O ‘CHOQUE CULTURAL’ DE QUEM VOLTA PARA CASA
Para quem mora no exterior, voltar a Manaus pode ser
um drama ou um alívio
Vai chegando o fim do ano
e os manauaras que moram em várias partes do mundo já começam a planejar suas
viagens de regresso à “terrinha” – a oportunidade para rever os amigos e passar
o Natal ao lado da família. O que muitos não imaginam experimentar no retorno
para casa é a sensação de serem “peixes fora d’água”. Choque cultural reverso é
uma expressão que define muito bem essa experiência, pela qual muitos não
passam imunes.
Não foi o caso da gerente
de materiais e projetos Clarissa Dutra (ao centro na foto acima), que hoje reside na cidade norte-americana
de Houston. Desde que saiu do Brasil, em 1999, ela retorna a Manaus ao menos
duas vezes por ano. Para Clarissa, é a chance de abandonar por um tempo o
estilo americano de “viver para trabalhar” – ela já morou na Nova Zelândia e
também no Kuwait.
Ainda assim, um
estranhamento sempre rola: ela ainda fica surpresa com a falta de pontualidade
dos brasileiros. Apesar disso, o retorno à terra natal afeta Clarissa de uma
forma especialmente positiva. “É como se um interruptor mudasse minha
personalidade, trazendo à tona meu lado mais extrovertido e despojado”,
revelou.
SAÚDE MENTAL
Quando veio à capital
amazonense depois de quase dois anos morando em Nottingham, Reino Unido, o
professor universitário Rino Soares lembra que foi logo recebido pelo calor baré
de meio-dia – um contraste brutal com o frio que ele costuma enfrentar de
novembro a fevereiro lá do outro lado do oceano.
“Também estranhei um pouco
a intimidade do amazonense, o fato de as pessoas puxarem papo na fila do banco
ou no ônibus para contarem seus problemas. Não vivia mais essa situação, ainda
acho engraçado”.
Soares chega a Manaus no
dia 18 para passar o Natal na companhia dos familiares, hábito que procurou
manter ao logo dos anos. “Nunca mais passo dois invernos na Inglaterra: bate a
saudade e a escuridão do inverno me deixa triste. É uma questão de saúde mental
ir ao Brasil”, justificou.
‘FUNDO DO POÇO’
O empresário Henderson
Miranda é um exemplo de que o choque cultural reverso pode ser cruel. Para ele,
depois de dois anos e meio morando na Irlanda, voltar para Manaus foi o “fundo
do poço”.
“No período que estive
fora acabei me acostumando com o que inicialmente era estranho. Então, quando
voltei, estranhei os bares não terem hora para fechar, os mercados ainda
distribuírem sacolas plásticas, além do comportamento expansivo das pessoas.
Mas era necessário. O jeito era ver o lado positivo, que era rever a família e
os amigos”, declarou Miranda, que hoje vive em São Paulo.
A presidente do Conselho
Regional de Psicologia da 20ª Região, Iolete Ribeiro, explica que, no retorno,
é como se o vínculo com a terra natal precisasse ser reconstruído. “Nessa
situação, algumas pessoas ficam ariscas porque, às vezes, o motivo da volta
envolve o fracasso de um projeto de vida. O importante é que não podemos
reforçar preconceitos: família e amigos têm que entender esse processo, dar
tempo para a pessoa se reorganizar”, finalizou.
Fonte/Foto:
Rosiel Mendonça – acrítica.uol.com.br/Arquivo Pessoal


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