MÍNIMO PODE QUEBRAR PREFEITURAS
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Municípios como os do Marajó, que têm baixa arrecadação, vão sofrer com o impacto do salário mínimo.
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Mal começou o novo ano e
os prefeitos de todo o país já anteveem um 2014 com muitas dificuldades. O
anúncio do novo salário mínimo, por exemplo, que passa para R$ 724,00, já foi
alvo de críticas das principais entidades municipalistas do país. Tanto a
Confederação Nacional dos Municípios (CNM) quanto a União Brasileira de
Municípios (Ubam), alegam que o impacto do reajuste nas folhas salariais pode
ser desastroso, e deixar um rombo de mais de R$ 1,79 bilhão nas finanças
municipais.
Para a Confederação
Nacional dos Municípios, a política de valorização do mínimo acumula impacto de
R$ 18,8 bilhões aos cofres municipais desde 2003. A Confederação explicou que
no cálculo do impacto do reajuste do salário mínimo nas contas municipais foram
considerados dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da
base de dados da RAIS do Ministério do Trabalho e Emprego sobre a quantidade de
funcionários públicos municipais que recebem até 1,5 salário mínimo.
“Multiplicamos o total de funcionários em cada um dos anos, considerando as
faixas de remuneração, pelo aumento do salário mínimo. A estimativa inclui os
encargos que são pagos sobre o salário base, como o INSS patronal, FGTS,
Salário Família, PIS , Sistema S, entre outros”, explica a CNM, em nota.
Em 2014, o novo valor
salário mínimo é de R$ 724 por mês, ante R$ 678 mensal, no ano passado. Isso
representa uma alta de 6,78%. O Decreto 8.166, da presidente Dilma Rousseff,
foi publicado no Diário Oficial da União de 24 de dezembro, estabelecendo o reajuste.
Já a Ubam defende uma
compensação do governo federal aos municípios. A entidade afirma que o novo
piso nacional vai causar impacto nas contas das 5.564 prefeituras brasileiras.
De acordo com a Ubam, o novo mínimo vai se transformar em mais um desafio para
as administrações públicas municipais, tendo em vista diminuição de receitas e
a volatilidade nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
O presidente da entidade,
Leonardo Santana, ressalta que os municípios não poderão arcar com esses custos
sozinhos e que o Congresso terá que achar uma saída para que os gestores não
sejam condenados por não conseguirem cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal,
a não ser que demitam parte do pessoal contratado, com o objetivo de adequarem
a receita corrente líquida aos limites da LRF. “O governo federal adotou nos
últimos anos uma política de aumento de renda via aumentos reais do salário
mínimo. Esta política se mostrou bastante salutar à população e ao conjunto da
economia, mas causa problemas de caixa às prefeituras brasileiras”, diz a nota
divulgada pela CNM.
O levantamento feito pela
entidade mostra que os Municípios são os maiores empregadores do Brasil, com
mais de 2 milhões de funcionários com remuneração vinculada ao salário mínimo.
DESAFIOS
O novo salário mínimo de
R$ 724, já está vigorando desde o dia 1º de janeiro. De acordo com o Dieese
(Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o novo
valor vai gerar um incremento de R$ 28,4 bilhões na economia. Estudo feito pelo
Dieese, sobre os impactos do novo mínimo, mostra que, considerando as médias
anuais em reais, o valor de R$ 724 é o maior valor real (descontada a inflação
medida pelo Índice do Custo de Vida - ICV) desde 1983, considerando a série
histórica do salário mínimo no país.
O presidente da União
Brasileira de Municípios, Leonardo Santana, destacou que o levantamento do
Dieese mostra que 2014 será um ano de maiores desafios para os municípios, a
começar da prorrogação de desonerações do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) para automóveis e móveis, causando mais desequilíbrio
nas contas públicas municipais.
A concessão da redução do
IPI sobre dois produtos foi anunciada através dos Decretos 8.168/2013 e
8.169/2013, de 23 de dezembro. Leonardo informou que “os municípios vão perder
mais R$ 2,7 bilhões em 2014, que serão diminuídos dos repasses FPM, já que o
governo federal continua promovendo renúncia de impostos que só prejudica os
entes federados.”
