FUNAI E IBAMA COMBATEM GARIMPO ILEGAL NO PARÁ
Operação conjunta na Terra Indígena Kayapó destrói
máquinas e balsas usadas na retirada ilícita de ouro. Situação é vista em
outros territórios na região, onde muitas vezes índios se deixam aliciar por
garimpeiros.
Depois de dez dias de
combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena (TI) Kayapó, no Pará, chegou ao fim
nesta quarta-feira (22/04) a operação Rio Dourado 2. Os agentes de fiscalização
do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) e da
Fundação Nacional do Índio (Funai) foram surpreendidos por um grau até então
desconhecido de hostilidade. Pistoleiros receberam a equipe a tiros, e índios
kayapó capturaram um barco da Funai.
A reportagem da DW Brasil
acompanhou os dez dias de operação. Ao todo, foram desmanteladas quatro balsas,
duas escavadeiras hidráulicas, dois tratores, uma moto, duas carrocerias, um
caminhão, tambores com combustível e acampamentos usados por garimpeiros.
O trabalho na mata fechada
é tenso. Os agentes chegam de helicóptero, desembarcam rapidamente, destroem o
maquinário e deixam o local rapidamente para evitar conflito. Nem sempre isso é
possível.
No penúltimo dia da
operação, uma embarcação da Funai foi capturada por membros da aldeia Bananal,
próxima ao município paraense de Ourilândia do Norte. Mais cedo, agentes do
Ibama haviam destruído quatro balsas usadas no garimpo ilegal de ouro nas proximidades
da aldeia. A suspeita é de que o grupo kayapó que reteve o barco tenha ligação
com os garimpeiros que operavam as balsas desmanteladas.
O garimpo ilegal do ouro é
a maior ameaça na Terra Indígena Kayapó. A reserva tem 3 milhões de hectares de
Floresta Amazônica protegida. Em contraste com o verde da mata, as cavas
abertas por garimpeiros deixam uma degradação difícil de ser recuperada.
Dias antes, numa incursão
na área conhecida como garimpo do Santili, os agentes foram recebidos a tiros.
"Nessas áreas, encontramos de fugitivos da Justiça a pistoleiros",
diz Wilson Rocha, chefe de operações do Ibama.
A Funai tenta mostrar aos
índios os prejuízos da extração ilegal do ouro: a degradação do solo, a
contaminação dos rios por mercúrio e o aparecimento de doenças, como câncer. A
atividade é proibida por lei em terras indígenas, mas na falta de recursos
financeiros, os índios aceitam a oferta que vem de fora da aldeia.
"Quando você vê
índios envolvidos com o garimpo, não é a aldeia que se beneficia. São algumas
lideranças e suas famílias", afirma Marcelo Sauwen, agente do Ibama que
participou da operação. "Eles pegam o
dinheiro de quem oferecer.
E quem sempre ofereceu foram os garimpeiros."
Dinheiro sujo, dinheiro
limpo
Para fazer frente ao
aliciamento, uma das alternativas é direcionar às aldeias o dinheiro de
compensações que empresas devem pagar pelos danos ambientais causados por
empreendimentos na região. Um dos exemplos é o caso da Vale. Depois de dez anos
de negociações, a empresa repassou pela primeira vez, no ano passado, 1,7
milhão de reais para a Associação Floresta Protegida, que representa 18 aldeias
da TI Kayapó.
A condição para que a
aldeia receba o benefício é que ela não apoie ou esteja envolvida em atividades
ilegais na TI, como o garimpo ou extração de madeira. Segundo servidores da
Funai, neste ano, a associação ainda deve receber 2 milhões de reais da Eletrobras.
"Vamos cuidar das
Terras Indígenas. Entendemos que elas serão o último bastião de defesa da
Floresta Amazônica no Brasil, porque o índio está lá para defendê-las. É uma
minoria que se deixa aliciar", defende Luciano Evaristo, Diretor de
Proteção Ambiental do Ibama.
"Questão
delicada"
A presença de garimpeiros
não é um problema apenas na TI Kayapó. No território dos yanomami e munduruku,
por exemplo, também há relatos da atividade ilegal. Mas combater o crime nessas
áreas é ainda mais difícil: por envolver índios, alguns órgãos federais avaliam
a situação como "muito delicada" e preferem restringir suas ações.
Em 2012, uma operação
contra o garimpo na aldeia Teles Pires, da etnia munduruku, gerou confronto e
terminou com a morte de um índio por um delegado da Polícia Federal. Desde então,
a instituição se mantém distante desse tipo de operação.
"Precisamos de apoio
dos outros órgãos. Só com o Ibama e a Funai vai levar mais tempo para ganharmos
essa causa", diz Rocha.
Como a Funai não tem o
poder de fiscalização, a entidade pediu ajuda ao Ibama em 2014. O instituto tem
uma espécie de força policial ambiental e conta com nove helicópteros para
combater crimes ambientais em todo o país. Ao todo, cerca de 30 agentes estão
habilitados a participar de operações de grande risco, como a Rio Dourado 2.
Apesar de restrito, o
trabalho conjunto já deu resultados. A primeira operação para expulsar
garimpeiros foi em outubro do ano passado. Balsas, escavadeiras, tratores e
outros equipamentos foram desmantelados. Em fevereiro deste ano, a Funai fez um
novo monitoramento e constatou que boa parte dos garimpos continuava
desativada.
Fonte/Foto:
dw.de/Nádia Pontes
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