O ANDARILHO DA ARTE

O tecelão Renato Imbroisi (foto) gosta de se perder em pequenas comunidades, onde ensina que o artesanato confere identidade
De canoa, trem ou avião, o designer carioca Renato Imbroisi, 52 anos, já esquadrinhou 24 estados brasileiros - faltam apenas Amapá e Roraima. Conheceu tanto do artesanato em suas andanças que sentiu necessidade de buscar a outra ponta, de juntar os elos da nossa cultura com os da África, e se mandou para aquele continente. Convidado pela viúva de Nelson Mandela, Graça Machel, começou pela aldeia Maciene, perto de Maputo, capital de Moçambique, depois seguiu para outros países de língua portuguesa. "Descobri semelhanças entre a cerâmica de Angola e Pernambuco, a cestaria amazonense e a de São Tomé e Príncipe, a tecelagem dos moçambicanos e dos mineiros", diz. O resultado dessas viagens está em Lá e Cá (Senac), assinado por ele e pela escritora Maria Emilia Kubrusly, 57 anos, sua mulher. O livro, com fotos lindas, inclui lendas e comidas - receitas próximas das iguarias baianas.
Há 27 anos, Renato se dedica a ensinar o que sabe a artesãos que encontra por onde passa. Nunca, porém, atropela a essência das manifestações genuínas. Em vez disso, mostra, por exemplo, como arrojar no design e no acabamento das peças. "Desde que conheci as tecelãs de Muquém (MG), em 1986, entendi o meu papel: ajudar o artesão a se desenvolver e a reacender a sua identidade", afirma. Já foram mais de 140 projetos criados em suas incursões Brasil adentro. Cerca de 10 mil pessoas se beneficiaram em oficinas de capacitação. "O que me dá prazer é ver que o artista passa a acreditar no seu talento, o que gera renda para toda a família", conta. "O novo olhar sobre o próprio trabalho faz com que se sinta valorizado."
Nascido no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, Renato Imbroisi usava um tear de pregos para fazer cintos e pulseiras nos anos 1970. Tinha a avó materna, costureira do bairro, como espelho. "Ela era autodidata e muito querida. Modelava e costurava no corpo das inúmeras clientes. Minha veia artística vem daí." Aos 20 anos, ele se mudou para São Paulo e fez um curso profissionalizante, mas tirou da prática e da intuição o principal aprendizado.
Suas aventuras se estenderam também por regiões remotas do Japão, Chile, da Itália e Colômbia. A guinada veio em 2003, ao dirigir uma escola de artes e ofícios em Maciene. A oportunidade para os jovens do lugarejo de 3 mil habitantes era quase nula. Alguns tinham perdido os pais durante a guerra civil, que terminou em 1990, outros ficado órfãos na epidemia de aids. Ainda funciona ali o projeto implantado por Imbroisi, o Tecendo a Vida, que, para além da arte, ensina a empreender e a buscar justiça social.
O tecelão se diz íntimo da África, afinal, foram mais de 30 viagens, incluindo muitos desafios. "Contraí malária em 2006, e, em uma ocasião, dei de cara com uma numerosa família de elefantes", lembra. Em nenhum momento, porém, pensou em desistir. "Valeu a pena. A vontade de estar lá e levar os projetos adiante é sempre maior do que eu."

Fonte/Foto: Mariana Conte - planetasustentavel.abril.com.br

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