HIP-HOP COM LEVADA INDÍGENA ATRAI JOVENS DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA-AM




Mesmo sem apoio financeiro externo, o projeto de Angenê representou São Gabriel da Cachoeira no Modama, em Manaus.
Há 11 anos à frente do projeto ‘Grupo Dança de Rua Brasil’, o estudante de Educação Física Angenê Gregório da Silva, de 29 anos, da etnia Baré, tem a difícil missão de ensinar hip-hop a crianças e adolescentes de um dos municípios com maior número de indígenas do Brasil: São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros de Manaus.
Criado em 2004, o projeto, que tem a finalidade de introduzir a cultura do rap e do hip-hop na comunidade indígena, encontrou resistência dos anciãos, pais de alguns alunos. “Por não conhecerem a dança, a julgaram como coisa de marginal e atribuíram os casos de violência do município a ela e aos seus praticantes”, contou Angenê.
Para contornar o problema, Angenê teve de fazer reuniões com os pais para explicar o que era a dança nova que ele estava levando para a comunidade. “Em 2005, comecei a fazer palestras e reuniões com os pais dos alunos que frequentavam os treinos e, depois, passei para as escolas. Com isso, a aceitação foi maior e pude constatar que as crianças e jovens buscavam apenas uma forma de lazer e ocupação. Com isso, conseguimos uma significativa diminuição da violência, entre outros fatores de risco”, avaliou o professor.
Com o crescimento do projeto, Angenê acabou levando a iniciativa para outros bairros, sempre pensando na iniciativa como uma forma de lazer e ocupação para os seus jovens praticantes. “A dança foi muito bem no primeiro bairro, o Areal. Só no primeiro ano, cheguei a ter, aproximadamente, cerca de 80 alunos. Em seguida, passei para o bairro do Dabrú, onde a aceitação não foi diferente do primeiro”, disse ele, ressaltando que as duas localidades eram consideradas as mais violentas do município.
A evolução do projeto
Tendo entrado em contato com o mundo do rap e do hip-hop, pela primeira vez, em 2002, aos 16 anos, por meio de vídeos de dança, Angenê, juntamente com um amigo, começou a praticar o street dance. “O nosso primeiro trabalho foi com o grupo chamado Goodem Boys Dance, no qual todos os sete integrantes eram indígenas. Após dois anos, o grupo se desfez. Em 2004 retornei aos estudos, na Escola Dom João Marchese, e, lá, dei início ao projeto Grupo Dança de Rua Brasil”, informou o dançarino.
Mesmo sem contar com qualquer tipo de apoio financeiro, Angenê conseguiu dar continuidade ao seu projeto de forma consistente e satisfatória. “Em 2009, representamos, pela primeira vez, o município de São Gabriel na 15ª Mostra de Dança de Manaus (Modama), quando tive a oportunidade de mostrar o meu trabalho e levar 15 alunos do projeto. No mesmo ano, idealizamos a Mostra de Hip-Hop de São Gabriel, que, neste ano, terá a sua sétima edição no mês de novembro”.
Já em 2012, Angenê teve uma nova oportunidade de vir a Manaus, na 18ª edição da Modama, dessa vez, com sete integrantes.
Para ele, o próximo passo é conseguir um local próprio para o desenvolvimento de seu trabalho. “Meu principal objetivo é ter um local adequado para a dança, com estrutura que atenda aos meus mais de cem alunos”, adiantou Angenê, que se orgulha ao dizer que todos os seus pupilos possuem um direcionamento exemplar.
Quando questionado sobre como fica a questão de suas raízes indígenas em meio às influências estrangeiras, Angenê não titubeia: “Estou fazendo o que gosto sem deixar a minha  cultura de lado. Tenho uma pluralidade de crianças e jovens de etnias diferentes que se entendem através da dança”.

Fonte/Fotos: Tiago Melo – portal@d24am.com/Divulgação

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