EMANCIPAÇÃO: CONGRESSO SE PREPARA PARA DERRUBAR VETO
Marabá está entre os poucos municípios bem avaliados pela Firjan no quesito das finanças. |
O Congresso Nacional
prepara uma contra reação para derrubar o veto integral da presidente Dilma
Rousseff ao Projeto de Lei Complementar 416/08 que regulamenta os procedimentos
para a criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios. Aprovado e
comemorado pelas duas casas legislativas – Senado Federal e Câmara dos
Deputados – o projeto estabelece critérios como viabilidade financeira,
população mínima e plebiscito do qual participaria toda a população, tanto dos
futuros municípios quanto daqueles que sofrerão o desmembramento.
A primeira ação será ouvir
o ministro do Planejamento, Guido Mantega, cuja pasta elaborou um parecer
contrário aos termos do projeto e que embasou a presidente Dilma em sua decisão
de veto integral. Na semana que passou, a Comissão de Integração Nacional,
Desenvolvimento Regional e Amazônia da Câmara dos Deputados aprovou
requerimento para convidar o ministro Mantega a prestar esclarecimentos sobre
os motivos que o levaram a informar que “a criação de novos municípios seria
uma medida que prejudicaria a sustentabilidade fiscal do Brasil”.
É o deputado Giovanni
Queiroz (PDT-PA) o responsável pela autoria do requerimento. Ele disse que quer
ouvir explicações de como a criação de cerca de 100 ou 200 municípios
impactaria negativamente a sustentabilidade fiscal e a estabilidade macroeconômica
do Brasil.
“A declaração é
conflitante, principalmente com a prática do governo de aumento expressivo do
número de ministérios, e, consequentemente, de cargos em comissão. De que modo
a criação de novos municípios prejudicará a economia se já existem gastos
expressivos para a manutenção de 39 ministérios?”, declarou o parlamentar.
O veto 505/13 foi
publicado no Diário Oficial da União no dia 14 de novembro pela Presidência da
República. Segundo a argumentação apresentada pela presidente, a medida
permitiria “a expansão expressiva do número de municípios do país resulta em
aumento de despesas com a manutenção de sua estrutura administrativa e
representativa”.
“Esse crescimento de
despesas não será acompanhado por receitas equivalentes, o que impactará
negativamente a sustentabilidade fiscal e a estabilidade macroeconômica”, diz a
justificativa do veto. Outro argumento usado é de que haveria maior
fragmentação na repartição dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios
(FPM), o que prejudicaria, principalmente, os municípios menores e com maiores
dificuldades financeiras.
A principal transferência
de recursos da União para as prefeituras é o FPM, formado por 22,5% da
arrecadação do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados.
DEPENDÊNCIA
Recente estudo realizado
pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro mostrou que pelo
menos 84% dos 5.570 municípios brasileiros sobrevive quase exclusivamente de
repasses de recursos estaduais e federais. As receitas próprias destas
prefeituras não superam 10% do orçamento.
Mas, como provou Giovanni
Queiroz e os colegas parlamentares da Comissão de Integração Nacional, a
resistência dentro do Congresso Nacional não deverá levar em consideração os
argumentos do Ministério do Planejamento. Comemorada por políticos de todas as
esferas e partidos, a aprovação, tanto no Senado quanto na Câmara, foi
precedida de ações de moradores e lideranças de distritos que pretendem se
emancipar. No Pará, por exemplo, a expectativa é de que sejam criados 21 novos
municípios, passando dos atuais 144 para 165.
Levantamento da União
Brasileira em Defesa da Criação dos Novos Municípios (UBDCNM) mostrou que
Maranhão, Bahia, Ceará e Pará são os estados onde mais municípios poderão ser
criados.
Em todo o país existiriam
185 distritos em condições de dar início ao processo de emancipação. O Pará tem
dois exemplos emblemáticos: Icoaraci, distrito de Belém com mais de 400 mil
habitantes, que luta por sua emancipação; e Castelo dos Sonhos, que está distante
mais de mil quilômetros da sede, que é Altamira. Na Assembleia Legislativa do
Estado do Pará tramitam 51 propostas de criação de novos municípios.
Mas, com o veto da
presidente Dilma, os desejos de emancipação foram frustrados. Aprovada em 1996,
uma emenda à Constituição Federal, proibiu a criação de novos municípios por
leis estaduais e definiu que isso só poderia ser feito por meio de autorização
em lei complementar federal.
Para o presidente da
UBDCNM, Augusto César Serejo, os pedidos de emancipação surgiram devido à
distância dos distritos em relação ao núcleo urbano dos municípios e à falta de
serviços públicos básicos para as populações dessas áreas.
