ALTA TAXA DE HOMICÍDIOS TORNA AMAZONAS UM DOS ESTADOS MAIS VIOLENTOS DO PAÍS
Série histórica de 13 anos mostra o Amazonas entre os
12 mais violentos do País, inclusive com recorde de morte de mulheres
Números preocupam: só no primeiro semestre deste ano,
mais de 240 adolescentes e jovens com idade entre 15 e 25 anos foram
assassinados, em Manaus
Durante o ano de 2012, a
taxa de homicídio no Amazonas em pessoas maiores de 14 anos foi 40% maior que a
taxa nacional, fato que posiciona o Estado entre os 12 mais violentos do País.
Do total de 1.282 homicídios ocorridos naquele ano, aproximadamente 93% foram
em homens, em geral, solteiros, jovens e com baixa escolaridade.
O retrato da alta
mortalidade por homicídio no Amazonas, no entanto, não é uma questão nova e tem
agravantes no caso das mulheres. Análises da evolução dessas taxas durante o
período de 2000 a 2012 mostraram uma forte e consistente tendência de aumento
do índice de mortalidade entre as mulheres, nas quais se observou aumento de
157% no índice de assassinatos, mesmo com a aprovação da Lei Maria da Penha, em
2006.
As constatações são do
pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Jesem Orellana
e colaboradores, em pesquisa que visa analisar a evolução e a distribuição
espacial das taxas, assim como as características das mortes atribuídas aos
homicídios no estado do Amazonas, em uma série histórica que vai do ano de 2000
ao ano de 2012.
As análises deram especial
atenção aos municípios de Manaus, onde estão concentrados 80% dos casos de
homicídios registrados no Estado, e Tabatinga (a 1.105 quilômetros de Manaus)
por ser um município de elevada vulnerabilidade econômica, social e de saúde.
Os dados são do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde (SIM/Datasus).
Arma de fogo
Para ambos os sexos, a
arma de fogo foi usada em 65,6% das agressões, mas especificamente contra a
mulher, 40,9% dos homicídios foram praticados com armas brancas (principalmente
facas). Jesem chama atenção para a elevada Taxa Ajustada de Mortalidade por Homicídio
(Tamh) no Amazonas, que foi de 50,1 por 100 mil habitantes, bem como para o
risco de mortalidade por homicídios nos homens em relação às mulheres, que foi
12,9 vezes maior.
A faixa etária que
apresentou a maior taxa foi a dos jovens de 15 a 24 anos, isto significa que, a
cada 100 mil pessoas, o risco de óbito por homicídio foi de 45,1. “Isso é
extremamente preocupante porque são jovens que farão falta no futuro”,
explicou.
Os dados são mais
alarmantes, segundo o pesquisador, porque o homicídio representa o estágio
limite da violência, que quando avaliada mediante o uso de taxas (indicador de
mortalidade que leva em consideração a população em risco ao homicídio) nota-se
que as regiões mais violentas do País são a Nordeste e Norte, onde o Amazonas ocupa
lugar de destaque.
“Nossa expectativa era de
que houvesse queda desses índices ao longo dos 13 anos avaliados, por conta da
regulamentação e implementação de políticas públicas por parte dos Governos
Federal e Estadual, como o estatuto do desarmamento e a Lei Maria da Penha, por
exemplo. Porém, para a nossa surpresa, o que houve foi um aumento significativo
dessas taxas”, argumentou.
“Esses dados não deixam
dúvidas quanto a importância dos homicídios no Amazonas, uma situação de
considerável gravidade que deve ser alvo de reflexões e ações do poder
público”, afirmou o pesquisador. Do contrário, disse ele, estaremos
comprometendo de forma dramática o futuro da nossa sociedade, uma vez que essas
perdas, principalmente as ocorridas entre os jovens, devem impactar
negativamente não só na expectativa de vida da população do estado, como também
na força produtiva das próximas gerações.
Jovens e mulheres
O aumento da taxa de
homicídios de 157,1% em relação às mulheres é preocupante, segundo Jesem
Orellana. “Praticamente duplicou o
índice de mortalidade de mulheres nos 13 anos pesquisados”, relatou, lembrando
que isso pode ter uma relação tanto com a questão do aumento da visibilidade da
mulher no mercado de trabalho, quanto com o fato de, atualmente, as mulheres
terem mais condições de fazerem denúncias contra agressores.
Para ele, o despertar das
mulheres, assim como da sociedade civil em relação a garantia dos direitos da
mulher, via denúncias ou intervenções legais, pode ser motivo de amplificação
do descontrole por parte do agressor, desencadeando situações de violência
extrema, neste caso o homicídio. A Lei Maria da Penha também incentivou as
mulheres a registrar a violência recebida.
América Latina
Enquanto as taxas de
mortalidade por homicídio estão diminuindo em boa parte dos países da América
Latina, no Brasil essas taxas se mantiveram estáveis, mas com grandes
diferenças entre as regiões e estados do País. Estados da Região Sudeste como o
de São Paulo e Rio de Janeiro apresentaram tendência de queda em suas taxas de
homicídio nos últimos anos, no Amazonas e Bahia, aconteceu o inverso de Manaus.
Fonte/Foto: Ana
Célia Ossame - acrítica.uol.com.br/Luis Vasconcelos
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