A DESTRUIÇÃO SEM HOLOFOTES DO RIO TAPAJÓS
A degradação do Tapajós,
efeito das dragas de garimpagem que vasculham o rio 24 horas/dia, é o tema do
novo artigo do santareno Jubal Cabral (foto),
residente no olho desse furação ambiental, a cidade de Itaituba.
Em “Tem tudo a ver:
Garimpos x Meio Ambiente?”, publicado originalmente no blog Agônia &
Êxtase, o geólogo escreve, preocupado, com as consequências dessa prática
irresponsável e de agressão impune ao meio ambiente.
- Parece que ainda não
caiu a ficha de que somos responsáveis, hoje, pelo que pode acontecer num
futuro próximo – diz.
Abaixo, a íntegra do artigo:
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| Jubal Cabral |
“Até hoje, os grandes
problemas da humanidade nunca foram resolvidos por decretos coletivos, mas
somente pela renovação da atitude do indivíduo. Em tempo algum, meditar sobre
si mesmo foi uma necessidade tão imperiosa e a única coisa certa, como nesta
catastrófica época contemporânea.” Carl Gustav Jung (1916)
Historicamente, a extração
mineral pela garimpagem na baia do rio Tapajós teve início no idos anos 1950,
quando da “descoberta” de ouro no rio das Tropas, a região teve uma drástica
mudança.
Em pouco tempo, dezenas de
milhares de garimpeiros invadiram as cidades, as matas, e aos poucos os rios.
Calcula-se que mais de 500.000 homens já estiveram garimpando na região. As
consequências deste trabalho e da lavra desorganizada se fizeram sentir
imediatamente.
Com o garimpo, veio o
dinheiro e, naturalmente, os problemas inerentes a ele. Um dos pontos mais
debatidos tanto pela mídia nacional e internacional como pelos meios
acadêmicos, foi e é o da contaminação do meio ambiente, flora, fauna e pessoas
pelo mercúrio.
Draga no rio TapajósDragas
em atividade de garimpagem no leito do rio Tapajós, próximo a Itaituba. Foto:
arquivo Blog do Jeso
O governo federal, através
do Ministério de Minas e Energia, nos anos 1980/1990 fez uma campanha de
incentivo para a garimpagem ser alavancada na região, sem se preocupar com o
disposto na Lei da Política Ambiental, de 1981.
Em Brasília e em Santarém
(1983) foram feitos dois encontros para promover a extração aurífera a qualquer
custo. Com este método conseguiram evitar a quebra do Brasil junto a comunidade
internacional.
O garimpeiro, para
aumentar a recuperação das finas partículas de ouro, usa o mercúrio na sua
forma líquida. Este metal líquido tem a propriedade de capturar os grãos de
ouro formando um amálgama. Na realidade, é este mesmo amálgama que foi muito
usado até pouquíssimo tempo atrás, nas obturações e próteses dentárias.
Ou seja a maioria dos
cidadãos de meia idade carregam uma fonte de mercúrio em sua boca. No garimpo,
a operação com o mercúrio consiste em colocar grandes quantidades deste metal
líquido nas caixas (sluice boxes) em posições estratégicas onde o ouro estará
sendo também concentrado. O fluxo da água faz o ouro entrar em contato com o
mercúrio sendo imediatamente aprisionado.
O processo é, em geral,
muito rudimentar e causa grandes perdas de mercúrio que é transportado pelas
águas para os rejeitos onde se infiltra. O amálgama que não foi perdido na
garimpagem é, após alguns dias, processado pelo garimpeiro com o intuito de
recuperar o ouro e parte do mercúrio metálico. Este processo é a maior fonte de
contaminação dos garimpeiros, pois nele é usado o maçarico, que vaporiza o
mercúrio deixando somente o ouro na sua forma sólida.
Os vapores de mercúrio,
pela inexistência de equipamentos de proteção, máscaras e capelas, eram,
parcialmente inalados pelos garimpeiros e despejados na atmosfera.
Sobre a postagem do
professor Manuel Dutra no Blog do Jeso – Tapajós, duas cores: dragas de
garimpagem? – seria conveniente que se tratasse deste assunto com mais
preocupação e envolvimento maior dos interessados.
Nota-se, inicialmente, que
poucas pessoas se manifestam sobre o assunto. Parece que ainda não caiu a ficha
de que somos responsáveis, hoje, pelo que pode acontecer num futuro próximo.
O Relatório Brundtland faz
uma crítica ao modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados
e reproduzido pelas nações em desenvolvimento e ressalta os riscos do uso excessivo
dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas,
em 1987.
O IBAMA, em uma cartilha
sobre Normas e Procedimentos para Licenciamento Ambiental no Setor de Extração
Mineral, em 2001, fazia referencia aos garimpos como “extração mineral através
de métodos rudimentares e tradicionais, sem conhecimento do jazimento e sem
projeto técnico específico”, mas ao passar as atribuições de licenciar para o
estado (membro do SISNAMA) dá a impressão que se livrou de um problema, pois
deveria, pelo convenio assinado, ter controle do procedimento.
A SEMA, no caso dos
garimpos tapajônicos, apesar de toda a oposição e críticas às suas normas
estabelecidas resolveu fazer do modo que queria fazer, colocando regras
minerais (que são exclusivas da União) e regras ambientais em rio federal (do
IBAMA).
Em pouquíssimos momentos
estabeleceu um cronograma de fiscalização das atividades licenciadas, para
verificar se o que estava escrito nos PCA’s (Planos de Controle Ambiental)
correspondia ao trabalho efetuado. A desculpa de que o estado é continental só
reforça o desmembramento do Tapajós, que vive sem infraestrutura, serviços,
saúde etc. a nível estadual.
Parece que esta região é
um simples apêndice num corpo humano: uma cirurgia pode resolver o problema.
A SEMMAP, órgão ambiental
municipal de Itaituba está licenciando ambientalmente até em áreas já
requeridas, no DNPM, por terceiros. E a legislação mineral ainda preserva o
direito de prioridade, isto é, quem pede primeiro tem preferência até que seja
indeferido o requerimento anterior e cumprido os trâmites previstos.Além,
também, não ter pessoal para fiscalização e licenciamento a contento.
Da última vez que uma
autoridade pública se manifestou, o mesmo foi linchado em público. Refiro-me ao
deputado federal Dudimar Paxiuba, que resolveu lançar seu discurso ambiental em
direção ao Tapajós e, numa audiência pública em Itaituba, por incentivo das
palavras inconsequentes de outros deputados (Puty e Zé Geraldo) e de João da
Delub, um comerciante/garimpeiro do Creporizão, co-responsável por uma das
maiores degradações ambientais no Tocantinzinho, e tomou uma vaia estrondosa
pelos participantes da audiência.
Aqui, as ONG’s não
aparecem para brigar pelo bem estar comum: preferem o Ártico, onde tem mais
holofotes.
E, nós, pobres mortais
começamos por onde?
Quem, como eu, trabalha
autonomamente com estes garimpeiros não consegue, em sã ou demente consciência
incutir um modelo ambiental sustentável ou, como agem muitos colegas: deixa
estar para ver como é que fica.
Ou perde o cliente para
outros menos preocupados com a questão ambiental e mais com a financeira!
Fonte/Fotos:
jesocarneiro.com.br



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