ATIVIDADE HUMANA CAUSOU A EXTINÇÃO DE 322 ANIMAIS NOS ÚLTIMOS 500 ANOS
Segundo estudo publicado
em uma edição especial da revista Science, nossa espécie provocou a extinção de
322 animais ao longo dos últimos 500 anos, sendo dois terços nos últimos dois
séculos.
Muitos animais ainda
correm o risco de desaparecer, e o ritmo de extinção de anfíbios e
invertebrados preocupa os especialistas. O segundo grupo foi reduzido quase a
metade, enquanto a população humana dobrou nos últimos 35 anos.
Ecologistas, zoólogos e
outros cientistas acreditam que podemos chegar a um ponto irreversível em
escala global se medidas urgentes não forem tomadas para reverter esse
processo.
“Se as taxas atuais de
crescimento continuarem a subir, a população humana chegará a 27 bilhões em
2100, o que é obviamente uma opção impensável e insustentável”, enfatiza o
co-autor do estudo, Rodolfo Dirzo, professor de ciências ambientais da
Universidade de Stanford.
Dirzo e seus colegas
sugerem uma “redução da pegada humana per capita” por meio do desenvolvimento e
implementação de tecnologias neutras em carbono, produção mais eficiente de
alimentos e produtos, redução do consumo e do desperdício. Segundo os
pesquisadores, também é essencial frear o crescimento da população humana.
Haldre Rogers e Josh
Tewksbury, autores de outro artigo na mesma edição, acreditam que “os animais
são importantes para as pessoas, mas em geral, são menos valorizados que alimentos,
emprego, energia, dinheiro e desenvolvimento. Enquanto forem considerados
irrelevantes para o atendimento dessas necessidades básicas, os animais
selvagens sairão perdendo”, acrescentam.
No entanto, preservar os
animais e a saúde dos ecossistemas aquece economias em escala global.
Tewksbury, diretor da Instituto Luc Hoffmann do Fundo Mundial para a Natureza,
destaca que a pesca na Bacia do Rio Mekong, no Sudeste Asiático, sustenta 60
milhões de pessoas. Rogers, pesquisador do Departamento de Ecologia e Biologia
Evolutiva da Universidade de Rice, acrescenta que 73% dos visitantes da Namíbia
são turistas ecológicos, e o dinheiro que movimentam responde por 14,2% do
crescimento econômico do país.
“A observação de baleias
na América Latina, sozinha, fatura mais de 275 milhões de dólares por ano”,
exemplifica Tewksbury. “Diversos estudos demonstram que as tartarugas valem
mais vivas do que mortas”. Nos Estados Unidos, a observação de tubarões rende
314 milhões de dólares por ano e gera 10 mil empregos diretos.
A saúde humana, a
polinização, o controle de pragas, a qualidade da água, a disponibilidade de
alimentos e outros fatores críticos também dependem da estabilidade do
ecossistema, destacam os pesquisadores.
Um outro artigo publicado
na última edição da Science descreve medidas controversas, que vão além dos
esforços básicos de conservação: o retorno à vida selvagem, ou seja, a
reinserção de espécies subrepresentadas na natureza; a remoção de espécies
invasoras e a ressurreição de espécies já extintas, talvez a mais polêmica de
todas.
“As implicações da
ressurreição de espécies já são debatidas, e isso inclui o método de seleção
dos melhores candidatos ao processo”, explica um dos autores do artigo, Philip
Seddon. O zoólogo da Universidade de Otago afirma que os esforços de
recuperação e reintrodução de espécies têm mostrado progressos.
“A águia-careca, o condor
da Califórnia e o peru selvagem são grandes histórias de sucesso”, comenta
Rogers, citando espécies quase extintas nos Estados Unidos cujas populações
voltaram a crescer, graças a projetos de reprodução assistida.
Rogers e Tewksbury também
estão trabalhando na ilha de Guam, onde a cobra-arbórea-marrom, uma espécie
invasiva introduzida há 30 anos, praticamente dizimou os pássaros. Sem seus
dispersores de sementes, as florestas foram prejudicadas, e os danos ambientais
causaram prejuízos financeiros aos moradores.
No entanto, é um erro
limitar o valor dos animais não-humanos a seu valor econômico, acreditam os
pesquisadores. “Assim como as pinturas rupestres, que representam o surgimento
da arte, e os ícones globais da cultura e do esporte, os animais selvagens
fazem parte da nossa sociedade, e sob uma perspectiva evolucionária, devemos a
eles quem somos hoje”, comenta Tewksbury. “Portanto, a perda desses animais em
várias partes do mundo é uma perda para toda a humanidade”, conclui.
Fonte: Jennifer
Viegas, em animalplanet.discoverybrasil.uol.com.br
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