POLÍCIA FEDERAL INICIA BUSCAS POR DESAPARECIDOS NA RODOVIA TRANSAMAZÔNICA
Operação de militares já entrou na reserva indígena
Tenharim, na região de Humaitá, sem previsão de retorno, até encontraram
pistas. Polícial Federal pediu a colaboração da população da cidade e dos
indígenas para não interferirem nas buscas e cessar a cobrança de pedágio na
área da rodovia
O delegado da Polícia
Federal Alexandre Alves, que comanda a operação militar de busca pelos três
homens desaparecidos há 14 dias na rodovia Transamazônica, no Sul do Amazonas,
informou que nos primeiros três dias de trabalho da força tarefa foram
realizados vários trabalhos de inteligência em campo, onde conseguiram algumas
informações importantes para o início das buscas.
A operação já tem 36 horas
de trabalho e não há previsão de retorno até que consigam pistas que levem ao
paradeiro de Stef Pinheiro de Souza, Luciano Ferreira Freire e Aldeney Ribeiro
Salvador.
“Já fizemos o levantamento
de algumas informações durante esses três dias que estamos na cidade e a partir
daí, daremos início as buscas. Delimitamos uma área em que o veículo teria sido
visto pela última vez e no início da tarde de hoje (ontem) estaremos retornando
a reserva, sem ter previsão de retorno, inicialmente estamos contando com 36
horas de buscas intensas”, revelou.
Alves disse também que não
tinha conhecimento da decisão da Justiça Federal que determinava o retorno dos
índios para suas aldeias e que na manhã de domingo a força tarefa reuniu com as
lideranças indígenas que estavam no 54º Batalhão de Infantaria de Selva,
juntamente com representantes da Funai, onde foi lavrada uma ata com algumas
decisões.
“Nós não fomos notificados
sobre qualquer decisão judicial, mas os índios que estavam no batalhão pediram
para retornar a suas casas, pois queriam ter notícias dos familiares que por lá
ficaram. Hoje (ontem) logo cedo atendemos esse pedido e realizamos esse
transporte com segurança”, declarou.
Pedágio indígena
O delegado informou que os
índios assumiram o compromisso de suspender a cobrança de pedágio durante as
buscas dos desaparecidos. “Eles assumiram este compromisso comigo e a partir de
hoje (ontem) não será mais cobrado pedágio na BR-230, até que a operação acabe.
Até porque a partir de hoje a BR-230 está sob responsabilidade da força tarefa,
com nosso patrulhamento. Eles também se comprometeram em reunir com as
lideranças indígenas para colaborar com as nossas investigações e vão permitir
o acesso da nossa força tarefa para realizar todas as buscas que forem
necessárias dentro da reserva indígena”, disse.
Desespero dos familiares
“Precisamos de informações
concretas do que aconteceu com nossos familiares, não aguentamos mais ouvir
boatos pela rua. Estamos sofrendo muito, desgastados física e psicologicamente.
O senhor, delegado, precisa nos dar uma resposta, não aguentamos mais”.
Este apelo foi feito na
manhã de hoje, por familiares dos três desaparecidos há mais de 13 dias na
rodovia Transamazônica (BR-230), nas proximidades da reserva Indígena Tenharim
Marmelos, em Humaitá, no Sul do Amazonas, durante entrevista coletiva concedida
pelo delegado federal Alexandre Alves e por representantes da Força Tarefa
criada para investigar o caso.
Outro apelo feito pelos
familiares do professor Stef Pinheiro de
Souza, dono do carro em que os três viajavam, do representante comercial
Luciano Ferreira Freire e o técnico Eletrobrás, Aldeney Ribeiro Salvador, é que sejam os primeiros a ser informados
sobre tudo o que está acontecendo. “Delegado, por favor, seja ela qual for, mas
queremos ser os primeiros a ser informados sobre tudo o que vocês encontrarem
nessas buscas. Não queremos saber e nem ouvir nada nas ruas ou na televisão,
temos o direito a essas informações”, explicaram.
Alves se comprometeu em
dar segurança a todas as pessoas que utilizam a BR-230 e que não haverá
qualquer tipo de manifestação durante este período. “A partir de hoje já
estamos realizando o controle de todos os veículos que passam por aqui, assim
como o controle de trânsito no local. Não vai ter manifestação no local, nós
precisamos de segurança, de tranquilidade para trabalhar”, revelou.
Apelo da Polícia
Para finalizar, o delegado
Alves fez um pedido aos moradores de Humaitá. “A única coisa que eu peço pra
vocês, estou saindo daqui hoje (30) e estou indo para dentro do mato, eu vou
pra selva trabalhar. Eu preciso que a população colabore com nosso trabalho, eu
preciso que a população entenda que, cada vez que o distúrbio civil ocorrer
nessa cidade, eu terei que desviar o foco do meu trabalho e se eu tiver que
desviar o foco do meu trabalho, o primordial aqui que é encontrar essas pessoas
desaparecidas vai ser prejudicado”, pediu ele.
Questionado sobre o
possível retorno dos índios nas ruas e comércios de Humaitá o delegado
aconselhou que isso seja evitado. “Por enquanto não é recomendável,
considerando alguns poucos manifestantes que generalizaram a questão e acabam
de certo modo agredindo, nem que seja verbalmente, incitando a violência contra
eles e eu digo, eles são pessoas normais como qualquer ser humano, eles não
podem ser hostilizados pelo fato de um ou dez índios terem cometido um crime”,
disse.
As buscas pelos
desaparecidos são realizadas a partir do km 130 da Transamazônica, onde teriam
sido vistos pela última vez. Além de helicópteros, cães farejadores e
navegadores de selva - equipes especializadas em buscas na mata fechada -, uma
equipe de peritos acompanhará os trabalhos.
Entenda o caso
O conflito ocorrido entre
moradores de Humaitá e os índios começou após o desaparecimento do professor
Stef Pinheiro de Souza, dono do carro em
que viajavam também o representante comercial Luciano Ferreira Freire e o
técnico Eletrobrás, Aldeney Ribeiro Salvador, supostamente sequestrados e
mortos em retaliação à morte do cacique Ivan Tenharim - ele teria caído da
moto, mas os índios acreditam que foi assassinado.
No dia do Natal, a
população revoltada incendiou a sede da Funai, a Casa de Saúde do Índio, veículos
e um barco usado no atendimento às populações indígenas. Dois dias depois, um
grupo armado incendiou os postos de pedágio dos índios na Transamazônica. Ao
pedido do Ministério de Defesa, uma força-tarefa com 400 homens passou a atuar
na região.
Fonte/Foto: acrítica.uol.com.br/Clóvis
Miranda


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