TRABALHADORES DE TODO O BRASIL, UNI-VOS!
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Confronto entre PM e professores, no Paraná. |
- por Ib Sales Tapajós (*)
Neste
ano, o dia 1º de maio possui um significado especial diante da conjuntura
nacional, marcada pela ofensiva do conservadorismo contra direitos históricos
conquistados pela classe trabalhadora.
Dois
dias antes do Dia do Trabalhador, os trabalhadores da educação do Paraná foram
duramente reprimidos pela Polícia Militar, a mando do governador Beto Richa, do
PSDB. O que ocorreu em frente à Assembleia Legislativa do Paraná não foi um
confronto, como noticiado pela grande mídia, e sim um atentado brutal e covarde
da PM contra a classe trabalhadora e as liberdades democráticas, que deixou
mais de 200 feridos.
Os
professores do Paraná iniciaram a reação contra o ajuste fiscal em 2015. Com a
forte greve deflagrada em fevereiro, o Governo Beto Richa retirou de pauta o
pacote de austeridade enviado à Assembleia Legislativa.
O
retorno do projeto que ataca o ParanaPrevidência, em abril, provocou um novo
levante dos trabalhadores da educação, desta vez reprimidos com brutalidade que
deve ser condenada por toda a sociedade brasileira.
Em
dois outros estados governados pelos tucanos, a intransigência da cúpula
governamental levou os trabalhadores da educação à deflagração de greve: São
Paulo, de Geraldo Alckmin, e o Pará, de Simão Jatene. Neste último, a
propaganda falaciosa do Governo Jatene busca esconder a iminente redução dos
salários de milhares de professores em todo o Estado.
Dilma
e Levy comandam, de Brasília, os ataques à classe trabalhadora.
Mas
não são apenas os governos tucanos que têm promovido ataques contra os direitos
sociais e trabalhistas. Foi o Governo Dilma quem deu o pontapé inicial do novo
ciclo de austeridade que recai sobre os que vivem do trabalho.
Sob
orientação do ultraliberal ministro da Fazenda Joaquim Levy, a presidente Dilma
Rousseff editou, em 30 de dezembro de 2014, as Medidas Provisórias nº 664 e
665, no intuito de reduzir gastos com direitos trabalhistas e previdenciários,
como o seguro-desemprego, auxílio-doença e seguro-defeso.
Talvez
o ataque mais duro tenha sido a mudança nas regras do seguro-desemprego, que
exigem agora 18 meses de trabalho formal para acesso ao benefício (sendo que
antes o período de carência era de 6 meses).
Isso
é muito grave diante de um cenário nacional marcado por altas taxas de
rotatividade nos postos de trabalho – segundo Ruy Braga, sociólogo e professor
da USP, o trabalhador brasileiro tem ficado, em média, apenas 14 meses
empregado. [1]. Os jovens trabalhadores serão os principais prejudicados, pois
vivenciam as maiores taxas de desemprego.
Nunca
é demais lembrar que estes ataques partem de uma presidente que afirmou em
campanha recente que não mexeria nos direitos trabalhistas, “nem que a vaca
tussa”. Pois bem, com as MP´s 664 e 665, o governo federal busca gerar uma
economia de R$ 18 bilhões este ano – à custa, é claro, da degradação do
trabalho assalariado.
PL
da Terceirização: ameaça brutal ao Direito do Trabalho
Pouco
depois de Dilma editar as MP´s 664 e 665, a Câmara dos Deputados deu outro
“presente” à classe trabalhadora, aprovando o Projeto de Lei nº 4.330 (da
terceirização), com velocidade surpreendente, graças às manobras de Eduardo
Cunha (PMDB/RJ).
Trata-se,
nas palavras de Ricardo Antunes, do “mais virulento e forte ataque do
empresariado aos direitos do trabalho obtidos ao longo de um século e meio de
lutas” [2].
A
terceirização, que ganha espaço no Brasil desde a década de 1990, tem sido
limitada, por força da Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), às
chamadas atividades-meio das empresas, com destaque para os serviços de
vigilância e limpeza.
Com
o PL 4.330/2004, porém, a exceção se torna a regra, pois o projeto abre as
portas para uma terceirização ampla e irrestrita, inclusive nas atividades-fim
das empresas. É isso que se extrai do art. 4º, § 2º, do referido projeto, que
prevê a possibilidade de contratação de empresas terceiras para prestação de
serviços inerentes à atividade econômica da empresa contratante. [3].
Na
prática, isso permitirá que uma Instituição de Ensino, p.ex., terceirize não
apenas os serviços de limpeza e vigilância, mas também o trabalho dos próprios
professores.
O
PL 4.330/2004 reflete uma clara estratégia empresarial de ampliação das taxas
de lucro, produzida por meio da redução dos custos do trabalho.
