NATUREZA: TERAPIA COM BOTOS AJUDA A TRATAR CRIANÇAS DEFICIENTES NA AMAZÔNIA
Bototerapia
leva grupos mensalmente para ter contato com os animais.
Equipe
atua para preservar boto-vermelho ameaçado, afirma veterinário.
Uma
nova técnica para ajudar no tratamento de crianças e jovens com deficiência têm
atraído público cada vez maior no estado do Amazonas. Criada há sete anos pelo
fisioterapeuta Igor Simões Andrade, a bototerapia se propõe a levar os jovens a
travar contato com os animais, parentes dos golfinhos que habitam rios na
região.
As
crianças interagem, brincam e acabam conhecendo mais sobre o meio ambiente dos
botos, o que ajuda a trazer auto-estima e a amenizar efeitos de certos
problemas, segundo Andrade. Acompanhados dos pais, os jovens são levados em
grupos de cinco ao encontro dos botos, uma vez por mês.
"A
terapia pode, por exemplo, ajudar uma criança muito agitada, que não dorme,
hiperativa. Ela entra em contato com o animal e com o tempo acaba cochilando no
barco, coisa que nunca aconteceu. Para cada caso, tem uma coisa que favorece o
tratamento", diz o fisioterapeuta.
A
ideia é levar gratuitamente jovens deficientes que não teriam condições de
pagar um tratamento como este, pondera Andrade. Podem ser crianças com
hemofilia, leucemia, cegas, surdas, com problemas motores ou com autismo, por
exemplo. Elas são levadas de barco até o local onde ocorre a bototerapia.
Já
houve pacientes do Hemoam (Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas),
de escolas de educação especial de Manaus e de outros estabelecimentos, diz
Andrade.
Sem substituir tratamento
A
bototerapia não visa substituir tratamentos tradicionais, necessários para
crianças paraplégicas, hemofílicas ou com outros problemas. "Nós queremos
ajudar a criança, complementar. Por exemplo, uma criança com autismo e que não
tinha foco, não prestava atenção em nada, o pai hoje diz que houve uma melhora
geral, que ela têm mais foco", afirma o fisioterapeuta.
Segundo
o veterinário Diogo Lagroteria, um dos integrantes do projeto, a preservação do
boto, que está ameaçado, é uma das preocupações do grupo. A equipe atua para
conscientizar as comunidades de pescadores. "A espécie [usada na terapia]
é o boto-vermelho, e há uma pressão da caça muito grande. Os pescadores usam a
carne do boto como isca para pegar outros peixes."
O
local onde ocorre a bototerapia fica a cerca de 30 quilômetros de Manaus, nos
arredores do Parque Nacional de Anavilhanas, na margem esquerda do Rio Negro. O
grupo tem apoio e patrocínio de um hotel de selva localizado na região, segundo
Lagroteria.
Além
das crianças, parentes e auxiliares são levados de barco para o rio no dia da
bototerapia. O grupo costuma ter de 12 a 15 pessoas, segundo Andrade.
Baixo impacto
Analista
ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais), o veterinário Lagroteria ressalta que o trabalho da bototerapia
segue normas para o baixo impacto com os botos.
O
grupo desenvolveu as regras em um estudo, criado para ajudar no turismo como
boto, prática comum em hotéis na região. A ideia é que o turismo seja feito de
forma controlada, sem que o animal seja molestado nem haja grande interferência
na sua vida.
"Estimamos
quanto alimento deve ser dado, para não deixar o boto dependente do ser humano.
Também estimamos que não é todo dia que pode haver interação, para o animal não
criar vínculo afetivo", diz Lagroteria.
Uma
das ideias principais do estudo é que o boto consiga sobreviver sozinho,
mantenha as habilidades de caça para buscar alimento e não dependa das pessoas,
afirma o veterinário.
A
técnica utilizada por Andrade na terapia é o rolfing, que trabalha com a
manipulação de tendões, músculos e outras partes do corpo, segundo o
fisioterapeuta. "O músculo pode comprimir o nervo ciático, por exemplo.
Ele visa alinhar a pessoa, organizar o joelho, descomprimir o pescoço e outras
atividades, buscando um equilíbrio para o corpo."
A
demanda nos últimos anos está tão grande que tem havido
"overbooking", pondera o criador do projeto. Ele ressalta que não há
como atender a todos que procuram a terapia, e que se houvesse mais patrocínio
seria possível atender mais gente.
Fonte/Foto: Rafael Sampaio - Globo Natureza/Diogo Lagroteria -
Divulgação
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