ARTIGO: LER, ESCREVER E... PROGRAMAR! A EVOLUÇÃO DA NOVA BASE CURRICULAR DAS ESCOLAS
Por professor Francisco Isidro Massetto, embaixador da
Campus Party*
Quando decidi fazer cursos
livres em computação, aos onze anos, eles eram raríssimos. Mas consegui me
matricular em uma das poucas escolas existentes. Com os conhecimentos
adquiridos naquela época, deixei como legado um sistema de pagamentos que
desenvolvi para melhorar o serviço da instituição, que ficou rodando por dez
anos. Naquele tempo, talvez, eu tenha sido considerado um jovem a frente do
tempo. Hoje, o ENEM já propõe à nova geração uma redação sobre a manipulação do
comportamento do usuário pelo controle de dados na internet!
Enquanto, no passado,
discutíamos o papel da tecnologia como recurso nas salas de aula, hoje falamos
sobre como torná-la disciplina fixa no sistema de ensino. Em 2017, foi
instituída a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e a referência à integração
do pensamento computacional ao currículo escolar. Cultura Digital foi apontada
como uma das 10 Competências Gerais definidas pela BNCC, que sugere que os
alunos compreendam, utilizem e criem tecnologias digitais de forma crítica,
significativa e ética para comunicação, acesso e produção de informações e
conhecimentos, resolução de problemas e realização de protagonismo e autoria.
Como atividades envolvidas na competência Cultura Digital dentro da grade
curricular, a BNCC aponta o ensino de linguagens de programação, além do
domínio de uso de algoritmos e análise de dados.
Essa inclusão representa
um avanço e tanto para a formação de uma nova geração que não será mais
composta por usuários de tecnologia e sim por provedores de novas soluções para
atender as demandas de um mercado 100% digital por novas ferramentas, sistemas
e aplicativos. Ela possibilitará que os alunos elevem seu nível de interação
com as tecnologias, modificando-as e tendo liberdade e capacitação para
criá-las. Esse conhecimento será essencial para a sobrevivência de novos
profissionais em um mercado em que os economistas apontam a programação como
umas das principais habilidades requeridas nos próximos 20 anos. Se no início
da nossa jornada tivemos como premissa básica aprender a utilizar corretamente
as palavras e nosso idioma, este novo momento requer entendermos como a máquina
funciona.
Recentemente, tive a
oportunidade de aplicar várias oficinas de desenvolvimento de jogos com
crianças, nas quais elas passaram de expectadoras a protagonistas, criando seu
próprio jogo de aventura! Montaram todo o videogame (um arcade) que rodou o
jogo delas e, como bônus, ainda fizeram fotos digitalizadas de cada um para que
fossem os personagens. Boas práticas como esta que vem sendo desenvolvidas em Estados
como São Paulo, Minas Gerais, Paraná e boa parte da região Sul do Brasil. Um
exemplo bem-sucedido é o do Alexandre Casemonstro que, com a Oficina de Chão,
leva para a criançada tecnologia como disciplina nas ações do tempo integral e
capacita professores multiplicadores no desafio de fazer com que escolas e
instituições reconheçam o hardware livre como aliado da reciclagem e da
criatividade.
Em breve, todos os alunos
que estão passando ou passarão por essas experiências farão parte de um mercado
no qual instituições financeiras e bancos, por exemplo, já registram um aumento
significativo na busca por profissionais com pensamento computacional para
áreas que não estão especificamente relacionadas à programação, justamente por
conta desta visão sistêmica, de etapas e lógica. E além do conhecimento técnico, eles terão
desenvolvido ao longo desta jornada educativa, habilidades empregadas em
diversas atividades do dia-a-dia, como a organização do raciocínio, disciplina,
separação de tarefas e determinação de objetivos de curto, médio e longo prazo.
Essa nova forma de aprender a pensar de forma lógica trará a eles recursos
suficientes para resolver problemas e desafios de sua própria vida, assim como
aprender a ler e escrever foi essencial para o início de sua comunicação e a
construção de seu relacionamento com o mundo.
Minibiografia
(*) Professor Isidro é
Doutor em Engenharia da Computação, Mestre e Bacharel em Ciência da Computação.
Atualmente, trabalha como professor universitário, pesquisador e empreendedor,
desenvolve pesquisas nas áreas de Game Development, Cloud Computing, Mobile e
Ensino de Programação. Sonha e trabalha (muito) para termos um Brasil mais
programador e empreendedor.
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