“Em Altamira, por exemplo,
existe um distrito de cerca de 15 mil habitantes que fica a 1.214 km do centro
do município. No tempo de chuva, ficam praticamente seis meses isolados”,
exemplificou Serejo.
Pesquisador do Ipae diz que benefícios superam gastos
Segundo o pesquisador do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo de Tarso Linhares, que
estuda os cerca de 1,5 mil municípios criados de 1988 a 1996, em vários casos
podemos dizer que “a divisão de município foi bem-sucedida”.
Linhares critica o
argumento de que novos municípios geram mais gastos públicos. “Muitas coisas
têm gasto, mas o que se espera é que se traga mais benefício do que custo. A
pergunta é: em que casos isso se revela positivo e quando é negativo?”.
O senador Mozarildo Cavalcanti
(PTB-RR), autor do Projeto de Lei Complementar que deu origem ao texto vetado
por Dilma, afirma que, transformado em lei, o projeto não vai aumentar o número
de cidades indiscriminadamente.
“Não vejo problema algum
em a presidente Dilma Rousseff ter vetado a proposta na íntegra”, argumenta.
Para o senador, o veto foi um gesto garantido pela Constituição à presidente da
República. Ele espera apenas que quando a análise do veto for encaminhada ao
Congresso Nacional, os 312 deputados e 53 senadores que foram a favor da
proposta mantenham seus votos de apoio à proposição.
FUNDO REPARTIDO
Mozarildo Cavalcanti
também garantiu que a criação de municípios não vai representar aumento de
gastos nem para os governos estaduais, nem para o governo federal. “Não vai
haver aumento de custos para o governo federal nem para o estadual porque o que
nós propomos, na verdade, é que o município que for criado vai dividir o FPM
[Fundo de Participação dos Municípios] que o município maior recebia. Então, o
município que sofreu desmembramento perde um pouco de recurso, mas perde também
a obrigação de gastar naquela área”, completa.
Maioria no Pará sofre situação difícil
A interpretação dos
técnicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro sobre as
possibilidades da nova proposta é menos otimista. A edição 2013 (dados de
2011), do Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF) mostrou que mais de 91 dos
municípios paraenses foram classificados em situação fiscal “Difícil” e
“Crítica”. O pior entre os avaliados é Curuá. Vinte e cinco prefeituras do Pará
estão entre as 500 piores gestões do país.
A situação fiscal é
difícil ou crítica para quase 65% dos municípios brasileiros, enquanto a
excelência na gestão fiscal está restrita a 2% das cidades do país. As regiões
Sul e Sudeste concentram os municípios com melhor qualidade de gestão fiscal,
com 81 cidades entre as 100 melhores do Brasil. Do lado oposto, aparecem Norte
e Nordeste, com 93 municípios entre os 100 piores no que diz respeito à
eficiência na gestão orçamentária das prefeituras.
A avaliação da Firjan leva
em consideração cinco indicadores econômicos: gastos com pessoal, receita
própria, investimentos, liquidez e custo da dívida do município. As prefeituras
paraenses não conseguem equilibrar os gastos com a folha de pagamento com a
receita própria.
Entre os municípios mais
bem avaliados pela federação carioca destacam-se Parauapebas, Curionópolis e
Marabá, todos recebedores de royalties (compensações) pela exploração mineral.
E os dados da Firjan comprovam isso, ou seja, a comparação de dados demonstra
que nos municípios onde estão implantados projetos de mineração observa-se um
processo de desenvolvimento mais avançado que nas demais prefeituras paraenses.
Parauapebas, no Sul do
Estado, que possui projetos de mineração da empresa Vale é o maior exemplo de
superação e está entre os municípios mais desenvolvidos do Pará, na segunda
colocação, perdendo apenas para a capital paraense. Marabá também experimentou
uma melhora no desenvolvimento por causa de projetos minerais. O município é o
principal polo dos projetos da Serra do Carajás, da Vale, e saiu de um IDHM de
0,4677 em 2000 para 0,6632 em 2009. O município saiu de uma condição de
desenvolvimento regular para moderado e hoje é o quinto mais desenvolvido do Estado,
de acordo com a pesquisa realizada pela Firjan.
Além de gerar emprego e
renda, os projetos de mineração contribuem para melhorar a arrecadação dos
municípios, que passam a oferecer melhores serviços públicos, entre eles saúde
e educação, aferidos na pesquisa da Firjan. Houve uma melhora significativa
nestes índices nos municípios paraenses que receberam grandes projetos de
mineração nos últimos dez anos.
Fonte/Foto: Diário
do Pará/Marcelo Lelis
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