MÚSICA AMAZÔNICA, A VERDADE DE NILSON CHAVES
Reverberamos neste blog matéria veiculada
no Diário do Pará, como homenagem a esse
grande artista paraense.
“Não
sou paraense. Sou amazônida”. É assim que o paraense nascido em Belém,
compositor, cantor e violonista Nilson Chaves se autodefine musicalmente. É um
dos grandes representantes da música amazônica com reconhecimento nacional e
internacional pelo seu trabalho, que sempre buscou uma linguagem poética e
musical na arte de cantar a região.
Seu
primeiro disco foi “Dança de Tudo”, lançado em 1981. Foi quando iniciou sua
carreira musical de maneira profissional. “Os 15 anos anteriores ao lançamento
desse vinil, iniciados em 1966, foram essencialmente de conhecimento. Fui para
o Rio com apenas 17 anos, em 1968, e passei por um longo aprendizado até o
lançamento desse disco. A música entrou na minha vida há 46 anos.
Profissionalmente, há 31”.
A
definição de cantador amazônico veio a partir de uma série de vivências.
“Quando tinha 16, 17 anos, no Rio, eu matava minha saudade compondo canções
para Belém e isso gerou um arquivo musical da região. Compunha a partir de
referências de artistas que convivi e se apresentaram no Festival Internacional
da Canção, que ocorreu no Rio em 1968”.
Nilson
foi para o Rio com cartas de maestros do peso de Waldemar Henrique e Guilherme
Coutinho, que o incentivaram a sair de Belém. “Foi através desses contatos que
conheci Sebastião Tapajós e o maestro Guerra Peixe, que dava aula para grandes
nomes da MPB, como Chico Buarque e Edu Lobo. Ele me deu seis meses de aula de
música sem me cobrar nada. Eu não tinha dinheiro”.
A
partir daí, Nilson foi convivendo cada vez mais com grandes nomes da música e
foi aperfeiçoando a sua música. “Eu sempre guardava as minhas composições amazônicas,
que classifico de nostálgicas e saudosas. Não tinha coragem de mostrar isso lá.
Mas foi compondo essas músicas que, de fato, descobri a importância e a riqueza
da minha região”.
O
compositor condena a valorização da nossa região por Estados, de maneira
isolada. “Se pensarmos a Amazônia como uma, inteira, teremos mais visibilidade,
mais força. Não somos paraenses, maranhenses ou acrianos. Somos amazônidas!
Essa sempre foi uma inquietação minha”.
TEATRO
O
artista também teve uma vasta vivência teatral no Pará e no Rio, sendo um dos
fundadores do grupo paraense “Experiência”. A dança também fez parte de sua
vida na década de 70. Tudo sempre aliado à música. “Entrei num grupo de dança
que tinha uma coreógrafa alemã, de quem fiquei muito amigo. No fim dos ensaios,
eu tocava minhas composições e ela ficou encantada e me indicou para saraus do
qual participaram Nana Caimmy e Milton Nascimento, entre outros”.
Mais
tarde, a coreógrafa pediu que Nilson fizesse um show de músicas amazônicas para
um grupo de dança que vinha de fora. “Nesse momento, em 1974, entendi que essa
música era a minha verdade e abandonei outras coisas que vinha fazendo e passei
a cantar música amazônica para os cariocas. Sabia que o mercado se fecharia
para mim, mas eu me sentia bem. O resto é história...”, rememora.
CANÇÕES
Ele
avalia que seu maior sucesso, a música “Sabor Açaí”, é pela temática que
representa, mas considera que existem outras canções fortes e marcantes em sua
vida, como “Tempo e Destino”, que compôs em parceria com Vital Lima. “Essa
música já foi gravada por outras artistas e isso é mostrado no DVD que gravei
com o Vital quando o público, emocionado, aplaudiu por longos minutos”.
Nilson
permaneceu radicado no Rio de Janeiro por 34 anos. Em 2002, retornou a Belém,
mas mantendo seu apartamento na cidade maravilhosa, o que ocorreu até fevereiro
deste ano, quando definitivamente voltou para a terra natal. Em janeiro de
2011, aceitou o desafio de comandar a Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves.
“Está
sendo um aprendizado para o bem e para o mal. De um lado, estou conhecendo
muitos segmentos da cultura do Estado, vendo a ansiedade e os desejos dos
artistas. Do outro, é constatar que existe a possibilidade de se fazer coisas
geniais, mas não tenho perna para alcançá-las, até porque sou artista não
político e morrerei assim...”
Fonte: Diário do Pará
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