GUIA RÁPIDO PARA NÃO SER MASSA BURRA DE MANOBRA NAS ELEIÇÕES – PARTE 2
Por Leonardo Sakamoto*
Regras. Todos precisamos
de regras. Afinal de contas, sua ausência nos levaria ladeira abaixo direto à
várzea pantanosa da barbárie, não é mesmo? Por isso mesmo, este blog vagabundo
traz a segunda parte do “Guia rápido para não ser massa burra de manobra nas
eleições''. O guia retoma discussões já feitas neste espaço, reunidas de forma
a ajudar o leitor/eleitor.
Nesta edição, trago
algumas regras para cobertura eleitoral que, apesar de serem amplamente
conhecidas por jornalistas, não são costumeiramente publicadas. Talvez por
falta de recursos para impressão.
Mas como Moisés usaria um
spam para divulgar os mandamentos se hoje vivesse (economizando as tábuas de
pedra, preservando, assim, a natureza e sendo politicamente correto), um post
está de bom tamanho para o registro.
As regrinhas foram
reunidas em conjunto com amigos que são grandes repórteres e conhecem como
ninguém o universo das redações, o funcionamento da mídia e os botecos que
vendem pastel, sarapatel e buchada onde os candidatos se refestelam, ao tentar
mostrar que, apesar de não parecer, são sim gente do povo.
Registre-se que é uma
parte da imprensa que segue esses mandamentos, nem todo mundo. E, também se
registre que eles não são monopólio de um grupo que segue determinada linha,
portanto as regras valem onde couberem. Inclusive os veículos que apoiam PT,
PSDB, PSB, entre outros, nas eleições. “Ah, mas o jornalismo é imparcial e
ninguém apoia ninguém.'' Sabe de nada, inocente.
Vamos a elas:
1 – Deve existir, pelo
menos, um colunista fixo livre para fazer insultos, propagar preconceitos,
soltar impropérios, publicar boatos. Os textos desses colunistas não precisam
ter relação com os fatos. Eles também não precisam responder por aquilo que
assinam. Basta que escrevam com empáfia e mostrem comportamento arrogante
diante de qualquer tentativa de diálogo.
2 – Será ignorada toda
reclamação contra matérias mal apuradas, trabalho preguiçoso, reportagens
parciais, cochilada no “pescoção”, dados incorretos e previsões não
confirmadas. No limite, serão classificada como “grave atentado à liberdade de
imprensa” ou “impostura de um leitor militante de partido de esquerda/direita”.
3 – Dar-se-á imediata
repercussão na internet a toda denúncia veiculada nos finais de semana,
independentemente do conteúdo ter sido requentado, montado com evidentes erros
de apuração ou estar em contradição com conteúdos anteriormente publicados.
4 – É terminantemente
proibido dar declaração de apoio explícito a um candidato. O apoio velado,
contudo, é permitido desde que em consonância com a escolha empresarial do
veículo de comunicação.
5 – Nenhum candidato será
verdadeiramente pressionado a se posicionar a respeito de qualquer projeto
concreto de interesse dos assalariados ou dos mais pobres em entrevistas,
debates, artigos ou editoriais. Temas como redução da jornada de trabalho, taxação
de grandes fortunas, correção dos índices de produtividade da terra, entre
outros, devem ser tratados como polêmica ou tabus.
6 – Toda reportagem longa
a respeito da história, das ideias ou das propostas de candidatos não católicos
deverá ressaltar suas crenças e apontar possíveis conflitos entre a
religiosidade do candidato e o interesse público. Reportagens sobre candidatos
católicos ou ateus que se declarem católicos estão dispensadas disso, uma vez
que esta é a religião oficial do Estado laico brasileiro.
7 – Ganhará pontos o
candidato que garantir ao repórter uma das seguintes aspas: “vamos analisar
seriamente a redução da maioridade penal como solução para a segurança'', “o
meu governo vai aproveitar esse período para fazer as reformas que o Brasil
precisa, cortando custos'', “sou contra mudanças na política contra as drogas''
e “a Anistia valeu para todos, então não devemos mexer no passado''. Os pontos
podem ser trocados por um close simpático e sorridente do candidato na matéria
em questão ou por um Pirocóptero sabor morango.
*Leonardo
Sakamoto é jornalista e doutor em
Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos
em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é
coordenador da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas
para Formas Contemporâneas de Escravidão.
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