PESTICIDAS CONTAMINAM A FRONTEIRA AGRÍCOLA DA AMAZÔNIA
A análise de três
diferentes cenários agrícolas permitiu a cientistas brasileiros e do exterior
avaliarem os prejuízos que podem ser causados pelo uso equivocado de pesticidas
na fronteira agrícola da Amazônia brasileira, bem como apontar possíveis
soluções. Uma das constatações se refere às ocasiões em que a frequência
recomendada de utilização dos produtos foi excedida, chegando até 96% entre
pequenos produtores.
De acordo com o
coordenador da pesquisa, professor Luís César Schiesari, do curso de Gestão
Ambiental da Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH) da USP, os dados são
referentes ao consumo de pesticidas e ao impacto nos mamíferos e organismos
aquáticos daquela região. Os estudos tiveram início em 2005.
Num dos cenários os
pesquisadores avaliaram a atuação de 220 pequenos produtores de frutas e
verduras em quatro cidades da região central da Amazônia, na várzea do rio
Solimões. “Foi lá que detectamos o excesso na frequência de uso dos pesticidas:
em 96% dos casos, pesticidas foram usados com maior frequência do que a
recomendação técnica”, conta Schiesari. Em parte, isso ocorreu porque estes
produtores têm pouca informação e falta assistência técnica para que eles
utilizem adequadamente os defensivos agrícolas.
Os outros dois cenários
foram uma fazenda de cultivo de soja de 80 mil hectares (ha), no Mato Grosso,
na borda da Amazônia, e outra grande propriedade (60 mil ha) com uma plantação
de cana-de-açúcar ainda em formação, na região do rio Negro. “Com alto
conhecimento técnico e recursos, mais expostos ao controle legal, e buscando
mercados mais restritivos, grandes produtores aderiram mais fortemente às
recomendações agronômicas e até mesmo substituíram voluntariamente compostos
mais tóxicos por compostos menos tóxicos”, descreve Schiesari. “No entanto,
mesmo assim, a pegada ecológica aumentou significativamente ao longo do tempo
por causa de um aumento da dosagem, ou porque formulações que são menos tóxicas
para a saúde humana podem ser mais tóxicas para outros organismos, como os
organismos aquáticos que analisamos.”
Atenção especial
Para a professora Cristina
Adams, da EACH, que integra a equipe de cientistas, há que se dar uma atenção
especial à questão, principalmente na Amazônia. “Muitas fronteiras agrícolas,
na atualidade, estão localizadas em regiões tropicais, que possuem ecossistemas
naturais caracterizados por alta biodiversidade e presença de espécies
sensíveis que nunca foram expostas a pesticidas, além de espécies endêmicas”,
alerta. “Isso significa que são zonas onde devemos esperar uma grande perda de
espécies no processo de conversão agrícola, mesmo não sendo o alvo dos
pesticidas.”
Entre as soluções, a
professora considera primordial se investir em pesquisas para determinar níveis
ambientais seguros de exposição aos pesticidas nestes ambientes e desenvolver
práticas agrícolas mais sustentáveis. Além disso, propõe ainda que se rediscuta
a legislação, aumente a fiscalização e controle de uso e comercialização, entre
outras medidas. “Não é uma tarefa fácil”, avalia. O uso adequado de pesticidas
envolve múltiplos atores sociais (governo, produtores, universidades, ONGs) e
uma estratégia de ação bem articulada.
Reconhecimento internacional
O trabalho desenvolvido
pelo grupo de cientistas acaba de ser publicado na mais antiga revista
científica do mundo, a Philosophical Transactions of The Royal Society. Editada
pela primeira vez em 1665, a publicação britânica publicou o primeiro artigo de
Isaac Newton. Entre outros cientistas, Charles Darwin e Edmund Halley também
tiveram seus artigos publicados na revista.
O artigo “Uso de
pesticidas e conservação da biodiversidade da fronteira agrícola amazônica”
teve a participação de Andrea Waichman, da Universidade Federal do Amazonas,
Theo Brock, do Instituto Alterra (Holanda), e Britta Grillitsch, da
Universidade de Medicina Veterinária de Viena (Áustria).
Fonte/Foto: envolverde.com.br
- Antonio Carlos Quinto, da Agência USP


Nenhum comentário:
Postar um comentário