GABY AMARANTOS LEVA TOM ZÉ A FESTA DE APARELHAGEM, EM BELÉM
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Tom Zé e Gaby Amarantos |
"Toda a vida sonhei com isso", diz Tom Zé,
que pela 1ª vez veio ao Pará
Músico dançou o "treme" e roubou a cena na
festa de tecnobrega.
Tom Zé não sabia
exatamente o que esperar da noite da última quinta-feira (14), a sua primeira
na capital do Pará. Conhecido pela originalidade da sua música e o deboche
crítico de suas composições, o baiano chegou a Belém curioso pela música
popular nascida na periferia da cidade. "Quero conhecer a
aparelhagem", anunciou.
Em mais de 40 anos de
carreira, ele circulou pelo Brasil e foram inúmeras as idas aos mais diversos
países da Europa, mas ele nunca tinha sentido o calor úmido dos trópicos
amazônicos. "Foi mais fácil chegar a Alemanha do que em Belém, mas
aconteceu", comemora o artista, um dos maiores nomes do Tropicalismo e que
influenciou gente como David Byrne, da banda norte americana Talking Heads.
Como anfitriã, Gaby
Amarantos, cantora que desponta como a maior representante do tecnobrega,
mistura de brega e batidas eletrônicas que lota casas de shows no estado.
"Que bacana poder provocar esse interesse nele, que de repente me viu em
algum lugar, ou algum outro colega daqui falando dessa cultura, e que veio até
aqui para querer conhecer. Me sinto, além de estar oferecendo esse prato que
ele nunca degustou, como se fosse uma missão cumprida. Quero que ele tenha a
melhor das impressões", diz a paraense, que logo é retribuída com uma
declaração. "Tenho paixão pela Gaby", derrete-se Tom Zé, após ser
convidado para jantar no apartamento da cantora, localizado no bairro do
Jurunas, periferia da cidade.
No cardápio, um banquete
regional: filhote assado e arroz paraense, além de filé de gó, espécie de peixe
regional e popular no Pará, e farofa com castanha. "Uma coisa delicada,
sem muito tempero. Me lembrou o sabor da comida que minha mãe preparava",
revela o músico.
Luzes, amplificadores e pirotecnia
Convidado a participar do
Festival Se Rasgum 2013, Tom Zé desembarcou em Belém esperado por muitos jovens
fãs, gente que sequer havia nascido quando, no emblemático ano de 1968, o
músico lançara seu primeiro disco.
Entre as mais ansiosas
tietes estava a cantora Aíla, de 25 anos. "Espero para ouvir Tom Zé ao
vivo desde que nasci. Poder conhecê-lo é um honra enorme. Sou fã de Tom Zé não
somente como artista, mas como personalidade e homem que é", declara a
artista, que participou do jantar, ao lado da cantora Tulipa Ruiz, que também
veio para o festival.
Depois do jantar, já à
caminho da aparelhagem, Tom Zé segue acompanhado da esposa Neusa e dos músicos
de sua banda, além de Gaby. Ele conta que, durante o jantar, a cantora mostrou
a ele um pouco do brega de raiz e da guitarrada. "Mas o que vamos ver
agora tem muito barulho, muita dança, é frenético", adianta Gaby.
Em uma casa de show
localizada na avenida Augusto Montenegro, bem distante do centro de Belém, a
van que leva o grupo já sente o impacto das batidas da música e, literalmente,
treme. Ao entrar na festa, todos sobem até um camarote. O que toca é um pout
pourri dos sucessos do momento: sertanejo universitário, pagode e axé, tudo
remixado a batidas eletrônicas.
Ao saber dos ilustres
convidados da noite, DJ Juninho, que comanda a aparelhagem Super Pop, muda o
tom do set list e o tecnobrega começa. Gaby cantarola as músicas, hits que
marcaram seu passado não tão distante, de quando a artista tocava em shows pelo
interior do Pará. "Viajava de barco. Eram sete, doze horas de viagem.
Tinha vezes que a gente dormia no chão do barco porque não tinha espaço para
atar a rede", lembra.
Instigado pelo som
ensurdecedor dos amplificadores, Tom Zé se anima e faz o "S" com as
mãos, símbolo da aparelhagem Super Pop. "Ele está vendo a aparelhagem de
uma forma como nunca vi ninguém ver, de uma forma sensível. Para ele importa o
som, o grave, a intensidade, o sentimento que essa música causa. Ele está
intrigado com esse barulho, ele fica instigado. Você vê a sabedoria e inteligência
dele, a lucidez musical", declara.
Nave do Som
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DJ Juninho, da Nave, ensina Tom Zé a fazer o "S". |
O baiano observa
atentamente o desempenho do DJ, que conta com aparatos para animar o público:
jogo de luz, telas de led, explosão pirotécnica, com direito a fogos de
artifício, confete e serpentina.
"Estou como criança
viajando no carro de Papai Noel. Parece incrível, toda a vida sonhei com uma
coisa dessas, que o som por si só fosse uma palavra, uma vibração, uma ordem. E
agora tenho ouvidos no peito, nas pernas, nos braços, no traseiro, em todo
lugar", diz o músico, que protagonizou o momento mais surpreendente da
noite.
Chamado por DJ Juninho, o
baiano sobe na Nave do Som, como é chamada a parafernália tecnológica em forma
de nave intergaláctica, onde fica o DJ e sua equipe. Ali, como convidado de
honra, Tom Zé, aos 77 anos, toma conta da cena: dança o "treme", remexendo
os ombros e imitando um robô com os movimentos de braços e pernas. Ele ensaia
passos de funk e brinca, levantando a blusa.
"Essa aparelhagem
constrói, no nosso velho corpo, um novo homem. Eu acho que a história da
ciência, aquela que acompanha o Homo Sapiens, não acompanha agora essas
novidades, não estão catalogadas naquela sequência de desenvolvimento das
sensibilidades humanas, ouvido, olfato, olho, cheiro...", analisa o
artista, que deixa a Nave do Som sob os olhos surpresos e algum estranhamento
por parte do público.
"Fiquei pensando
muito na questão cultural do nosso país, o quanto a gente tem que evoluir nesse
sentido. Essas pessoas que estão aqui na festa não sabem quem é esse gênio da
música brasileira", analisa Gaby Amarantos, entre muitos pedidos de fãs
que a param para pedir fotos.
Encantamento
Diante do entusiasmo de
Tom Zé, Gaby também se revela satisfeita com a experiência inédita. "Penso
que ainda tenho muito o que aprender e é bacana poder ver um dos maiores intelectuais da música brasileira totalmente
pasmo com esse movimento cultural que a gente faz. Ele é um dos caras mais
geniais e loucos da música brasileira, por isso ele veio aqui", diz.
"Foi incrível!",
resume Daniel Maia, guitarrista da banda que acompanha Tom Zé, a respeito da
visita à festa de tecnobrega."Ele é um cara que fala e se movimenta como
um garoto de 15 anos, muito ávido e cheio de vigor", diz Aíla, incrédula
diante da energia do artista de quase oitenta anos. Nele, nada lembrava alguém
octogenário. Tom Zé mais parecia uma criança após ganhar o presente mais
desejado.
"Agora vejo que a
aparelhagem do meu sonho é dez pontos abaixo dessa. Agora, a realidade, vejo
que essa que é mais alta do que o meu sonho. Tom Zé agora aqui não existe,
virou um ser do passado", declara o músico extasiado, já com a camiseta
molhada de suor, após a performance em cima da Nave do Som.
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Aparelhagem da Nave do Som. |
Fonte/Fotos:
G1/Gil Sóter
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