De acordo com cálculos da
CNM, os municípios paraenses receberam a última parcela de 2013 do Fundo de
Participação dos Municípios (FPM) com decréscimo em relação ao valor da mesma
parcela depositada no final de 2012.
O FPM é uma transferência
constitucional da União para os Estados e o Distrito Federal, composto de 22,5%
da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI). As desonerações fiscais com redução do IPI somaram
prejuízo para a maioria dos municípios brasileiros no ano passado.
Luta continua por royalties
do petróleo e aterro sanitário
Sobre a polêmica questão
dos royalties do petróleo, o dirigente municipalista informou que a entidade se
incorporou na luta que se travou em todo país, em defesa da distribuição dos
recursos com a extração do petróleo, tendo em vista que esse bem público é de
natureza nacional e pertence a todos os entes federados. “A aprovação da lei
que distribuiu royalties representou uma vitória municipalista, com
significativa participação da Ubam. Isso é indiscutível”, afirma Santana.
Em 2014, a UBAM terá a
missão de tentar caçar a liminar concedida pela Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 4917, que impede o repasse dos recursos aos
municípios.
Outra bandeira
municipalista levantada pela Ubam é a construção de aterros sanitários e a
extinção dos lixões. “Desde 2008, a Ubam vem promovendo reuniões com gestores,
representantes das universidades e organizações internacionais, objetivando a
formação de consórcios públicos municipais, para que se resolva de uma vez por
toda a destinação dos resíduos sólidos, com a extinção dos lixões que
infelizmente funcionam a céu aberto, trazendo inúmeros prejuízos para o meio
ambiente.
A entidade tem proposto ao
governo federal um apoio maior aos prefeitos, dotando os municípios de
condições financeiras e instrumentais para a construção dos aterros sanitários.
Essa luta continuará em 2014”, reforça Leonardo Santana.
Prefeitos vão pressionar o
Congresso
A Ubam orienta os gestores
a procurarem os deputados federais e os senadores pressionando para que o
Congresso promova uma reforma urgente no Código Tributário Nacional, com
medidas que proíbam o governo de promover renuncia fiscal que ponha em risco a
governabilidade nas prefeituras municipais.
A Agenda Municipalista
2014, elaborada pela União Brasileira dos Municípios inclui a reformulação do
Pacto Federativo. De acordo com a entidade, desde 1988, com a promulgação da
Constituição, os pequenos entes federados só receberam mais responsabilidades,
seja com a educação, com a saúde e com o bem estar social das populações.”
No entanto, o pacto
federativo, em vigor, nega segurança econômica e condições de governabilidade
às prefeituras de todo país, por conta da falta de um diálogo maior sobre a
repartição dos tributos, cujo fato gerador começa nos municípios”, destaca a
agenda divulgada pela Ubam.
Segundo a União, a
reformulação do pacto continuará “luta constante da UBAM, em direção do fortalecimento
da gestão em prol dos munícipes”. A entidade defende uma divisão mais adequada
do chamado “bolo tributário”, que deve ser repartido em três partes: 50% para a
União, 25% para os Estados e 25% para os Municípios. Para a UBAM, fora dessa
equação não há pacto nenhum.
Segundo o presidente da
UBAM, Leonardo Santana, a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) se
constituiu num grande avanço para garantia de responsabilidade e austeridade
com os gastos públicos. Porém, segundo ele, no momento atual, se desenha uma
realidade totalmente diferente do período em que a mesma foi instituída (ano
2000).
Por esse motivo, a Ubam
defende um maior debate em busca de mecanismos que possam dotar os gestores de
melhor conhecimento, adequando os percentuais constitucionais aos parâmetros
financeiros defasados e voláteis das receitas municipais, evitando a imputação
de culpabilidade, sem que o mérito da questão seja devidamente definido, já que
a receita corrente líquida das prefeituras tende a variar, na medida em que o
governo inventa de promover renúncias fiscais, subtraindo recursos apenas dos
impostos, o que mexe somente com as partilhas dos Estados e Municípios.
Fonte/Foto: Diário
do Pará/Tarso Sarrafi


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