ESTUDO INDICA COMO AUMENTAR A CONSERVAÇÃO DE FRUTAS AMAZÔNICAS
Pesquisadores da Esalq identificam melhor período de
colheita e temperatura de armazenamento ideal para aumentar a viabilidade de
consumo do camu-camu, do bacupari e do abiu.
Agência Fapesp – As
propriedades funcionais presentes em boa parte das frutas amazônicas já foram
reconhecidas por diversos estudos. Mas os consumidores de outras regiões do
país e do mundo costumam ter acesso a esses alimentos somente após seu
processamento, geralmente na forma de polpa congelada ou de doce.
Para facilitar a
comercialização in natura, dentro e fora do país, de três espécies nativas da
floresta tropical – camu-camu (Myrciaria dubia), bacupari (Garcinia
gardneriana) e abiu (Pouteria caimito) – pesquisadores da Universidade de São
Paulo (USP) investigaram o ponto ideal de colheita e a temperatura de
armazenamento que permite prolongar ao máximo o tempo de vida pós-colheita.
“O camu-camu foi escolhido
como carro-chefe do trabalho por ser a espécie conhecida com o maior teor de
vitamina C. O nível de ácido ascórbico dessa fruta chega a ser 150 vezes maior
que o da laranja. Além disso, é rico em antocianina, um pigmento com
propriedades antioxidantes”, disse Patrícia Maria Pinto, pesquisadora do
Programa de Pós-graduação em Fitotecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz (Esalq-USP).
Segundo Pinto, bolsista de
Doutorado e de Mestrado da Fapesp, o bacupari foi escolhido por ser rico em
carotenoides e possuir princípios ativos com ação bactericida. Já o abiu, além
de muito saboroso, é rico em vitaminas A, B e C, além de cálcio e fósforo.
“São frutas pouco
exploradas, comercializadas em pequena escala no país e com potencial até para
exportação”, disse Pinto.
O projeto de pesquisa foi
realizado no Laboratório de Pós-Colheita de Frutas e Hortaliças, sob orientação
do professor Angelo Pedro Jacomino, do Departamento de Produção Vegetal da
Esalq. Parte das análises foi feita na Universidade da Flórida, Estados Unidos,
sob supervisão do professor Steven Sargent.
As frutas foram colhidas
em diferentes estádios de maturação e, por meio de análises físicas, químicas,
fisiológicas e testes de qualidade, foi determinado o período ideal para cada
espécie.
“Algumas frutas, como a
banana, podem ser colhidas ainda verdes. São as chamadas frutas climatéricas.
Outras, como o abacaxi e a laranja, precisam estar totalmente maduras, pois o
processo de amadurecimento é interrompido com a colheita e, se forem colhidas
antes da hora, a qualidade dessas frutas é prejudicada. São as chamadas frutas
não-climatéricas”, explicou Pinto.
De acordo com os
resultados das análises, o camu-camu e o abiu se mostraram viáveis para
colheita cerca de 15 dias antes da maturação completa. “O ponto ideal para o
camu-camu é quando está com a casca na cor vermelho-esverdeada e, o abiu, com a
casca na cor verde-amarela”, disse Pinto.
O bacupari, por outro
lado, se revelou um fruto não-climatérico. Precisa ser colhido já totalmente
maduro, quando a casca atinge a coloração laranja.
Em seguida, as frutas
foram submetidas a diferentes temperaturas de armazenamento. Os pesquisadores
da Esalq verificaram que o abiu e o bacupari podem ser refrigerados a 10 ºC,
por mais de 15 dias, sem sofrer alterações de cor nem qualquer outro dano pelo
frio. Já o camu-camu pode ser armazenado a 5 ºC, também por mais de 15 dias,
sem qualquer prejuízo. À temperatura ambiente, o tempo de vida pós-colheita das
frutas foi em torno de uma semana.
“Avaliamos a coloração das
frutas, a firmeza, perda de massa, o teor de acidez e de sólidos solúveis e a
integridade dos pigmentos e das vitaminas para determinar por quanto tempo elas
se mantinham viáveis para consumo”, explicou Pinto.
Outras frutas
Embora sejam espécies
nativas da Amazônia, as frutas usadas na pesquisa foram todas cultivadas no
Estado de São Paulo. Os abius são originários de pomares comerciais da região
de Mirandópolis. Os bacuparis e os camu-camus são da Coleção de Frutas Tropicais
da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB), instituição
parceira no desenvolvimento do estudo.
“Queríamos mostrar aos
produtores que, com técnicas corretas, essas espécies da floresta amazônica se
desenvolvem bem em outras regiões e têm boa vida pós-colheita”, disse Pinto.
Segundo ela, as análises
usadas no trabalho podem servir de base para outras frutas, entre elas o açaí,
principal destaque da fruticultura amazônica.
“Há poucos estudos sobre a
pós-colheita do açaí in natura. A maioria deles é feita com produtos
industrializados, na forma de suco, de polpa congelada ou de pó. Também seria
interessante intensificar os estudos com outras espécies amazônicas, como o
cupuaçu e o guaraná”, opinou.
Fonte/Foto: Karina
Toledo, no site Agência Fapesp/P. Pinto
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