PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, PAULISTA, DECLARA PAIXÃO PELA AMAZÔNIA COM TEXTO 'NÃO CONHEÇA MANAUS'
Jimi Aislan Estrázulas morou por 11 anos na cidade e
escreveu crônica para combater preconceitos
MANAUS - O que esperar de
um texto com o título: 'Não conheça Manaus'?Algo negativo, certo? Errado. Ao
declarar todo carinho pela capital do Amazonas, o professor universitário Jimi
Aislan Estrázulas, brincou com as palavras e escreveu uma carta aberta aos
amigos. Em entrevista ao Portal Amazônia, o paulista falou sobre a inspiração
para escrever a crônica que já soma cerca de 50 mil acessos.
O texto publicado no blog
'Vida e Entrevero' mostra toda a paixão do professor pela capital do Amazonas.
"As palavras foram saindo de forma natural. Comecei a lembrar do que as
pessoas diziam de Manaus e olhava meu banco de fotos. Depois recordei as
palavras negativas do técnico inglês sobre a cidade. As emoções se
misturaram", disse Jimi Aislan.
Em seu texto, o professor
explica o porquê do título. Na visão dele, a pessoa correrá um sério risco de
se apaixonar pela cidade, assim como ele. "Logo, se eu puder lhe dar um
conselho, diria: não vá ao Amazonas. Não conheça Manaus. Tem muita coisa errada
lá. A começar pelo povo. São pessoas que foram (e são) hostilizadas, sofreram
preconceitos por terem nascido naquela região e ainda nos tratam bem.
Estranhamente, o amazonense lhe faz sentir em casa. E olha que a casa deles é
quente, mas o povo consegue ser mais caloroso. Amazonense é acolhedor sim",
diz o texto.
A descrição do paulistano
sobre a cidade é tão genuína que fala de características básicas da cultura de
um povo. Começa por ele, o povo, com o adjetivo "acolhedor". Em
seguida, passa pela gastronomia: os peixes, os temperos. "Por falar em
comida, não coma nada em Manaus. Principalmente se for peixe. Corra de
pirarucu, fuja de tambaqui, vire o rosto para matrinchã, não prove jaraqui ou
bodó. Você poderá estar fadado a nunca mais comer peixes da mesma forma. Um
tambaqui assado simples já é um manjar à parte", descreve.
No quesito segurança, ele
afirma que: "...Há violência é lógico, mas localizada e pontual. Com um
pouco de atenção você também pode passar 11 anos ou bem mais incólume".
Cultura, é um assunto que pelas palavras e descrição é possível imaginar o
brilho nos olhos do professor apaixonado por Manaus.
"A cultura rica em
lendas e mitos, rica não meu amigo, muito rica, carrega um pouco do universo
indígena com pitadas dos imigrantes. Para tudo há uma explicação mítica. E se
só a beleza das histórias já encantam, quando o caboclo pega a musicar elas,
transforma em toadas que merecem o respeito de serem ouvidas de olhos fechados.
Como diria um amigo meu citando uma música de boi bumbá, há muito mais no
“verde que desbota na distância que existe entre a mata e o homem” que
imaginamos".
Após a publicação, ele se
surpreendeu com o alcance do texto. "Fiquei nervoso, pois, pensei que as
pessoas não haviam lido até o final e, poderiam ter entendido errado. Depois
percebi que o blog recebeu 50 mil visualizações e mais de 280 comentários.
Todos positivos", contou. O professor já publicou um livro, mas nada
voltado para a literatura. "Escrevi sobre 'Teoria da Comunicação', na
verdade era o tema da minha monografia. Tenho várias poesias, porém é tudo
pessoal", afirmou.
Relação com Manaus
Há 10 anos, de Santa Maria
no Rio Grande do Sul, a família do professor decidiu mudar-se para Manaus.
"Meu pai é militar e, em 2002, voou de helicóptero sobre a cidade. Ele fez
algumas imagens aéreas e mandou as fitas para assistirmos", lembrou. Na
época, Estrázulas fazia a Escola de Aeronáutica no interior de São Paulo e
aceitou na hora a oferta de morar na capital do Amazonas.
Mas, na cabeça do
professor uma imagem da cidade já era formada. "Vi uma matéria com o nome
do Amazonino como vencedor de alguma eleição do Amazonas. Achei uma ironia dos
nomes, porém vim de coração aberto. Meus pais gostavam da cidade, trouxe também
minha ex-esposa. Não houve tantos problemas assim. Quando chegamos, o calor foi
um tapa de bafo quente, depois apanhei com as variações linguísticas. Apanhei
muito mesmo", relatou.
O paulista conciliava a
vida de militar com a academia. Em 2009, ele começou a carreira de
professor."Formei em jornalismo na UFAM e fiz mestrado em Ciências da
Comunicação. Comecei a lecionar em faculdades particulares de Manaus",
afirmou.
Por motivos profissionais,
Estrázulas precisou voltar para Rio Grande do Sul, mas garante que o futuro é
incerto. "Saí de Manaus com a voz totalmente embargada. Recebi muitas
mensagens, porque fiz muitos amigos e vários deles foram se despedir ou me
procuraram com depoimentos muito tocantes. Tenho a mente aberta para o que
ainda está para acontecer", disse.
E para quem ficou curioso
pela conclusão do porquê do conselho 'Não Conheça Manaus", ele responde.
"Como disse antes, não vá a Manaus. A cidade carece de infraestrutura, tem
problemas na política e educação, como toda cidade brasileira hoje apresenta.
Mas foi lá que encontrei Amazonas e bravos que me doaram, sem orgulho e sem
falsa nobreza, lendas para sonhar, vida e riqueza nas lutas que travei. Não é
apenas um hino, mas a imagem sincera de um povo que não tem pudores em ceder um
pouco de si. Se contrariar meu conselho e for conferir de perto, insisto para
que não vá com a cabeça aberta. Cerque-se de preconceitos e comparações com
outros lugares em tudo o que vir e sentir lá, porque do contrário, com coração
aberto amigo eu lhe garanto: você poderá se apaixonar assim como eu me
apaixonei".
Fonte/Fotos:
Portal Amazônia, com a colaboração de Hêmilly Lira/Chico Batata
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