OS DESASTRES NA AMAZÔNIA SE REPETEM

Por Edilberto Sena (*)
E outros estão chegando, cada vez mais graves. Mas o governo brasileiro se recusa a admitir que parte desses desastres é causada pelas grandes barragens das obras do PAC.
As situações em Porto Velho, Jaci Paraná, Guajará-Mirim e a Amazônia boliviana são dramáticas. Os grandes meios de comunicação falam de cheia histórica nos rios da Amazônia, calamidade em Porto Velho, mas não falam de mais de 100 mil cabeças de gado mortos na Bolívia, além de 60 pessoas mortas por causa da cheia provocada pelas barragens de Jirau e Santo Antônio no Brasil.
Governo e redes de televisão acusam o degelo nos Andes bolivianos e as chuvas como os causadores das desgraças na região.
Meios de comunicação mais sérios anunciam a gravidade dos desastres. Esses estão se alastrando em toda a Panamazônia.
Segundo a fonte EFE francesa, “a Bolívia e o Brasil estão dispostos a reexaminar, em ambiente de cautela e sigilo, as causas das piores inundações no norte da Amazônia boliviana, que especialistas locais atribuem às represas brasileiras de Santo Antônio e Jirau no rio Madeira, que separa os dois países”.
Por que então os dois governos vão fazer estudos sigilosos? Não pode ser por razões de dúvidas sérias, quando os fatos estão evidenciando. Só quem vive a 4 mil metros de altura na capital La Paz e a milhares de quilômetros distantes em Brasília pode surgir com essas falsas dúvidas se as barragens de Jirau e Santo Antônio são ou não causadoras dos desastres.
Não dá mais para encobrir o sol com peneira. O governo brasileiro tem recusado escutar cientistas, pesquisadores e as populações tradicionais da Amazônia sobre a inviabilidade de tantas hidrelétricas nos rios da região.
Sua obsessão é construir dezenas de hidrelétricas onde houver uma cachoeira, ou corredeira na Amazônia. No rio Tapajós, por exemplo, se as populações locais permitirem, serão construídas sete usinas, com barragens imensas de até 732 kms quadrados. Isso sem falar em mais três no rio Teles Pires e mais oito no rio Juruena, formadores da bacia do Tapajós.
Hoje, sofrem populações e ambiente sofre as primeiras consequências desastrosas no rio Madeira, tanto as populações de Jaci Paraná, Guajara-Mirim, Porto Velho, quanto todo o norte da Bolívia no Estado de Beni.
Em Rondônia, são milhares de famílias desalojadas e perdendo casas e seus utensílios. Os dois consórcios se recusam a assumir o pagamento desses prejuízos. Mesmo eles se acusando de serem responsáveis por parte dos desastres.
No site ihu, um deles acusa o outro consórcio: “Segundo o diretor-presidente da ESBR, Victor Paranhos, se a SAE seguisse a regra proposta à Agência Nacional de Águas (ANA), em março de 2012, os impactos em Jaci-Paraná e Porto Velho seriam inferiores ao verificado atualmente.
Pela proposta, diz ele, a empresa teria de iniciar a redução do nível do reservatório para a cota de 68,5 metros quando a vazão do rio chegasse a 34 mil metros cúbicos por segundo (m³/s). No dia 3 de fevereiro, o reservatório estava na cota de 70,4 metros e a vazão era de 38.315,68 m³/s”.
O Ministério Público já tentou um acordo com os consórcios a pagarem os prejuízos das populações atingidas pelo desastre, mas os doisse recusam a assumir responsabilidades. Na Bolívia são mais de 100 mil cabeças de gado que morreram em consequência da cheia dita histórica, do rio Madeira, além de 60 pessoas que já morreram pelas mesmas razões. Mas o Chanceler boliviano afirma que “primeiro tem que ter informações científicas concretas para saber até que ponto as usinas brasileiras são causadoras dos desastres na Bolívia”.
E agora?
Diante dos desastres ocorrendo em Rondônia, na Bolívia e também no rio Xingu, onde uma parte de uma barragem periférica já rompeu, por conta da cheia no rio, será que o governo brasileiro vai modificar seu plano hidroelétrico? Se duas barragens no Madeira estão causando tantos desastres, imagine com sete barragens no rio Tapajós e mais 11 em seus dois geradores(Teles Pires e Juruena)?
Quem empatará tais crimes sociais e ambientais? Será que as populações da bacia do rio Tapajós vão apoiar ainda as sete hidroelétricasno rio? Será que os políticos continuarão oportunistas aplaudindo tal insensatez?
A sociedade civil vai continuar cruzando os braços e vendo apenas os Munduruku e pequenos grupos reagirem isolados? Vão esperar os desastres hoje nosrios, Madeira e Xingu se repetirem no Tapajós? Onde estão as igrejas cristãs e os pescadores das colônias?
Onde estão os sindicatos e as associações de bairros? Será que os vereadores dos municípios tapajônicos e os prefeitos, os deputados vão continuar aplaudindo as hidroelétricas no nosso rio? Quem mesmo eles representam?
Chorar e murmurar depois, como hoje em Rondônia, não salvará ninguém. Esperar pela boa consciência do governo federal é perder tempo. Eles sabem o que querem e o que querem não é nossos direitos e dignidade. Como já afirmou a senhora presidente Rousseff: “o que tem que ser feito será feito… doa em quem doer”.
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(*) Santareno, é padre diocesano e coordena Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém-PA.
Fonte: Publicado originalmente em jesocarneiro.com.br


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