Uma
pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de Julho/2014, aponta que
85,6% das empresas que utilizam mão de obra terceirizada o fazem com o intuito
de reduzir custos [4], o que só é possível com o aumento da exploração da força
de trabalho.
Levantamento
feito pela CUT e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos [5], com base em dados do Ministério do Trabalho e em
informações fornecidas por sindicatos em todo o Brasil (referentes a Dezembro
de 2013), demonstra em números a crueldade da terceirização:
(a)
a remuneração média dos terceirizados é 24,7% inferior à dos empregados
contratados diretamente pelas empresas;
(b)
os terceirizados realizam jornada de trabalho semanal superior em 3 horas à dos
demais empregados;
(c)
o tempo médio de permanência no emprego entre os terceirizados é de 2,7 anos,
enquanto o dos trabalhadores diretos é de 5,8 anos.
Esses
números deixam claro que terceirização é sinônimo de precarização das relações
de trabalho. Hoje 26,8% dos empregados do mercado formal são terceirizados.
Caso o PL 4.330/2004 seja aprovado no Senado e sancionado pela Presidência da
República, esse percentual será ampliado de maneira estrondosa, provocando uma
redução dramática no nível de vida da população assalariada.
Derrotar
o PL da Terceirização deve ser, portanto, a tarefa prioritária da classe
trabalhadora brasileira.
Unir
a classe, contra o retrocesso, por mais direitos!
A
conjuntura nacional está marcada, portanto, pela ofensiva contra os direitos
trabalhistas, conquistados a duras penas em greves e manifestações. Os governos
e partidos que servem ao grande Capital estão fazendo de tudo para empurrar o
ônus da crise econômica para os trabalhadores. A maioria dos deputados
federais, na votação do PL 4.330/2004, mostrou possuir ao menos uma virtude: a
gratidão! (não ao povo que os elegeu, mas às grandes empresas que financiam
suas campanhas..).
A
unidade de ação da classe trabalhadora se mostra essencial neste momento. Só
uma luta forte e coesa dos vários setores da classe será capaz de reverter o
ajuste fiscal e derrotar o PL da terceirização.
O
dia nacional de paralisações (15 de abril) foi uma iniciativa importante, que
forçou o adiamento da votação final do PL 4.330 na Câmara, mas não foi
suficiente para derrota-lo nessa Casa. A proposição de uma greve geral feita
pela CSP-CONLUTAS e por outros setores do movimento sindical parece ser um
caminho necessário para fazer frente às investidas patronais. Esperar
passivamente pela rejeição do PL 4330 no Senado, ou pelo veto de Dilma, seria
um erro histórico catastrófico.
É
hora dos trabalhadores confiarem nas suas próprias forças. Como diz o Hino da
Internacional Socialista, composto pelo operário francês Eugene Pottier em
1871, “façamos nós por nossas mãos tudo que a nós nos diz respeito”.
Que
este 1º de Maio propicie uma reflexão profunda entre o conjunto dos
trabalhadores brasileiros. Os acontecimentos recentes em nosso país demonstram
que, apesar das elucubrações teóricas de um certo pós-modernismo, a História da
Humanidade continua sendo a História da luta de classes, como escreveu Marx em
1848. Cabe então à classe trabalhadora lutar para que a História caminhe para
frente, e não para trás.
[1]
Entrevista com Ruy Braga: “A terceirização é a grande expressão da tragédia do
trabalho no Brasil”. Disponível em: http://www.pstu.org.br/node/21375.
[2]
Entrevista com Ricardo Antunes: “O trabalho que estrutura o capital
desestrutura a sociedade”. Disponível em: http://esquerdasocialista.com.br/ricardo-antunes-o-trabalho-que-estrutura-o-capital-desestrutura-a-sociedade/
[3]
O PL 4.330/2004 pode ser acessado na íntegra na página: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=6E6F8D163A188EDCCBC1FF300B25A864.proposicoesWeb1?codteor=246979&filename=PL+4330/2004
[4]
Confederação Nacional da Indústria. “Sondagem Especial – Industria Total”.
Julho de 2014. http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_18/2014/08/13/6746/SondagemEspecialTerceirizacao.pdf
[5]
“Terceirização e desenvolvimento: uma conta que não fecha: / dossiê acerca do
impacto da terceirização sobre os trabalhadores” Secretaria Nacional de
Relações de Trabalho e Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos. – São Paulo: Central Única dos Trabalhadores, 2014. http://www.cut.org.br/system/uploads/ck/files/Dossie-Terceirizacao-e-Desenvolvimento.pdf
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(*) Ib
Sales Tapajós é advogado, membro da Direção do PSOL em Santarém.
Trabalha com sindicatos e movimentos sociais no oeste do Pará.
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