OS 30 ANOS DO GRUPO CARRAPICHO, POR CARLINHOS BANDEIRA

O Grupo Carrapicho está comemorando, em 2011, 30 anos de carreira. Uma reunião realizada esta semana, entre Zezinho Corrêa, que detém a logomarca e os direitos do grupo, e o maestro Carlinhos Bandeira definiu que a banda fará shows no Teatro Amazonas e em espaços abertos, antes do fim do ano, para marcar a data. O Carrapicho, interpretando a toada “Tic, Tic Tac”, do parintinense Braulino Lima, se tornou o maior sucesso internacional do Amazonas, na década de 1990.
Carlinhos Bandeira, hoje arranjador e funcionário da Manauscult, se tornou o maestro do grupo, a partir de 1988, sendo responsável pelos arranjos das músicas. Em entrevista, ele revela detalhes dos bastidores da vida do grupo e até fora dele, como no caso da gravação da música “Vermelho”, grande sucesso de Chico da Silva e do bumbá Garantido, interpretada por Fafá de Belém e diversos outros cantores conhecidos, cujo arranjo foi feito de sopetão.
Carlinhos Bandeira, ao lado de dois dos inúmeros discos de ouro conquistados pelo Carrapicho.

No auge, o Carrapicho tocava em toda a Europa, inclusive em países do Leste europeu, do Oriente Médio e Ásia. Ganhou prêmios de vendagem do Brasil ao Japão, Índia e Rússia. Foi atração nos principais programas de TV do país, como Faustão, Gugu, Jô Soares, Hebe Camargo,  etc. Conquistou em inúmeros países tantos discos de ouro, que corresponde a vendagens acima de 250 mil discos, que não foi receber nem a metade.
Bandeira, como é mais conhecido, revela nesta entrevista exclusiva as incompreensões de seus conterrâneos, de Faro (PA), porque ele nunca disse na TV que é nascido naquele Município. O maestro fala do assédio sexual dos fãs aos dançarinos da banda e seus integrantes, dos dois anos morando na França e dos inúmeros prêmios conquistados.
 Eis a entrevista referente a essa trajetória extraordinária, que você acompanhará em 2 partes, a serem publicadas a partir de hoje.
Vocalista Zézinho Corrêa durante recente apresentação em Faro-PA.

