MEIO AMBIENTE EM 40 ANOS, AMAZÔNIA PERDEU 42 BILHÕES DE ÁRVORES, DIZ RELATÓRIO
Até o ano passado, o
desmatamento acumulado na Floresta Amazônica, em 40 anos de análise, somou
762.979 quilômetros quadrados (km²), o que corresponde a três estados de São
Paulo ou a 184 milhões de campos de futebol.
É o que revela o relatório
O Futuro Climático da Amazônia, coordenado pelo pesquisador Antonio Donato
Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe).
O relatório, divulgado na
tarde desta quinta-feira (30) reúne várias estudos feitos sobre a região e é
destinado à população leiga.
O objetivo é universalizar
o acesso a mais de 200 estudos e artigos científicos e diminuir o que o
pesquisador chama de “ignorância” sobre os problemas ambientais.
Nobre calcula que a
ocupação da Amazônia já destruiu 42 bilhões de árvores, ou seja, mais de 2 mil
árvores por minuto, de forma ininterrupta, nos últimos 40 anos.
Somando-se o desmatamento
e a degradação (que considera áreas verdes, mas inutilizadas) da floresta, a
destruição da Amazônia alcança mais de 2, 062 milhões de km².
De acordo com o relatório,
o desmatamento pode pôr em risco a capacidade da floresta de rebaixar a pressão
atmosférica, exportar sua umidade para outras regiões pelos chamados “rios
voadores” e regular o clima, induzindo à seca.
Os efeitos sobre a Região Sudeste,
mais especificamente no estado de São Paulo, que enfrenta uma grande seca,
ainda estão sendo estudados, mas Nobre acredita que parte disso seja reflexo do
desmatamento da Mata Atlântica e do aquecimento climático.
“Estamos na UTI
climática”, afirmou o pesquisador, comparando o problema do clima ao de um
paciente internado em um hospital. Segundo Nobre, é difícil prever se o
“paciente” – no caso, a Amazônia – vai reagir, embora ainda exista uma solução
para o problema.
“Quando se está no
processo de UTI no hospital, o médico vai dizer a que horas você vai morrer?
Não vai. Depende do seu organismo e de muitos fatores, e o que o médico pode
fazer é o que está ao alcance dele: informar. O que estou fazendo é informando
[sobre o problema ambiental na Amazônia]. E acho que tem uma solução:
desmatamento zero para anteontem e replantar em esforço de guerra. Mas, antes
disso, um esforço de guerra real é acabar com a ignorância”, enfatizou.
De acordo com Nobre, o
esforço para zerar o desmatamento é insuficiente, já que é preciso também
confrontar o passivo do desmatamento acumulado e dar início a um processo de
recuperação do que já foi destruído.
“É preciso plantar árvores
em todos os lugares, e não só na Amazônia”, ressaltou o pesquisador, lembrando
que não podem ser plantados somente eucaliptos, como ocorre atualmente, já que
esta não é a espécie mais indicada para trazer chuva.
Para ele, o governo tem
uma grande tarefa a realizar e esse trabalho deve ser feito em conjunto com o
Ministério Público, a Justiça, as organizações não governamentais (ONGs) e,
principalmente, os cientistas, repetindo algo que foi feito após 2004, quando o
Brasil alcançou o pico de área desmatada ([27,7 mil km²).
“É possível fazer acordos
e todos os setores serem beneficiados”, afirmou.
Apesar de o desmatamento
estar se reduzindo nos últimos anos, o Brasil ainda é o maior desmatador do
mundo, afirmou Cláudio Amarante, da ONG WWF Brasil.
“Pelos dados que temos
hoje, por tudo o que reduziu, o Brasil ainda é o maior desmatador do mundo,
embora dependa de como isso é medido. O Brasil tem dez anos de redução de
desmatamento, mas os países andino-amazônicos vêm em processo contrário: há um
crescimento do desmatamento. Após o Brasil, vêm a Bolívia, o Peru, a Colômbia,
a Venezuela e o Equador, do ponto de vista absoluto [de área desmatada].”
De acordo com Amarante, o
controle do desmatamento no Brasil está entrando agora em sua fase mais
difícil: a de combate às pequenas manchas de desmatamento, pouco visíveis por
satélites.
“Até agora, o que foi
possível foi conter o desmatamento que era mais fácil, o mais flagrantemente
ilegal, das áreas maiores e de maior detecção. Agora vamos ter que combater as
pequenas manchas de desmatamento e as feitas por pequenas propriedades ou
assentamentos”, afirmou.
Fonte/Foto:
Agência Brasil
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