SOBRE A ESTRADA CUIABÁ-SANTARÉM

Trecho da BR-163 (Santarém-Cuiabá) no Pará. Foto: PAC/Flick

por Sidney Augusto Canto (*)
Nem sempre a ideia de ligar Santarém a Cuiabá partiu dos paraenses e muito menos dos santarenos. Na prática, a ligação entre Cuiabá e Santarém foi feita muito mais pelos nossos irmãos do Estado ao Sul do que por nós aqui mais do norte.
Só para exemplificar, em 1812/3 foram os mato-grossenses que fizeram a abertura comercial entre a Província do Mato Grosso e a do Grão Pará. Desceram via rios Arinos, Tapajós e Amazonas até Belém e de lá voltaram à província de origem em uma viagem que demorou quase um ano.
Nos meados do século XIX, o desejo de ligar Santarém a Cuiabá via estrada já era cultivado pelos mato-grossenses que viam no comércio entre aquela província e a cidade de Santarém um investimento que traria muitos benefícios para ambas nascentes cidades. Tanto assim que no ano de 1851, no relatório do Ministro do Império José da Costa Carvalho, podemos ver o que segue abaixo:
“Projeta-se na Província de Mato Grosso a abertura de uma estrada desde a cidade de Cuiabá até a de Santarém, na Província do Pará; ofereceu-se para proceder ao reconhecimento do terreno e determinar a mais curta e menor direção da estrada, o Tenente do Imperial Corpo de Engenheiros Pedro Dias Paes Leme, o qual afirma, fundado no Roteiro de Bartholomeu Bueno da Silva, e em outros esclarecimentos fornecidos por Índios domesticados conhecedores daqueles sertões, que não haverá maior distancia a percorrer que a de cem a cento e trinta léguas. As vantagens que esta nova via de comunicação pode trazer a ambas as Províncias determinaram o Governo a por à disposição daquele Engenheiro as forças e os meios necessários para empreender o trabalho”.
Não sabemos o motivo, mas o governo Imperial foi persuadido a voltar atrás e não mais investir na construção da estrada. Houve várias outras tentativas, até mesmo o projeto da construção de uma Ferrovia.
Aberta a estrada no período da Ditadura Militar, hoje o Estado do Mato Grosso tem a BR 163 pavimentada. Enquanto isso, no Pará, continuamos a esperar até o dia em que, de fato, poderemos ter a estrada secularmente esperada, mas até hoje ainda não concluída.
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(*) Santareno, é padre diocesano e presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós. O artigo faz parte da obra inédita “Santarém: história e curiosidades”, de autoria dele e cujo conteúdo passa a ser publicado no blog de Jeso Carneiro (jesocarneiro.com.br).

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