LITERATURA: “CONTOS DA FLORESTA”, DE YAGUARÊ YAMÃ, RELATA A TRADIÇÃO DE UM POVO, OS SERES ENCANTADOS ... OS SONHOS QUE O FARÃO ACREDITAR NO EXTRAORDINÁRIO

Yaguarê Yamã, novamente nos brinda com mais um livro, sua forma de escrever cada vez mais envolvente: leve, profunda e necessariamente revestida pela tradição do seu povo, dos seres encantados e naturalmente pelo grafismo da cultura dos que preservam a memória.
Neste livro intitulado Contos da floresta, lançado pela editora Peirópolis, Yaguarê conta seis histórias, divididas em duas partes: Mitos e Lendas.
Fiel ao amadurecimento de sua escrita, o autor conversa com o leitor de forma sublime e apresenta um mundo de seres encantados, o sobrenatural ganhando forma, vida e cor.
Na primeira parte – Mitos,  são contadas as seguintes histórias: história do Kãwéra, as Makukáwas e histórias do Mapinguary. A primeira fala do ser alado, conhecido como Kãwéra, guardião de um lugar sagrado cheio de animais de caça. O ser protege o lugar contra o ataque indiscriminado de certos caçadores, sem alma, sem coração.
A segunda história, As Makukáwas, respinga um pouco sobre o caçador que caçou deliberadamente bastante estes pássaros e os deixou para a sua esposa depenar sozinha e que depois de reclamar bastante ganha a ajuda de um homem com pés de pássaro, ávido em arrancar as penas e fazer o trabalho com precisão.
A terceira história descreve sobre o Mapinguary, monstro peludo com uma boca enorme, que caminha pela floresta e vez por outra assusta aqueles que não respeitam os segredos da mata.
Nas três histórias podemos encontrar elementos extraordinários, o olhar que está além do real, que para os povos indígenas podem existir naturalmente e certamente são capazes de ensinar a respeitar os segredos da floresta, entender os mistérios e sentir parte dos segredos da mata.
A segunda parte intitulada – Lendas, também é composto por três histórias. Sendo que a primeira, narra a história do Pescador e a anca. Um pescador nato, o outro caçador de mãos cheias; um querendo seu alimento e podendo ser o alimento, o outro facilitando o alimento e querendo alimento o os dois se tornam companheiros para buscar o que desejam.
A segunda, cujo título é o Bicho e o casamento, conta a história de um homem que tinha quatro filhas, todas lindas e encantadoras como a lua cheia, cheirosas como as flores de manacá. Sempre cortejadas, mas nunca que elas arranjavam um casamento, pois sempre acontecia algo. Até aparecer um rapaz que para casar com uma das filhas tinha a dura missão de matar o determinado bicho que sempre assustava os pretendentes que desejam casar com as filhas daquele homem.
A última história, intitulada Dois Velhos Surdos, navega no rio das visajes, descrevendo de forma arrepiante casos de assombração destes seres do mundo do além. As visajes e os velhos surdos, sozinhos na aldeia abandonada, os únicos que não fugiram, ficaram ali na solidão da surdez. A ignorância de certos fatos fez com que ambos ficassem ali, companheiros no escuro do silencio, na insignificância do barulho.
O único pecado do livro, certamente são as ilustrações; estão aquém dos textos, a ilustradora não soube ler e nem navegar nas águas da essência das histórias.
Navegando nas brisas encantadoras destas histórias escritas por Yaguarê, o leitor irá descobrir praias mágicas, águas que conversam com o tempo e a tradição. Peguem suas canoas, este rio de histórias apresentado por este escritor, lhe apresentará sonhos que lhes farão acreditar no extraordinário.

Yamã, Yaguarê. Contos da floresta. São Paulo: Peirópolis, 2012.


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