RE X PA: UM GOL DE ALMA E ENTREGA
O futebol espantava o poeta Carlos Drummond Andrade.
“Confesso que o futebol me aturde, porque nunca sei chegar até o seu mistério”,
dizia ele. Se estivesse presente na
tarde de ontem no Mangueirão, no primeiro jogo da final da Taça Cidade De
Belém, entre Remo e Paysandu, Drummond ficaria novamente à mercê desse espanto.
O jogo parecia que terminaria com uma vitória bicolor. O 1 a 0, diga-se de
passagem, seria uma vitória conquistada
com muito suor. Até os 46 minutos do segundo tempo, a história do
clássico Re-Pa seria essa. Mas o mistério de quem sairia vitorioso do
Mangueirão, anunciado pelo escritor, terminou nos instantes finais. Em um
escanteio que parecia despretensioso, a bola, que já foi chamada pelo poeta
como “a volúpia que traz alegria”, terminou nos pés de Zé Antônio, depois de um
bate-rebate na área. O remista não pensou duas vezes em mandar para dentro,
encontrando ainda o travessão no seu caminho, Mas ela já estava lá, pronta para
dar alegria para a torcida azulina.
“Por quê?”, perguntavam os
bicolores; “Porque sim”, poderia responder Drummond. Afinal, “futebol se joga
com alma”. “Foi um gol muito especial para mim. Um gol de alma e entrega”,
afirmou Zé Antônio ao final. E alma e entrega foi que se viu dos dois times ao
longo do jogo. O Remo foi o primeiro a animar sua torcida quando Galhardo
cobrou escanteio e Mauro cabeceou com perigo.
No entanto, era um jogo de
estudo nos primeiros quinzes minutos. As investidas do Papão eram tímidas. O
Remo, por sua vez, estava mais tranquilo e jogava melhor, marcando e saindo com
a bola dominada. Em um desses lances, Mauro cortou no campo de defesa e tocou
para Leandro Cearense. O atacante avançou e chutou no gol. Passou perto.
Até aquela altura, a alma
do Papão não estava em campo. A melhor chance foi um gol impedido, marcado por
Rafael Oliveira. Mas eis que aos 34 do primeiro tempo viria o lance que traria
a alma alviceleste para o jogo. Djama avançava. Nas arquibandas, a torcida
bicolor indicava com mão para ele tocar para João Neto. Foi o que aconteceu. E,
fazendo o certo, foi fácil para o atacante dar um chute certeiro. Um balde de
água fria desabou na alma azulina, que se desencontrou em campo. Até o auxiliar
técnico do Remo, Hélio Pinheiro, foi expulso por reclamar da arbitragem.
No segundo tempo, o Remo
voltou querendo exorcizar a alma bicolor. Berg, Leandro Cearense e até a
própria zaga bicolor tentaram o empate. Nada. A essa altura a chuva deu as
caras. O campo ficou molhado e o jogo ficou na base do chutão. Hora em que os
treinadores escolheram para fazerem mudanças. Val Barreto, pelo Leão, entrou em
campo querendo deixar sua marca. Tentou duas vezes. Alex Gaibu, pelo Papão, uma
vez.
A hora final já se
aproximava. 46 minutos do segundo tempo, um escanteio, um gol de empate e o
apito final. O mistério que espanta Drummond estava ali: Remo e Paysandu
ficaram no 1 a 1. Decisão em aberto para domingo que vem. Afinal, “futebol se
joga com a alma”.
Fonte/Foto:
DOL/Thiago Araújo
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