CASO CERPASA – INQUÉRITO ENTRA EM CONCLUSÃO NO STJ
Governador Simão Jatene e ex-secretário Sérgio Leão (ambos na foto) estão envolvidos no escândalo
O julgamento do Caso
Cerpasa, que se arrasta desde 2004 por gabinetes de diferentes tribunais no
Pará e em Brasília, entra em uma nova fase. O Inquérito 465 está agora em fase
de conclusão no Superior Tribunal de Justiça. Para quem não se lembra, a
investigação foi aberta pelo Ministério Público e apura envolvimento do atual
governador do Pará, o tucano Simão Jatene, e do ex-secretário Sérgio Leão no
crime de receptação de repasses irregulares de R$ 16,5 milhões, em valores da
época, que não foram contabilizados pela Cervejaria Paraense S.A, a Cerpasa.
Sérgio Leão acabou sendo
beneficiado pela morosidade da justiça brasileira. Indicado por seu amigo,
Simão Jatene, Leão assumiu uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas dos
Municípios (TCM-PA), mesmo sendo investigado em um processo criminal.
No dia 12 deste mês, a
vice-procuradora geral da República, Ela Wiecko, indicada relatora junto à
Procuradoria Geral da República (PGR) do Inquérito, encaminhou seu parecer ao
STJ. O parecer está sendo analisado pela Corte Especial daquele tribunal. O
relator do caso é o ministro Napoleão Nunes Maia Filho, que deve apresentar seu
relato à Corte Especial nos próximos dias.
SEGREDO DE JUSTIÇA
É impossível ter
conhecimento do conteúdo do processo, já que ele tramita em segredo de justiça,
ou seja, está fora da Lei da Transparência, impedindo que a população paraense
tenha conhecimento das decisões tomadas desde 2004, quando o caso entrou no
Tribunal de Justiça do Pará. Foi o Ministério Público quem apresentou a
denúncia na época.
A denúncia do MP foi
baseada em fatos concretos, ocorridos dentro das dependências da Cervejaria
Paraense S/A. Naquele ano, o Ministério do Trabalho realizou uma averiguação na
sede da empresa para apurar denúncias de irregularidades trabalhistas na
fábrica.
O fato aconteceu na manhã
do dia 12 de agosto de 2002, em plena campanha eleitoral na qual Jatene
participava como candidato ao governo do Estado, indicado por seu partido, o
PSDB.
Fiscais do Ministério
Público do Trabalho, acompanhados de um procurador e dois delegados da Polícia
Federal, entraram na sede da cervejaria e flagraram uma funcionária do
departamento de pessoal da empresa com R$ 300 mil em notas miúdas e separando o
valor em diversos envelopes previamente identificados. O dinheiro seria usado
para pagamento dos funcionários que trabalhavam irregularmente na empresa.
A Polícia federal fez
então a apreensão de mais de uma tonelada de documentos e quatro computadores.
O que se descobriu depois, ao se fazer a análise dos documentos e computadores
apreendidos, foram relatórios explícitos da troca de favores entre a empresa e
o então pré-candidato ao governo Simão Jatene.
As provas, como afirmou o
Ministério Público do Pará na época, eram claras. Os documentos continham datas
e valores revelados minuciosamente com a identificação detalhada: “Ajuda à
campanha do Simão Jatene p/governo, reunião feita com Dr. Sérgio Leão, Dr.
Jorge, Sr. Seibel, a partir de 30/08/02 (toda sexta-feira), R$ 500.000,
totalizando seis parcelas no final (sic).”
Seibel era Konrad Karl
Seibel, alemão, fundador e dono da cervejaria, que já faleceu. Sérgio Leão, o
poderoso assessor e fiel escudeiro de Jatene – uma espécie de José Dirceu na
época –, estrategicamente presidia a comissão estadual que avaliava a política
de incentivos naquele ano.
PERDÃO FISCAL
Em 2000, quando o também
tucano Almir Gabriel era governador, a Cervejaria Paraense S/A havia recebido
de presente o perdão da dívida de quase R$ 47 milhões de ICMS atrasado e uma
dezena de autuações por fraude e sonegação.
Em contrapartida ao
perdão, conforme consta no inquérito apurado pelo então procurador-chefe do
Ministério Público do Pará, Ubiratan Cazeta, a Cerpasa prometia contribuir com
R$ 4 milhões para a campanha de Jatene, “além de se comprometer a efetuar
outros pagamentos no montante de R$ 12,5 milhões”.
Os primeiros R$ 3 milhões
foram pagos em seis parcelas de R$ 500 mil – a última exatamente no dia da
eleição, 3 de outubro. O troco de R$ 1 milhão foi pago 21 dias depois. O
reforço de R$ 12,5 milhões, conforme os livros de contabilidade apreendidos na
ação conjunta na sede da empresa, foi pago em prestações diluídas no fim do
mandato de Gabriel e nos dois primeiros anos do governo de Simão Jatene, em
2003 e 2004. A cota final de R$ 6 milhões foi parcelada em dez vezes – a última
delas programada para agosto de 2004.
‘MESAS E CADEIRAS’
Nenhum dos pagamentos
feitos durante os governos de Almir Gabriel e Jatene era contabilizado como
doação de campanha. Os documentos apreendidos mostraram que os repasses eram
identificados na contabilidade financeira da Cerpasa como “despesa de mesas e
cadeiras para postos de venda” ou “compra de brindes de fim de ano”.
Nove meses depois da
posse, já em 2003, Jatene assinou três decretos num único dia, 29 de setembro,
concedendo à Cervejaria Paraense S/A um desconto de 95% no ICMS devido ao
Estado e prorrogando seus benefícios fiscais por mais 12 anos, ao lado de
outras 37 empresas.
Fonte/Foto:
Diário do Pará


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