ANULADA ABSOLVIÇÃO DE FAZENDEIRO RÉU NA MORTE DE CASAL DE EXTRATIVISTAS NO PA
Acusado de ser mandante da morte foi absolvido ano
passado.
Decisão desta terça, 12, anulou resultado e decretou
prisão preventiva.
Por unanimidade, a 1ª
Câmara Criminal Isolada, em Belém, anulou, nesta terça-feira (12), o julgamento
que absolveu o fazendeiro José Rodrigues Moreira, acusado de ser o mandante do
homicídio do casal de extrativistas Maria do Espírito Santo e José Cláudio
Ribeiro, mortos em 24 de maio de 2011, na cidade de Nova Ipixuna, no sudeste do
Pará. Foi decretada ainda a prisão preventiva do réu. Com a decisão, José
Rodrigues irá a novo julgamento. Defesa alega que anulação é injusta, e que
fazendeiro será novamente inocentado.
O recurso de apelação foi
interposto pelo Ministério Público, que alegou que a decisão do conselho de
sentença do Tribunal do Júri de Marabá, anunciado em 4 de abril de 2013, foi
contrária às provas apresentadas nos autos. Ao analisar o pedido, a relatora do
recurso, a juíza convocada Nadja Nara Cobra Meda, acolheu o argumento,
destacando que, durante sessão do júri, testemunhas ligaram o réu a autoria
intelectual do crime.
Ainda segundo relatório da
juíza, as provas indicam que a disputa por terra motivou o crime. A magistrada
enfatizou que as vítimas ganharam a inimizade do réu porque denunciaram a
irregularidade na compra de terras destinadas a assentamento de agricultores.
Desde então, o acusado teria feito várias ameaças, além de promover atos
violentos contra os colonos.
Diante desses fatos, a
relatora anulou o julgamento e decretou a prisão preventiva do fazendeiro,
fundamentando a decisão nos requisitos do artigo 312 do Código de Processo
Penal, que permite tal medida quando houver ameaça à ordem pública, à garantia
da instrução penal e à aplicação da lei.
Em entrevista, o advogado
do fazendeiro declarou que a anulação é injusta e que acredita que José
Rodrigues Moreira será absolvido no novo julgamento. "Isso era esperado. É
um caso de repercussão e existe a cobrança de diversas entidades. Mas entendemos
que, da mesma forma que ele foi absolvido em primeiro julgamento, será
absolvido novamente. A constituição diz que a decisão do conselho de sentença é
soberana, então a decisão de anular o julgamento não é justa, embora seja
legal".
Executores
No mesmo julgamento, a
relatora ainda apreciou recurso dos acusados de serem executores do crime,
Alberto Lopes do Nascimento e Lindonjonson Silva Rocha. O primeiro foi
condenado a 45 anos, enquanto que o segundo recebeu pena de 42 anos e 8 meses
de prisão.
Os apelantes também
queriam anular o julgamento, mas a relatora manteve a condenação, explicando
que tal procedimento só seria possível se a decisão do júri fosse de encontro
às provas apresentadas nos autos, o que não foi o caso em análise. Os desembargadores também acompanharam a
decisão da relatora à unanimidade.
Entenda o caso
José Cláudio e Maria do
Espírito Santo foram mortos no dia 24 de maio de 2011. Eles seguiam de moto por
uma estrada na zona rural de Nova Ipixuna, quando foram abordados e mortos
pelos assassinos. José Cláudio teve uma das orelhas cortadas quando ainda
estava vivo.
Os peritos localizaram uma
máscara de mergulho na cena do crime que continha material genético de um dos
réus condenados. Na casa do agricultor José Rodrigues Moreira foi encontrado o
equipamento de mergulho.
Meses antes de suas
mortes, José Cláudio e Maria denunciaram as ameaças que estavam sofrendo e
apontavam fazendeiros e madeireiros como os ameaçadores. As entidades esperavam
que o inquérito da Polícia Federal sobre o caso pudesse avançar na
identificação de outros suspeitos do crime.
Em junho de 2011, após a
morte do casal a Força Nacional de Segurança escoltou duas famílias de
agricultores que estavam sofrendo ameaças de morte no assentamento Praialta
Piranheira, em Nova Ipixuna. Eles viviam no mesmo local onde os extrativistas
José Cláudio e Maria foram mortos.
Com as famílias, também
foi retirada a irmã do extrativista Ribeiro da Silva, Claudelice Silva dos
Santos. Ao todo, foram dez pessoas, cinco adultos e cinco crianças. Todas foram
retiradas pela Força Nacional e agentes federais e levadas para um local desconhecido
em Marabá (PA), por medida de segurança.
O agricultor José Martins
sofreu ameaças de morte e teve quatro construções em sua propriedade queimadas
por fazendeiros da região. Ele já havia sinalizado que deixaria o assentamento,
deixando para trás seus múltiplos pequenos cultivos. Ele foi um dos escoltados
pela Força Nacional e, atualmente, vive em outro estado no Norte do país.
Um dos outros escoltados
pela Força Nacional já havia denunciado ao G1 que tinha sofrido ameaças de
morte por parte de policiais civis e militares. O agricultor, que pediu para
não ser identificado, chegou a viajar até Brasília para relatar as ameaças para
o Ministério dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente.
Fonte/Foto:
G1 PA/Arquivo CNS
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