EVANDRO CHAGAS DIZ QUE PARÁ ENFRENTA EPIDEMIA
Uma epidemia de doença de Chagas. É nisso que Aldo Valente, o pesquisador titular do Instituto Evandro Chagas (IEC), acredita. Só este ano, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), foram notificados 85 casos da doença em todo o Estado. Trinta e seis dos casos, em Belém. Entre tantos números e estatísticas, dez pessoas já morreram.
“Conceitualmente e epidemiologicamente o Pará vive, com toda a certeza, uma epidemia de doença de Chagas”, afirma. As mortes, segundo Valente, poderiam ter sido evitadas. Principalmente porque já se conhece quando e como a doença vai elevar os quadros de contaminação. “Estudamos a distribuição espaço/temporal dos casos de doença de chagas aguda [aquela que se manifesta no início da enfermidade e pode ser tratada com sucesso] por mais de 25 anos no Pará e no Amapá. Os casos aparecem com mais frequência a partir da terceira semana de agosto e vão até a segunda semana de dezembro, com maior incidência entre os meses de setembro e outubro”, avalia.
Para Aldo Valente, a regularidade nas ocorrências dos casos da doença impressiona e não ocorre de graça. “Nestes meses chove muito pouco, venta muito e ocorrem muitas queimadas, fatos que contribuem para a dispersão dos barbeiros do seu ambiente silvestre para próximo do homem. E coincide também com o pico da safra do açaí, o alimento mais importante na transmissão”.
No cenário que se repete ano após ano, Aldo Valente alerta para a gravidade dos casos. Segundo ele, resultado de um tipo mais perigoso do mosquito transmissor da doença e já conhecido pela Sespa desde 2006.
“O IEC havia detectado e caracterizado geneticamente uma cepa [clone] do trypanosoma cruzi [agente causador da doença] altamente virulenta e cujo quadro no homem evoluía rapidamente para formas graves, que evoluíam para óbito muito rapidamente. O IEC insistiu inúmeras vezes para que a Sespa nos informasse sobre todos os casos que eles detectassem para que pudéssemos localizar os pacientes e, mesmo sob tratamento, tentarmos o isolamento do parasita e geneticamente verificar se estas cepas eram mais virulentas ou não”, lembra.
Com os métodos adequados, analisa Aldo, o Instituto Evandro Chagas traçaria um mapa da origem dos clones do trypanosoma e, a partir dele, ajudaria no reforço à Vigilância Epidemiológica nos municípios de onde surgiram as cepas.
“Durante um curtíssimo tempo, nós [IEC e Sespa] conseguimos fazer alguns trabalhos juntos. Mas depois as portas se fecharam completamente para este estudo. “Esta mortalidade, que já passa de 10%, é algo simplesmente absurdo. Eu trabalhei na Bolívia, Equador, Colômbia, Guatemala e Honduras em regiões hiperendêmicas, mas que não tinham este índice de mortalidade. Isto é realmente uma vergonha escandalosa e são necessárias, sim, intervenções urgentes”, opina.
Fonte: DOL / Foto: Everaldo Nascimento


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