ENERGIA: PARÁ PRODUZ, E PAGA MAIS.



O fator que menos contribui para a grave crise das empresas do setor elétrico brasileiro é a estiagem. A falta de chuvas reduziu dramaticamente o nível da água nos reservatórios das hidrelétricas, que respondem por mais de 70% de toda energia produzida no país. O mal maior, porém, é a sucessão de erros do governo federal cometidos com sua política energética.
O mais imediato e o mais grave foi a redução em 20% da tarifa no ano passado imposta pelo governo. A medida foi primariamente eleitoreira e populista, escorada na suposição de que o setor dispunha de gordura suficiente para se submeter a uma lipoaspiração drástica.
O corte foi adotado quando o governo já vinha transferindo recursos através de outras providências do mesmo teor. Acreditava que bastaria querer para reajustar e reacomodar uma atividade cara e complexa como a geração, transmissão e distribuição de energia por um país do tamanho – e com a população – do Brasil. Pura incompetência.
O reajuste brutal da tarifa não integra esse rosário de erros. Em reunião na semana passada, o Comitê de Política Monetária (o Copom) elevou de 14% para 16,8 % a previsão de aumento na energia elétrica até o final deste ano. Para o conjunto de preços administrados por contrato e monitorados pelo governo federal, a variação projetada é de 5% em 2014, o mesmo valor considerado na reunião de julho. Conclui-se que o setor elétrico está sendo privilegiado, qualquer que seja a razão desse favorecimento. E a Celpa está acima do limite mais alto dos reajustes que avançam muito além dessa projeção, nos píncaros dos 34.
O governo não é estúpido para adotar iniciativa antipopular e de profundo impacto negativo às vésperas da eleição. Se não deixou para adotá-la depois de outubro é porque já não dá mais para segurar a máscara de artificialidade colocada sobre o rosto da nação. Os fios de sustentação começam a ser estourados pela realidade concreta, que tem mais efeito do que o câmbio artificial, as manobras contábeis, o subsídio contra a inflação e tantas maquiagens feitas e em curso.
O Pará é o exemplo mais grave desse reajuste impudico. Afinal, em seu território está a maior hidrelétrica inteiramente nacional e foi justamente nele que a agência federal aplicou o índice mais alto, de 34%. Os empresários tentaram pelo menos o aumento que ficasse na média nacional dos últimos aumentos, de 25%, em si um escândalo diante do índice inflacionário (que dela vai agora se alimentar). A Aneel rejeitou as gestões e manteve a medida.
O aumento a mais para o Pará também se explica pela situação complicada da distribuidora de energia, a Celpa, que estava em condição pré-falimentar até entrar no regime de recuperação por um complicado processo na justiça. A venda da empresa estadual foi mais um caso de privatização mal feita e, a partir dela, um péssimo acompanhamento da sua atuação. O grupo Rede canibalizou a Celpa em proveito dos seus outros negócios, que acabaram ruindo. Com uma diferença: em condições mais favoráveis do fora do Pará. Antes de uma nova recuperação judicial, a União interveio e assumiu o negócio.
A saída veio de fora, pela Equatorial Energia, do Maranhão. Seguiu-se o cantochão de sempre, o mesmo coro monocórdio que só entra em cena quando o leite está derramado e o fato se consumou. O Pará não merece mesmo o Pará que tem.
Fonte/Foto: publicado originalmente por Lúcio Flávio Pinto em lucioflaviopinto.wordpress.com/Arquivo AA

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