ARTIGO: MINHAS COPAS - 1978




Desde que me entendo por gente, utilizo as Copas do Mundo para fazer uma espécie de retrospectiva da vida: como e onde estava na época, o que se passava ao meu redor e quais as lembranças que o torneio me desperta. Em quatro anos, muita coisa pode mudar em um país, imagine nas circunstâncias de um indivíduo.
A primeira de que me lembro foi a de 1978, na Argentina. São memórias distantes, que funcionam como fotografias antigas em um baú empoeirado. Então com cinco anos, já era um aficcionado pequeno boleiro vascaíno. Tinha duas irmãs, meu irmão mais novo chegaria no ano seguinte. Aliás, deve ter sido encomendado durante aquela Copa.
Recordo-me do 3×0 contra o Peru, que assisti na casa de meu avô materno. Na sequência, não entendi muito bem a eliminação do Brasil, por causa do vexatório 6×0 que a Argentina aplicou nos peruanos, recebidos com uma chuva de moedas em sua terra Natal. Seu goleiro, Quiroga, era um argentino naturalizado.
Lembro do golaço do Nelinho na decisão do terceiro lugar contra a Itália. Torci muito, em vão, para a Holanda na final, derrotada pelos hermanos por 3×1. Depois do jogo, fui jogar bola em um campinho em frente de casa. Crianças de 5 anos saíam à rua livremente…
A teoria conspiratória da época diz que a Copa foi arrumada para a Argentina, então uma ditadura governada pelo general Rafael Videla. Provavelmente a tabela ajudou, mas deve haver uma dose de dor de cotovelo brasileira nessa afirmação.
Um time com Mario Kempes, Ardiles, Passarela, Luque e Fillol não podia ser desprezado. A seleção brasileira voltou invicta para casa com o título auto concedido de campeã moral. A equipe de Cláudio Coutinho era boa e poderia ter sido brindada com melhor sorte. Rivelino, Zico, Roberto Dinamite, Nelinho, Leão, dentre outros, não fizeram feio. O futebol brasileiro conheceria seu primeiro campeão nacional vindo do interior: o Guarani de Campinas.
Por aqui, Ernesto Geisel preparava terreno para nomear seu sucessor, João Figueiredo, e a economia dava sinais de que colapsaria na sequência, com inflação ascendente e crescimento na direção contrária. Tempos longínquos, onde o estado paquidérmico brasileiro ditava os rumos aos 115 milhões de habitantes do país e elegia as empresas campeãs nacionais (longínquos?). Em Outubro daquele ano, o AI 5 foi revogado e o último general do regime assumia o comando da nação, para entregá-lo a um civil seis anos depois.
O Brasil era formalmente apresentado a um certo Lula, líder de grandes greves organizadas pelo movimento sindical no ABC. Quarenta anos depois, ele se tornaria mais um presidiário do sistema carcerário brasileiro.
Na TV, Sítio do Pica-pau amarelo e Vila Sésamo faziam sucesso entre a gurizada, que também era vidrada no programa Disneylândia, todo domingo à tarde na Globo, onde ‘Os trapalhões’ eram campeões de audiência (hoje certamente seriam banidos pelo politicamente correto). A discoteca fervia na batida dos ‘ Embalos de sábado à noite’, filme de maior sucesso daquele ano, protagonizado por John Travolta. A novela brasileira ‘Dancing days’ surfou essa onda.
No mundo, o primeiro ministro italiano Aldo Moro foi assassinado por terroristas comunistas da Brigada Vermelha, o polonês Karol Vojtyla assumia aquele que viria a ser o papado mais longevo da história recente, como João Paulo II (após o falecimento de dois pontífices em dois meses) e Jim Jones, que levou 900 pessoas ao suicídio coletivo na Guiana. Não faltavam histórias conturbadas.
1978: não parece que foi ontem, mas essas quatro décadas passaram depressa…




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