E SE O HORÁRIO ELEITORAL NA TV TIVESSE MOMENTOS DE SINCERIDADE?
- por Leonardo Sakamoto*
Adoraria que, durante suas
peças de publicidade do horário eleitoral, os candidatos à Presidência e aos
governos estaduais e distrital virassem para a câmera e dissessem o que estão
pensando. Por exemplo:
- É fascinante como as
pessoas acreditam em qualquer imagem besta que toque seu coração patético.
Poderíamos ter colocado fotos de cachorrinhos, mas seria desnecessário. O povo
se contenta com menos.
ou
- O povo é tão mal
instruído que não percebe que essa proposta é inexequível, quase um acinte. Mas
como números têm um poder sobrenatural sobre a massa, não questionam quando
eles aparecem. Dizem amém.
ou ainda
- Hiprocrisia não é eu
criticar o setor do meu maior doador de campanha. Hiprocrisia é muitos veículos
de comunicação não dizerem nada sobre isso. Talvez porque os maiores doadores
são também os maiores anunciantes da imprensa.
A campanha eleitoral
tornou-se um momento complicado para a discussão de temas públicos relevantes –
ao contrário do que a teoria afirma. É quando marqueteiros dobram a realidade,
procurando mexer com a emoção e não a razão dos eleitores. Qualquer tema que
seja visto com potencial de angariar ou tirar votos será tratado como um carro
novo em anúncio de TV. E vendido como tal. Ou seja, a verdade sobre o objeto em
questão é um mero detalhe.
Alguns candidatos e
partidos até marcam posições importantes. Mas com o domínio completo do
marketing sobre todas as outras esferas da política, tudo é controlado para dar
ao povo o que o povo quer.
Ou acha que quer.
Ou o que um grupo pequeno
quer que o povo continue achando que quer.
Por isso, não nego que, ao
assistir o horário eleitoral, imaginei que os candidatos se virassem para a
tela e tivessem o momento sincero. Quiçá:
- Cansou? Tá achando ruim?
Calma, está só começando…
*Sobre o autor
Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência
Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em
Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é
coordenador da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas
para Formas Contemporâneas de Escravidão.
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