'TERRUÁ PARÁ' MISTURA RITMOS EM SHOW COM MAIS DE 50 ARTISTAS PARAENSES

Mais de 50 artistas fazem parte do Terruá Pará.

Espetáculo homenageia maestro Waldemar Henrique.
Apresentações serão em Belém e São Paulo.
No momento em que Jaime Melo decidiu se mudar de Castanhal, nordeste do Pará, para São Paulo, não imaginava que suas experiências com remixes fossem atrair a atenção de tanta gente – de produtores de festas a Caetano Veloso, todos se renderam a originalidade do paraense, que recusa o título de DJ e se inspira em artistas como Rihanna e Björk para misturar batidas próprias a músicas conhecidas.
“Quando via as pessoas me comparando ao Caetano Veloso, os movimentos de ruptura e tal, eu ficava bem ‘bolado’ porque ele foi grande demais e eu não sou nada disso. Agora sigo em frente lisonjeado e com uma fome contida de crescer. Depois que o conheci, tomei tento do quanto ele me inspira. Caetano é precioso, cheio de letras que esbarram no pop, mas que carregam mensagens absolutamente valiosas”, relata.
Após tantos elogios, o artista foi selecionado através de edital para participar do Terruá Pará, um espetáculo que reúne diversos representantes da música do estado, entre revelações e artistas consolidados. “É a primeira vez que participo de algo assim tão grande, com uma direção tão bonita e mapeamento de palco. Eu me joguei de cabeça, estou concentrado, porque é uma vitrine para mostrar o meu trabalho para mais pessoas. Vou cantar uma música de Waldemar Henrique, mas com as minhas reverberações e camadas de voz”, revela.
Diversidade musical
Com direção de Carlos Eduardo Miranda e Cyz Zamorano, o Terruá é um show organizado pelo governo do estado que será realizado nesta sexta-feira (1º) no Portal da Amazônia, em Belém, e nos dias 13 e 14 de novembro no shopping Eldorado, em São Paulo. Segundo Miranda, a apresentação conta uma história da música paraense, que “começa no corpo e termina na alma”: “O show começa introspectivo, para você prestar atenção, e termina em dança”.
Segundo o diretor, a variedade é uma das principais características do espetáculo: serão 50 artistas, entre os selecionados em edital, os convidados pela curadoria e a banda base, dividindo o placo durante 2 horas que misturam gerações da música paraense. “A gente sempre apresenta coisas novas, entre renovações, resgates e nomes em voga, sempre focando na relação que essas tendências terão entre si”, conta o Miranda, que percebe um aumento da qualidade musical do estado nos últimos anos. “A música pop do Pará surge misturando o rock, os artistas estão libertos da música regional, e isso mostra um amadurecimento”, pondera.
Esta é a terceira edição do show, que começou em 2006 com uma apresentação de músicos do estado no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Nas edições anteriores, a apresentação contou com a participação de 99 artistas, incluindo nomes que se destacaram no mercado nacional, como Gaby Amarantos, Lia Sophia e Gang do Eletro.
“O Terruá não só aumentou a exposição, mas também a vontade do artista se expor, pelo sucesso que os músicos do estado estão tendo. Isso motiva todos os outros e faz com que a cena continue se renovando. Eu faço um esforço para que todos ‘bombem’, é meu esforço como diretor do Terruá: todo mundo tem um espaço e um momento especial”, disse Miranda.
Novos projetos
Assim como Jaloo, a cantora Sammliz participou da seletiva para o festival através do edital junto com a sua banda, Madame Saatan. O grupo, aclamado pela crítica de rock após o lançamento do álbum “Peixe Homem", de 2011, acabou ficando de fora - mas a vocalista chamou atenção da direção do evento, e foi convidada para participar do show.
“O Madame Saatan participou da seleção, fez um pocket show bem bacana com uma recepção bastante calorosa do público, mas não foi selecionado pelos jurados. Tempos depois fui convidada pela direção artística do Terruá para participar do evento e fiquei muito feliz. Temos uma quantidade incrível de ótimos artistas em nosso estado, e ter sido lembrada por dois grandes produtores entre tantos é algo muito positivo”, comemora Sammliz.
Um dos destaques do show, a vocalista promete mostrar um trabalho diferente do rock pesado da banda. “Sou uma cantora que possui várias nuances. Realizar trabalhos e fazer parte de outros projetos onde atuo sozinha traz oportunidades de mostrá-las ao público que me conhece apenas como a vocalista do Madame Saatan, banda que montei com meus parceiros e que representa uma dessas facetas. Venho trabalhando em meu projeto solo há algum tempo, desde quando ainda estava morando em SP. Estou em processo de pré-produção, ensaiando, gravando e chamando músicos com quem me identifico para dividir comigo essa nova experiência”, revela.
Para o Terruá, Sammliz promete duas participações bem distintas. “Farei duas entradas e uma delas será uma homenagem ao maestro Waldemar Henrique, que sempre que canto me arrepio dos pés à cabeça. A música, que aliás foi um presente por eu já adorá-la e ter com ela uma forte identificação, vem em um arranjo lindo e denso. Tenho a impressão que será uma surpresa para quem só me viu com a banda da qual faço parte.  A outra participação será um encontro de peso. Finalmente o rock se fará presente e haverá distorção no Terruá, só digo isso”, brinca.
Troca de experiências
Salomão Habib é um dos mais experientes artistas do Terruá: são 31 anos de carreira dedicados ao violão erudito, pesquisa da história da música no Pará, canções infantis e músicas indígenas, que renderam 24 CDs, 2 LPs, 2 livros e 1 DVD. Experiência que ele faz questão de dividir com uma nova geração de músicos, que estarão presentes no show. "O Terruá mostra um pouco do mosaico cultural que a Amazônia tem. Você pode ter anos de profissão, mas trazer novos talentos para o espaço sempre soma, já que o nosso movimento é único e o que importa é o respeito pela autenticidade da obra", avalia.
Segundo Habib, participar de um evento como o Terruá é fundamental para o desenvolvimento dos novos talentos. "O que o jovem tem que entender  é que acima do exotismo da roupa e cabelo está a disciplina do estudo do instrumento e técnica vocal. O artista que acha que talento é tudo se dilui. Arte demanda muito mais suor do que prazer", pondera.
Durante esta troca de experiências, o violonista conta que também se beneficia do contato com os recém-chegados. "Dá pra aprender que o corpo envelhece, mas as almas não tem idade. Temos, dentro de nós, uma juventude eterna, acima de qualquer ruga ou cabelo branco, e trabalhar na mesma sintonia que estes jovens reforça isso", conclui.
Serviço:
A primeira apresentação do Terruá Pará será nesta sexta-feira (1º), às 20h, em Belém. O show terá sessões em São Paulo nos dias 13 e 14 de novembro. Mais informações no site do Terruá Pará.

Fonte/Foto: Ingo Müller – G1/Renato Chalú

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