PEC PROPÕE PLEBISCITO APENAS NO OESTE DO PARÁ
Segundo autor da proposta, lei deixa duplas
interpretações.
Plebiscito realizado em 2011 ocorreu em todo o Pará.
Um Projeto de Emenda à
Constituição (PEC), apresentado pelo deputado federal Lira Maia (DEM-PA), no
último dia 16 de outubro, propõe realizar um novo plebiscito para a criação do
estado do Tapajós somente na região oeste do Pará, e não em todo o estado. A
intenção da PEC 327/2013 é alterar o texto do artigo da Constituição Federal
que prevê a realização de consulta popular para a divisão territorial de
estados.
A proposta foi enviada à
secretaria geral da Câmara, e aguarda o despacho do presidente da casa
legislativa para ser enviada à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara
(CCJ), que irá analisar a constitucionalidade.
O plebiscito que teve o
objetivo de saber a opinião da população sobre a divisão territorial do Pará
para a criação dos estados Tapajós e Carajás, realizado no dia 11 de dezembro
de 2011, ocorreu em todo o Estado após decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF), que considerou como área diretamente interessada todo o território
paraense. O resultado foi 66,59% de votos contra a criação do Carajás, e 66,08%
contra a criação do Tapajós.
“O nosso principal
adversário foram as regras do STF, que decidiu realizar o plebiscito no estado
todo, embora na Constituição constasse que deveria ser realizada na área
diretamente interessada. O STF interpretou que a área interessada era o estado
todo”, declara o deputado federal Lira Maia. “A PEC tem a finalidade de mudar a
redação do artigo para que o plebiscito seja somente na área a ser desmembrada
e não deixar duplas interpretações”, completou.
Para o advogado
especialista em direito público e administrativo, José Olivar, é necessário
estabelecer com precisão a área onde a consulta popular deve ser feita. Ele
acredita que a área diretamente interessada é a que quer se desmembrar. “A
última palavra foi do Supremo Tribunal. Acho difícil que a PEC seja aprovada
porque não é somente o Pará, mas outros estados são contra”, afirma.
Já o professor de Direito
Constitucional da Universidade da Amazônia (Unama), em Belém, Jeferson Bacelar,
concorda que o artigo da Constituição que trata sobre a consulta plebiscitária
não deixa claro o sentido da expressão ‘população diretamente interessada’, mas
que após decisão do STF, o termo ficou esclarecido. “O ministro Dias Toffoli,
na Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 2.650, de 2011, afirmou que
população diretamente interessada é aquela diretamente afetada nos seus interesses
políticos, histórico-culturais e econômicos. Assim, não restam mais dúvidas
quanto ao sentido da expressão, e no caso do Pará, qualquer nova iniciativa,
fundamentada no texto constitucional vigente exigirá a participação de
população do Estado”, afirmou.
Mesmo com a derrota nas
urnas, a população de Santarém, principal município do oeste do Pará, ainda tem
esperanças de que a região seja independente. A doméstica Benedita Silva de
Jesus, de 53 anos, acredita que o estado do Tapajós será criado porque a luta é
antiga. “Pelo tempo que as pessoas vêm lutando. Sei que demora um pouco porque
as coisas não se resolvem de um dia para o outro”, acredita. “Se fosse criado o
estado, melhoraria na área urbana que o povo sofre mais. É um entra e sai de
governo e não se resolve nada. Não depende apenas do plebiscito, mas dos
governantes também”, afirma.
A agricultora Nilzete
Silva dos Anjos, de 52 anos, mantém a esperança de independência da região.
“Iria gerar mais emprego, iria melhorar a saúde e a educação. As pessoas do
interior enfrentam muita dificuldade para chegar a Santarém. As crianças fazem
o primeiro e segundo ano pelo ensino modular, mas não é o suficiente e tem que
vir para Santarém e não há como mantê-los na cidade. Às vezes, eles têm uma
profissão, mas não há trabalho”, afirma.
O professor Milson Rocha,
de 51 anos, crê que a PEC seria um passo dado para a criação do novo estado. “O
oeste do Pará está empenhado. O estado, em um todo, não tem interesse porque os
governantes tem arrecadação aqui da região. Acredito que, se houver o
plebiscito na região, que é a parte interessada, é aprovado porque o povo
quer”, acredita.
Coleta de assinaturas
O Instituto Cidadão
Pró-Estado do Tapajós (ICPet) pretende coletar 1,5 milhão de assinaturas, até
junho de 2014, para enviar ao Congresso Nacional um Projeto de Lei de
Iniciativa Popular visando a realização de um novo plebiscito sobre a divisão
territorial do Pará, com a votação sendo feita apenas na região oeste do
Estado.
Segundo o coordenador do
instituto, Edivaldo Bernardo, a ideia em reavivar a esperança da independência
da região surgiu após ser constatado que a maioria dos eleitores de municípios
pertencentes à região votou à favor da divisão. “Naquele momento, foram 27
municípios que participaram. Tivemos 93% à favor, e isso é quase uma
unanimidade. A maioria dos votos contra foi de pessoas de fora. Estamos dando
uma resposta a essas pessoas que entendem que nosso desenvolvimento, nossa
qualidade de vida vai melhorar muito se tivermos independência política e
administrativa”, lembra.
A coleta de assinaturas
pode ficar mais fácil com outra PEC, aprovada pelo Senado, que altera artigo da
Lei nº 9.709, de 1998, reduzindo o número de assinaturas de aproximadamente 1,3
milhão para aproximadamente 650 mil pessoas. Segundo a lei, a apresentação de
lei de iniciativa popular à Câmara dos Deputados deve ser assinada por, no
mínimo, 1% do eleitorado nacional. Com a redução, seriam necessárias apenas
0,5% de assinaturas.
“Isso diminui muito o
tempo que vamos levar para coletar assinaturas e o custo”, afirma Bernardo.
Segundo ele, a coleta de assinaturas e a PEC apresentada pelo deputado federal
Lira Maia somam forças em busca de um novo plebiscito. “O projeto de iniciativa
popular está pedindo a mesma coisa. Se os políticos e empresários se envolverem
mais, convocando o povo a participar, em pouquíssimo tempo será criada essa
nova unidade federativa”, acredita.
Segundo Bernardo, para o
novo projeto de criação do estado do Tapajós estão incluidos 23 municípios,
pois Altamira, Senador José Porfírio, Porto de Moz e Vitória do Xingu foram
excluídos devido ao fato de que a maioria da população desses municípios votou
contra a divisão do Pará durante o plebiscito de 2011.
A proposta que diminui a
coleta de assinaturas para projetos de iniciativa popular seguiu para
apreciação da Câmara dos Deputados.
Fonte/Arte:
João Machado – G1 Santarém
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