MANAUS DE ANTIGAMENTE: TERRA DE INTRIGAS E FUTRICAS - PARTE III (ÚLTIMA)


A arca de Noé moderna
Recentemente teve um caso igual ao que agora vou contar. O leitor vai se lembrar do presidente da República, Paes de Andrade, que assumiu por uns dias lá no planalto central e partiu com grande pompa para a sua Mombaça querida, levando de tudo um pouco, como a arca de Noé.
Em Manaus nada disso é novidade. Por aqui foi monsenhor Coutinho, padre e governador que resolveu homenagear sua terra natal. Pousando na cadeira real por pouco mais de cem dias, não deixou por menos. Montou uma excursão em barco oficial levando gente que só, e foi visitar Borba para abraçar os compadres, afinal, só ele era capaz de batizar, crismar, casar e nomear.
A viagem foi um colosso: música a bordo, bandeirinhas no mastro do navio, muitos foguetes e doces em profusão. Eu não seis e é verdade, mas o que o povo dizia era que ele pedira a benção de Santo Antônio para conseguir um empréstimo daqueles que vinham em libras esterlinas e viravam estrelinhas para o povo ver no céu.
Juiz da eugenia
Aberração maior nunca vi, mas li em algum lugar que um juiz no rio Purus, chamado Ferrão Castelo Branco resolveu defender a eu genia em plena floresta, depois de a República chegar. É que o tal Ferrão se negava a fazer casamentos que unisse brancos e negros, pois tal coisa não admitia.
E o que fez o povo... varreu ele de lá a custa de muita briga, mandando parar em Fonte Boa por lá ficando bom tempo, não sei se com a mesma mania de censurar o amor.
Lancha quase herança
O que ninguém desculpava e não cansava de falar, era o caso daquela lancha “dona Florinda”, assim chamada em homenagem à mãe do governador Eduardo Ribeiro, comprada por oitenta contos para servir ao Estado. Poucos anos depois, com novo governador, no tempo do Constantino, este entesou de querer a lancha para seu próprio lazer.
Para evitar falação desse povo de língua de trapo pagou ao Estado quinze contos e nada mais, fazendo o maior “pendura” que podia praticar. Se foi escândalo não sei, mas o fato corria a boca pequena em 1906.


*Robério Braga - especial para A CRÍTICA

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