MÉDICOS SE QUEIXAM DE INFRAESTRUTURA NO INTERIOR DO AMAZONAS
Uma mulher abatida bate na
porta do consultório. "Sinto dor, febre e mal-estar já faz 15 dias. A
gente mora longe, tem que vir de barco", diz Elcilene Ribeiro Gonçalves,
29, que vive em uma comunidade ribeirinha do rio Solimões.
Após procurar no hospital
estadual --unidade de saúde pequena e maltratada--, a mulher encontra um médico
no posto de saúde indígena, mantido por uma ONG.
"Me parece
virose", diagnostica o peruano Lorenzo Giovanni Marcos, 41, sem nem sequer
examiná-la, enquanto prescreve a receita.
Trabalho em locais
precários, difícil acesso e salários atraentes, mas com futuro incerto, compõem
o universo de médicos no interior do maior Estado do Brasil.
Nos relatos de
profissionais com experiência nas cidades mais longínquas, há uma expressão
recorrente: falta de estrutura.
"O médico que já
trabalhou no interior do Amazonas conseguirá trabalhar em qualquer lugar do
Brasil", afirma Joelison Adriano de Carvalho, 31, que já passou por
Manacapuru, Juruá e Coari, e hoje atua em Santa Catarina.
O interior do Amazonas
abriga 1,6 milhão de habitantes, quase metade da população do Estado --na
capital, Manaus, moram 1,8 milhão de pessoas, segundo censo do IBGE de 2010.
"Já levei três
pacientes em três ambulâncias diferentes de Manacapuru até Manaus [em comboio].
Não havia monitor, então não tinha como saber se estavam vivos. Sedei os três e
fui parando pela estrada para checar", lembra o médico Antônio Filho.
Segundo o Conselho
Regional de Medicina do Amazonas, há um profissional para cada mil habitantes
na capital, e 0,6 no interior. No Estado, de acordo com o Ministério da Saúde,
a média é de 1,06 --o índice nacional é de 1,83 por mil habitantes.
MAIS MÉDICOS
MAIS MÉDICOS
A partir deste mês, 82
profissionais selecionados no programa Mais Médicos vão atender pacientes de 33
municípios e áreas indígenas do Amazonas. Serão 40 médicos brasileiros e 42
cubanos.
"Quando os colegas
souberem o que é o interior do Amazonas, como é difícil chegar e sair, como é
difícil a vida, metade vai desistir", diz Mário Vianna, presidente do
Sindicato dos Médicos do Amazonas. Faltam equipamentos e remédios. "Há
locais em que só se chega de barco. Se o paciente precisar ser deslocado, pode
morrer. E é isso o que acontece na maioria das vezes", diz Jefferson
Jezini, presidente do conselho regional.
Os salários são atraentes,
de R$ 8.000 a R$ 15 mil, mas atrasos no pagamento fazem muitos desistirem.
"[O lado positivo] é aprender a lidar com gente", afirma Antônio
Ramalho, professor da Universidade Federal do Amazonas.
Fonte/Arte:
folha.uol.com.br/Folhapress
Nenhum comentário:
Postar um comentário