APÓS OBRAS DE BELO MONTE, ALTAMIRA ENFRENTA INSEGURANÇA E ALTA DE PREÇOS

Altamira-PA

Em 3 de Janeiro, foi publicada do Diário Oficial, pela ANEEL, a última desapropriação de terras para a construção de Belo Monte, uma declaração de utilidade pública para uma área 282,3 mil hectares no Pará. A declaração foi solicitada pela Norte Energia, empresa responsável pelo empreendimento, que na prática ficou autorizada a remover e "reassentar" ribeirinhos, índios e moradores de Altamira. Este é considerado um dos pontos mais polêmicos no projeto da usina, com o cadastro de famílias instaladas em áreas de interesse dos empreendedores sendo feito sem o devido esclarecimento da população local.
No final do ano passado foi derrubada a liminar, obtida pela Associação dos Criadores e Exportadores de Peixes Ornamentais de Altamira (Acepoat), que impedia o consórcio de intervir no leito do rio Xingu. Desde então o barramento do rio já começou e a obra segue acelerada. Quem vê as muitas dezenas de máquinas e milhares de operários trabalhando sem parar nas proximidades do km 50 da rodovia Transamazônica pode ser levado a pensar que não há mais nada que se interponha no caminho da maior obra em andamento no País.
A não ser pessoas.


"Agora a gente vive assustado"
Onze horas é o tempo que se pode levar para chegar a Altamira, saindo de São Paulo com escala em Belo Horizonte e conexão em Belém. Pode-se levar 14 horas no trajeto de aeroportos desde Florianópolis. O aeroporto de Altamira não tem capacidade para receber aeronaves maiores e por isso as grandes companhias não operam lá. Uma passagem Belém-Altamira - distantes cerca de 900 km uma da outra - chega a custar 2.400 reais. O oeste do Pará é um lugar que soa ser outro mundo mesmo para muitos dos que moram na capital do Estado.
Em Altamira, dona Josefa Barbosa, 56, que administra uma loja no mercado municipal - um dos únicos três lugares onde se encontra cigarros da marca Marlboro à venda - desabafa: "Aqui era tranquilo, a gente vivia sem medo, mas agora a gente tem que andar segurando a bolsa na rua. A gente vive assim, assustado." Depois que a filha foi assaltada quando voltava pra casa, Josefa decidiu antecipar em 3 horas o fechamento diário do seu comércio.
As vendas diminuíram, mas ela se sente mais segura assim desde que dispararam os assaltos e roubos na cidade, este ano. Ela também fala da piora do trânsito, reclama do aumento do aluguel e do surgimento de inéditas longas filas nos bancos e padarias. "Altamira tá ficando uma cidade violenta", diz. "Aqui era muito bom... Mas agora tá parecendo uma cidade grande".
O sentimento de dona Josefa - que prefere não tirar nenhuma foto com medo de alguma represália - é compartilhado pela maioria dos moradores desta pequena cidade onde tudo mudou desde que começaram as obras de Belo Monte. Mas ela afirma que o ganho dos pequenos comerciantes segue igual. "A gente não sentiu mudança nenhuma, se alguém tá ganhando dinheiro são os empresários grandes, como esses donos de hotel", diz.
O Amazon Xingu, maior hotel da cidade, onde a diária passou de 60 para 190 reais em menos de um ano, está com todos os 40 quartos ocupados, sendo a metade permanentemente alugados para o consórcio construtor de Belo Monte. "Uma casa pra alugar, você não acha aqui. Se achar, é caro. Uma casa de dois quartos o povo pagava 400 ou 350 reais, agora é 1.500, até 2.000, quando acha. Eu vejo gente aqui chorando, no correr do dia, porque teve que sair de casa por não poder mais pagar o aluguel. Mas quando terminar essa construção, eu quero ver o que vão fazer com esses aluguéis", desabafa Josefa Barbosa.
"Eu ando triste", confessa, "mas pra lhe falar a verdade, nós não somos ninguém pra dizer: eu não quero barragem. A gente não pode dizer isso porque não adianta. Isso aí tá bem distante da gente. É com eles lá, com as pessoas grandes. E não tem mais jeito. A barragem vai se realizar de todo jeito, queira ou não queira. Não tem mais jeito".

Fonte/Fotos: Lunaé Parracho/Terra Magazine

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