PROSTÍBULO ESTAVA EM ÁREA DECLARADA DE INTERESSE PÚBLICO PARA BELO MONTE
Boate em que 14 mulheres foram submetidas a escravidão
sexual fica em um dos poucos terrenos ainda não desapropriados pela Norte
Energia na Vila São Francisco
A Boate Xingu (foto), onde 14
mulheres foram resgatadas na semana passada, está localizada em área declarada
de interesse público para a construção da usina de Belo Monte, em Vitória do
Xingu (PA). Segundo a polícia civil, as vítimas, entre as quais estão uma adolescente
de 16 anos e uma travesti, estavam submetidas a condições análogas à escravidão
e foram aliciadas em estados do Sul do país, o que pode configurar tráfico de
pessoas.
A Boate Xingu começou a
funcionar no local no final de 2012, explica o delegado Cristiano Marcelo do
Nascimento, superintendente regional da polícia civil. “Antes, o Adão tinha uma
outra boate, que ele montou ainda em 2011 na rodovia PA 415, que liga Altamira
à Vitória do Xingu. Ficou lá uns seis meses, mas era fora de mão, não tinha movimento.
Aí ele fechou. Foi entre outubro e novembro que ele abriu a nova boate no
Travessão do 27”.
De acordo com um
funcionário de uma empresa terceirizada que trabalha no transporte de
trabalhadores de Belo Monte, de fato a nova localização do prostíbulo foi
estrategicamente calculada para atender os operários da usina. “A Norte Energia
melhorou a estrada para permitir o acesso aos canteiros, e a boate ficou bem no
ponto de fácil acesso. Sempre está cheia de trabalhadores”, conta o motorista,
que pediu para não ser identificado.
Prostituição e exploração de crianças
Depois do resgate das
vitimas da Boate Xingu, ainda na semana passada a polícia civil realizou outra
operação na cidade de Altamira, que resultou no fechamento de mais três boates
por crime de rufianismo (definido pelo artigo 230 do Código Penal Brasileiro
como “Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus
lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça”). De
acordo com o delegado Cristiano do Nascimento, a maioria das mulheres
resgatadas nesta operação também não era do Pará. “Havia moças do Acre, do
Amazonas, Amapá e Maranhão”. No conjunto das operações, foram resgatadas 34
mulheres.
O número de denúncias cresceu muito nos últimos
três anos, e há mais de 170 casos de violência sexual (principalmente estupro)
contra crianças e adolescentes registrados na 5ª Vara da Justiça Estadual em
Altamira, sendo 5% de exploração sexual. “Um dos vetores destes problemas sem
dúvida é a chegada de Belo Monte. Mas também temos que reconhecer que o poder
público tem sido mais atuante, o atendimento às vítimas melhorou e aumentou a
conscientização. Assim também aumentou o número de denúncias”.
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Fonte/Foto:
/Bruno Carachesti-Diário do Pará
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