AINDA O CARNAVAL: IMPERATRIZ E O RETRATO DO PARAZINHO


Um dos carros alegóricos da Imperatriz Leopoldinense.
* por Renisson Vasconcelos
A Imperatriz Leopoldinense levou para a Marquês de Sapucaí, neste 2013, o enredo “Pará, o muiraquitã do Brasil – Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia”, desenvolvido pela comissão de carnaval formada por Cahê Rodrigues, Mário Monteiro e Kaká Monteiro.
O enredo paraense foi concebido a partir de vertentes da cultura de Belém (que eu amo de paixão!), e restringiu-se, praticamente todo, à nossa capital. Isto revelou, mais uma vez, a concepção do povo belenense a respeito desta unidade federativa brasileira chamada Pará, ou seja, o que importa mesmo é a região metropolitana, quando muito, o território do “Parazinho”.
As regiões do Tapajós e do Carajás foram lembradas apenas de relance; mesmo as regiões Bragantina e do Marajó não foram suficientemente exploradas em seus elementos culturais mais expressivos.
A respeito da cultura tapajoara, a ala “Sairé” foi muitíssimo bem concebida; já a “ala dos botos” trouxe uma gafe colossal: além do “cor-de-rosa” criaram o “boto azul” (pasmem!), no lugar do tucuxi. Um erro primário de pesquisa e também de cênica!
A respeito das outras regiões, prefiro não me ater muito, mas foram esquecidos, por ex., o movimento da guitarrada (nascido em Barcarena) e a festa de São Benedito, expressão forte da região Bragantina. A nossa rica e exótica culinária, que merecia um carro mais que suntuoso, também caiu no olvidamento dos carnavalescos.
O destaque quase que total ficou mesmo para os ícones da capital paraense: Theatro da Paz (lindíssimo!), Mercado Ver-o-Peso (símbolo da identidade local), Tecnobrega (ritmo que se espalha como praga) e Círio de Nazaré (festa que me deixa de boca e coração abertos!). Aliás, a alegoria do Círio foi mal concebida e mal posicionada – não caiu bem no final do desfile. Some-se a isso, a indumentária de gosto duvidoso usada por Fafá de Belém para representar uma devota.
Pontos altos do desfile foram a comissão de frente, as alas retratando a gênese e a cultura indígena paraenses, o carro “Tecnoshow” e a representatividade de pessoas do estado, não apenas das famosas (dentre as quais figurou a presença maravilhosa de Rosamaria Murtinho), mas também das pessoas anônimas, inclusive de Santarém.
O samba-enredo não é ruim, mas também não foi dos melhores. Uma letra escrita a seis mãos só poderia mesmo ser razoável (esse item merece uma análise mais pormenorizada). No final das contas, foi um bom desfile, merecedor do 4º lugar. Vimos uma escola tecnicamente perfeita, luxuosa, com alegorias nababescas.
Ironizando com o título do enredo, eu diria que foi um carnaval diáfano, mas que a verdade não se mostrou tão despida conforme a promessa! E tenho dito!
Fonte/Foto: Renisson Vasconcelos (biólogo, santareno), no blog jesocarneiro.com.br/AFP

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