Abaixo, a primeira parte da entrevista.
Pergunta – Como começou sua carreira no Carrapicho?
Resposta de Carlinhos Bandeira – Eu tocava no Canto da Cultura, um bar que ficava na Eduardo Ribeiro, esquina com a José Clemente, ao lado do Teatro Amazonas. O Carrapicho ensaiava no Sesc, na Henrique Martins, e quando acabava os ensaios todos passavam por lá. Em 1988, com a era da lambada, eles resolveram sair do forró. Antes, o grupo era formado por zabumba, sanfona, violão e o Zezinho cantando. Com o Beto Barbosa e sua trupe invadindo o Brasil e o Amazonas, as bandas apresentando músicas com arranjos complicados, muito metal, o Carrapicho sentiu necessidade de botar um tecladista. Ficaram me observando, sem eu saber. Eu tocava todo dia, de segunda a sexta, com o Téo Muniz, um cantor da noite. Hoje em dia você faz uma hora, duas horas de show e eu tocava e cantava de 18h à meia-noite. Minha missão era tocar, inclusive nos intervalos. O (João Evangelista) Santana (Neto) me convidou para tocar com eles, em 1988. Eu estava fazendo cursinho para entrar na UA, hoje Ufam. Passei no vestibular em Ciências da Computação. Desisti do Carrapicho. Estava bem na MPB e não queria entrar no forró. O Fred Góes (compositor e diretor do bumbá Garantido) e o Nelson Brilhante (radialista e jornalista, hoje em A Crítica), de Parintins, estavam fazendo um Festival de Música e me convidaram para fazer os arranjos. Fui pra lá e esqueci do convite do Carrapicho. Mas, em março, quando voltei, o Santana voltou a me convidar e eu topei. Fiquei completamente empolgado. As cunhantãs começaram a aparecer (risos). Larguei o curso na Ufam e entrei na noite, mergulhando de cabeça no Carrapicho.
 Pergunta – Qual foi o primeiro disco de que você participou?
Bandeira – Entrei em 1988 e nós gravamos o primeiro disco em 1992. O primeiro disco do grupo foi em 1983. Depois vieram outros, em 1985, 1987, 1988, 1989. No disco que eu gravei tinha “Filhos do sol”, toada do Garantido, e “Ninguém gosta mais desse boi do que eu”, do Caprichoso. Foi a primeira vez que colocamos teclado no boi. Toda vez que o grupo tocava boi eu ia pra caixinha, fazer percussão, porque não tinha o que fazer nos teclados, aí resolvi colocar uns arranjos nas músicas. Foi de “Filhos do sol” que nós tiramos a introdução do “Tic Tic Tac”, em 1993, quando gravamos o disco “Baticundum”. Improvisamos a palminha, nas duas músicas, batendo na lateral da conga (espécie de atabaque). O Chimbinha, do Calipso, gravou uma música com o Edilson Santana e o David Assayag, e veio perguntar ao China, que era o baterista do Carrapicho, como obtivemos esse som. Eles tentaram fazer de todo jeito, apelando para as palminhas de madeira, e não conseguiram (risos).
 Pergunta – Lembro bem que esse negócio de teclado em toada de boi bumbá foi muito criticado na época…
Bandeira – É isso mesmo. O pessoal do boi nunca poderia imaginar que, em 2011, seria impossível não ter teclado na toada.
 Pergunta – Com a entrada do teclado nas músicas do Carrapicho, você conseguiu se integrar definitivamente ao grupo?
Bandeira – Isso aí. O disco que mais coloquei teclado foi o “Bumbalanço”. Fiz todos os arranjos. Tinha baixo eletrônico e outros instrumentos, todos no computador. Só entrou a percussão do China e o surdo do Júnior (que também cantava). O resto foi todo eletrônico. Quando esse disco chegou, foi muito criticado. Nós gravamos aqui e fui, com o China, mixar em São Paulo, no estúdio do Micael. Eu e ele dormíamos num motel, numa cama redonda (risos), porque ficava em frente ao estúdio de gravação. Nós mixamos esse disco em cinco dias.
 Pergunta – Tão rápido assim?
Bandeira – O fácil às vezes sai melhor. Sabe a história do “Vermelho”, no Garantido?
 Pergunta – Acho que sei uma boa parte…
Bandeira – O Chico (da Silva) teve um problema com o boi e só autorizou a gravação da música na última hora. O disco estava pronto. O Robson Roberto, que era diretor financeiro do Garantido à época, foi me buscar em casa, dizendo que tínhamos que incluir a música no CD oficial do Garantido. Não tinha arranjo pronto. Fomos para o estúdio e a música saiu na marra. A introdução tem só quatro notas e surgiu na hora que eu estava pegando tom (risos). Depois, eu resolvi colocar um órgão, tipo o do Lafayette, muito usado nas músicas do Roberto Carlos. Fomos, eu e o Mauro Drumond (ex-Banda Dix), buscar o órgão do dono do estúdio, Heitor Santos, só para colocar no refrão da música. Foi o que fizemos mais rapidamente e sem grandes apuros e o que mais tocou. Toca até hoje.
 Pergunta – O Carrapicho deve ter muitas histórias de bastidores, pitorescas, engraçadas, curiosas. Conte alguma coisa para a gente?
Bandeira – Quando nós ficamos dois anos na França, para fazer shows em toda a Europa, surgiu uma coceira na turma, nos braços, nas pernas, no corpo inteiro. A gente se coçava de todo jeito e só tinha chegado há quatro dias em Paris. Lá, a gente não vai ao médico, mas é o médico que vem visitar o turista no hotel. Quando ele nos viu, riu muito e foi logo dizendo: “Vocês estão tomando banho demais”. Aqui, na Amazônia, a gente toma banho de manhã, toma banho quando sai e quando dorme. O médico aconselhou que a gente só tomasse banho completo de dois em dois dias. Foi isso que fizemos e parou a coceira. Aí a gente passava dias sem tomar banho e só fazia se assear (risos).
 Pergunta – E o assédio de homens e mulheres aos integrantes da banda, especialmente os dançarinos? Você chegou a ver algo assim mais escandaloso?
Bandeira – Não. O assédio era normal, coisa de fã para dançarino. Eles estavam muito em evidência porque repetiam aquela coisa do “É o Tchan”, da Carla Peres. Os fãs ficavam sempre muito atrás dos quatro dançarinos e mais o Zezinho Corrêa, que cantava. Para nós, músicos, a coisa era mais devagar.

Fonte: entrevista concedida por Carlos Bandeira a Marcos Santos, em Manaus-AM, a quem agradecemos a autorização para sua publicação em amazôni@contece.

AMANHÃ, 3ª FEIRA, A SEGUNDA E ÚLTIMA PARTE DESTA ENTREVISTA. ACOMPANHE!

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