O GIGANTE ACORDOU? ACHO QUE NÃO...


O que eu vi foi a quase total ausência do meio ambiente nas ruas. Não vi, nem nos noticiários nem no facebook, ninguém pedindo o fim do desmatamento, ou um ar mais respirável, ou mais saneamento, ou menos agrotóxico na nossa comida. Não vi nenhum cartaz sobre a pesca predatória, o lixo nas ruas, praias e oceanos,
Por que isso? Serão esses assuntos que não interessam aos brasileiros? Não acredito. Como bem disse Marina Silva no Fórum Mundial de Meio Ambiente, muitas das mesmas pessoas que estavam nas ruas assinaram a petição contra o novo Código Florestal no ano passado, que assinam a petição do Greenpeace pedindo uma Lei de Desmatamento Zero, que se manifestam pelo facebook a favor da demarcação das terras do índios Guarani em Mato Grosso do Sul.
Será então que essas pessoas acham que há temas mais urgentes a serem tratados, e portanto deixam em segundo plano, na gaveta, as suas reivindicações a favor de um meio ambiente mais sadio e mais inteiro? Pode ser. Parafraseando uma famosa declaração de um índio norte-americano, acho que nós ainda não entendemos que quando a última árvore for cortada, o último peixe pescado, o último animal abatido, nós não poderemos comer o dinheiro.
As reivindicações das ruas são imediatistas. Queremos uma solução imediata para problemas que nos afligem diretamente, que estão diariamente nos noticiários ou que enfrentamos no nosso dia-a-dia urbano. Por isso que a corrupção, a mobilidade urbana, a saúde e a educação dominam a pauta. Mas de nada adiantará o êxito nessas demandas se perdermos a batalha ambiental.
Só para dar um exemplo: para baixar o custo do transporte público, o governo agora quer desonerar o diesel. Para financiar as melhorias que precisamos na saúde e na educação, o governo quer usar os royalties do petróleo. Portanto quanto mais petróleo extrairmos, mais dinheiro teremos para saúde e educação. Ou seja, o resultado é que incentivaremos o consumo de um combustível fóssil cuja queima resultará na aceleração das mudanças climáticas, causando mais enchentes, secas e tempestades, que paralisarão cidades, destruirão lares e ceifarão vidas.
Ninguém está pensando no longo prazo – nem o governo, nem as massas nas ruas, nem os “pensadores” que ocuparam o facebook. Dizem que o gigante acordou. Eu discordo. Ainda estamos sonhando, sem vontade ou coragem de encarar a realidade que corrói nosso único lar.
Por: Roberto Vámos - (Conselheiro do Instituto Eco Amazônia. Formado em Política Ambiental pela Stanford University e tem um Mestrado em Gestão Ambiental pela Yale School of Forestry and Environmental Studies. É representante no Brasil do The Climate Project, ONG fundada por Al Gore. É também presidente da Surfrider Foundation Brasil.)

Fotos: Bruno Boni e amigos (No protesto que reuniu mais de 300 mil pessoas no Rio de Janeiro (20/06), encontramos apenas duas pessoas com cartazes dentro da temática ambiental, excluindo o nosso grupo de amigos) — com Raphael Aragao Geraldelli, Bianca Buzin, Igor Lourenço Oliveira, André Mendes, Roberto Vámos, Johanna Knoppers e Bruno Boni.

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