DANDO UMA ‘MAÕZINHA’ PRA NATUREZA | EM 21 ANOS DE ATUAÇÃO, PÉ-DE-PINCHA JÁ DEVOLVEU MAIS DE 5 MILHÕES DE QUELÔNIOS À NATUREZA
Com apoio da Mineração Rio do Norte, o projeto é
realizado em 18 comunidades de Oriximiná e sete de Terra
Santa
Na Semana Mundial do Meio
Ambiente, a Mineração Rio do Norte (MRN) celebra os resultados de uma das
maiores iniciativas ambientais, que completa 21 anos de atuação: o Projeto Manejo Comunitário de Quelônios no Médio
Amazonas – Pé-de-Pincha, voltado para a preservação de espécies de
quelônios e ações de educação ambiental nas comunidades. O projeto já devolveu mais de 5
milhões de filhotes à natureza. No Pará, o trabalho é realizado em 18
comunidades de Oriximiná e sete de Terra Santa.
A
comunitária Dalva Maria dos Santos Gonçalves, 52 anos, conta que participa, com
orgulho, há 20 anos do Pé-de-Pincha. “Participo de todas as
etapas do projeto desde a coleta, o acompanhamento com alimentação, a eclosão e
a soltura. Eu manejei 550 ninhadas esse ano. É emocionante ver a quantidade
grande de filhotes soltos neste momento. Antes do projeto, a gente
via poucos tracajás e não tinha esse pensamento de proteção. Depois
do projeto, peço aos colegas da comunidade que nos ajude a preservar os
filhotes e a natureza”, relata.
Segundo o
professor Paulo Cesar Machado Andrade, da Universidade Federal do
Amazonas (UFAM) e coordenador do Pé-de-Pincha, o projeto foi criado em
1999, a partir do pedido de ribeirinhos do lago Piraruacá,
em Terra Santa, e passou a integrar o programa de extensão da
universidade. “O Pé-de-Pincha nasceu com a ideia de capacitar os
comunitários para fazer um trabalho de proteção aos ninhos e aos
filhotes com o objetivo de tentar recuperar a população de quelônios,
principalmente o Tracajá. De lá para cá, se estendeu para outros 18
municípios e 123 comunidades do Pará e Amazonas. Nestes 21 anos, o projeto já
devolveu mais de 5 milhões de filhotes à natureza. O mais
importante neste trabalho é a mudança de percepção da comunidade que
participa do projeto, que passa a valorizar e a proteger esta espécie. Isso nos
faz crer na continuidade deste projeto e que os comunitários possam
modificar a relação deles com o meio ambiente, tornando essa relação mais
integrada”, relata o professor.
Parcerias
A Mineração
Rio do Norte, que opera mina de bauxita no distrito de Porto
Trombetas, Oriximiná (PA), é parceira, desde 2001, do Pé-de-Pincha,
apoiando as ações, inicialmente em Oriximiná, e a partir de 2019,
também em Terra Santa. A empresa tem parceria com a UFAM, por meio do convênio
com Universidade Solidária (UNISOL). A iniciativa também tem como parceiros os
Fundos Municipais do Meio Ambiente, por meio das Secretarias Municipais de Meio
Ambiente (Semma), escolas e professores de Oriximiná e Terra Santa, UNIDA
e a UFOPA em Oriximiná, e Associação Terrassantense dos Agentes Ambientais
voluntários (ATAAV), Projeto Quelônios do São Raimundo e DAN-TECH, em Terra Santa.
Para MRN,
participar do Pé-de-Pincha contribui para fortalecer a
conservação das espécies de quelônios na região. “O
projeto, que envolve vários parceiros e comunidades, busca deixar um
legado de preservação desta espécie para o futuro. Esperamos que,
além de preservar o Tracajá, sensibilize as pessoas para conservar
mais o meio ambiente para as próximas gerações. É uma emoção grande participar
desta etapa de soltura, pois demonstra o amor ao meio ambiente e à
vida, pois as pessoas engajam-se durante o ano todo neste projeto, com
envolvimento direto e cuidado com os quelônios, perpetuando esta espécie”,
comenta Genilda Cunha, coordenadora do Pé-de-Pincha na parceria com a
MRN.
Fomento
O Projeto
envolve quatro etapas, reunindo acadêmicos voluntários da UFAM e da
Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), comunitários voluntários
ribeirinhos e quilombolas de Oriximiná (PA) e de comunidades de Terra
Santa (PA). Na primeira etapa são realizadas reuniões com gestão participativa
das comunidades, seguidas de planejamento e organização dos trabalhos
e capacitação de novas comunidades para desenvolver o trabalho de proteção
dos filhotes; a segunda etapa envolve o período de coleta para
proteger os ovos de tracajá e outros quelônios, transferindo
eles para um local seguro dentro da comunidade, popularmente chamado de chocadeira,
feito pelos comunitários. Em alguns lugares em Terra Santa, os
ninhos de tartaruga são protegidos na própria praia e marcados com
piquetes. A terceira etapa envolve o acompanhamento do nascimento dos
filhotes, que ocorre 60 dias depois da postura, quando os
comunitários registram o número de filhotes nascidos e os
colocam em berçários e eles recebem alimentação especial. Na quarta etapa,
que ocorre dois meses depois, é feita a soltura, quando os filhotes são
devolvidos à natureza com tamanho e capacidade de sobrevivência maior
na natureza. “Sem a participação dos comunitários, não há como ocorrer este
projeto. Eles são muito dedicados”, destaca o professor Paulo Cesar Andrade.
Paralelamente
ao trabalho de capacitação para o manejo adequado das
espécies de quelônios aquáticos, no Pé-de-Pincha é
feita a sensibilização de alunos e professores nas escolas,
através de ações de educação ambiental, por meio da qual
são abordados temas como combate ao desmatamento e as queimadas, descarte
inadequado de lixo e tratamento de resíduos, que faz parte
do processo.
Outra
iniciativa do projeto é a viabilização de oportunidades para as
comunidades gerarem renda de maneira sustentável. “Ouvimos as demandas
da comunidade neste caminho e realizamos oficinas de plantio de hortas
comunitárias, criação de peixe e artesanato, por exemplo. Trabalhamos
cada comunidade a partir das demandas delas com a parceria de professores
e técnicos da UFAM, que vem e ministram as oficinas. Depois, plantamos a
semente inicial para as comunidades prosseguirem com estas atividades
econômicas”, relata o professor da UFAM.
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