais grave.
Se alguém acha que essa consideração é exagerada, deverá se lembrar que 58 mil americanos morreram durante os 16 anos da guerra que travaram no Vietnã, a maior desde a Segunda Guerra Mundial. Mais de 2,5 milhões de americanos serviram nessa guerra.
O morticínio nas vias de tráfego do Brasil poderia estar diminuindo se por elas não passassem a trafegar, em volume extraordinariamente crescente, as motocicletas. Embora elas representem um quarto da frota nacional de veículos, são responsáveis por 580 mil das 800 mil indenizações (ou 76% do total) pagas todos os anos, das quais 4% (quase 23 mil casos) por morte, 82% (474 mil) por invalidez e 14% (83 mil) por despesas médicas.
Ou seja: metade das 50 mil mortes anuais no selvagem trânsito brasileiro são de pessoas que estavam em uma moto. Quase meio milhão de cidadãos ficam inválidos todos os anos por trafegarem nessas máquinas perigosas, letais nas incivilizadas ruas do país. É espantoso e revoltante.
Há um dado que agrava a situação para nós. Um quarto das motocicletas que circulam pelo Brasil estão na cidade de São Paulo. Mas os paulistas não admitiram até hoje os mototáxi. Seu problema é imenso com os motoboys, mas sem a dimensão do nosso.
Não satisfeita com essa figura periculosa, a prefeitura de Belém decidiu aceitar a duplicação da frota. O anúncio foi feito numa loja de venda desses veículos, beneficiária não só pelo incremento da comercialização das máquinas como dos seus acessórios, despesa à parte da regularização do meio mais perigoso de transporte de passageiros.
Belém é medieval mesmo.


- (*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém


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